segunda-feira, 19 de maio de 2014

Ética, reflexões para um novo século - primeira parte



 

Ética, reflexões para um novo século

 

Para pensar


Perante nós mesmo todos fingimos ser mais ingênuos do que somos: é deste modo que descansamos dos nossos semelhantes.
Friedrich Nietzche, (1)

Nada estimo mais, entre todas as coisas que não estão em meu poder, do que contrair uma aliança de amizade com homens que amem sinceramente a verdade.
Baruch de Spinoza, (2)

As novas opiniões são sempre suspeitas e geralmente opostas, por nenhum outro motivo além do fato de ainda não serem comuns.
John Locke, (3)

Um dos paradoxos dolorosos do nosso tempo reside no fato de serem os estúpidos os que têm a certeza, enquanto os que possuem imaginação e inteligência se debatem em dúvidas e indecisões.
Bertrand Russell,  (4)

A verdade neutra e essencial liberta do poder, não existe.
Cesar Candiotto, (5)

“Um problema da nossa época é que as pessoas não querem ser úteis, mas sim importantes”.
Winston Churchill,  (6)

Objetivo


O objetivo deste trabalho é expor nossa visão (absolutamente pessoal) ética e sugerir algum padrão moral a quem se interessar pelas nossas opiniões e pensamentos. Não é um trabalho de um profissional em Ciências Humanas ou Filosofia, mas o resultado de uma vida razoavelmente longa durante a qual inúmeras vezes fomos obrigados a tomar decisões vistas de forma positiva ou negativa (pessoalmente e por nossos críticos e observadores), dependendo de quem era afetado pelo que fazíamos.
Parece-nos que o saldo foi positivo, assim atrevemo-nos a escrever este livro na esperança de ser útil àqueles que respeitamos e amamos.
Para estimular reflexões é bom lembrar que nunca vimos alguém feliz com a notícia de que morreria em breve, exceto em casos extremos, talvez. Assim a saúde física e mental é essencial a uma existência compensadora e é importante querer viver a partir da harmonia pessoal e social. A vida cobra pesadamente os erros e excessos.
Mais ainda, sendo um trabalho que realizamos num período de decadência física e intelectual, podemos errar muito em nossas reflexões. É, contudo, um esforço para deixar algo de referência a todos que quiserem lembrar o que entendíamos por “ética” ao final da vida.
Agonizando podemos fraquejar e transmitir uma falsa visão de nossas crenças.
Escreveremos e revisaremos este livro até tivermos consciência de que o final de nossa vida será imediato, assim é uma obra perigosa, sempre merecendo dos leitores atenção para os vícios intelectuais dessa fase da vida.
E a Ética?
Tratando de ética estaremos falando de algo que nasceu do medo e respeito a um ser superior. Podemos existir sem esta crença?
Entendemos que compreender e aceitar a existência de Deus se existir, seja o que for, é algo absolutamente distante de nossa capacidade de raciocínio. As ilusões humanas partem para o mais difícil ainda, que seria o contato direto e cooptável. Infelizmente a imensa maioria da Humanidade acredita e aceita alguma divindade capaz de vinganças e paixões na lógica antropomórfica (um Deus com alguma característica humana, o que consideramos um absurdo) que serviu de base a nossas grandes religiões.
Merece uma pesquisa, algo até fácil diante dos meios de comunicação atuais, o que significa a palavra “religião” que tantos defendem e poucos sabem o que realmente esse verbete contém.
O que incomoda tremendamente é a hipocrisia da imensa maioria dos crentes. Pior ainda, a maioria ao bajular um ser superior sente-se livre para repetir crimes, “pecados”, vícios de toda espécie.
Ver gente rezando, orando, pagando promessas, batendo no peito e depois fazer coisas abomináveis é a prova suprema da falsidade reinante. Os pedidos de perdão acontecessem diariamente, poucas pessoas resistem a cometer os mesmos “pecados” ou piores. Isso é acreditar em Deus? Ser religioso?
A complexidade do Universo e a de uma simples bactéria são colossais.  Vamos explicar tudo isso imaginando um ser mais complexo, onipotente, onisciente, perfeito?
Deus é antes de tudo uma invenção humana; o ser humano não suporta a falta de explicações, sejam quais forem. Acreditamos que somos capazes de altíssimos raciocínios (e portanto conhecimentos), quando na vida real poucas pessoas são suficientemente inteligentes e dispostas a pensar com profundidade. O mistério da vida e até das coisas inanimadas distribuídas pelo Universo ultrapassa pretensões de estudiosos, menos daqueles que, ingenuamente, simploriamente acreditam que tudo se explica de acordo com alguma Bíblia.
Com certeza há muito a ser descoberto e muito mais que nunca será conhecido, em tempo algum.
A vida está aí e os desafios de existir exigem de todos nós máxima compreensão de quem somos e o que devemos ser, melhor ainda, o que pretendemos ser. Vale registrar que saber de si, querer entender o que somos e queremos é tema que remonta aos filósofos mais antigos. Para isso os grandes pensadores criaram métodos de análise bem expostos (5) e magistralmente idealizados. Com certeza na história futura outros serão desenvolvidos.
O que importa, o que precisamos para viver em harmonia?
A felicidade e o sucesso que nos gratificam dependem de nossas habilidades, desde que começamos a pensar, em descobrir os melhores caminhos para nossa satisfação e amor próprio.
Seria fácil se todos nós tivéssemos a genialidade de entender e dominar nossos instintos e comportamentos e pudéssemos saber detalhes de tudo o que a humanidade descobre e faz (7). Talvez muitas pessoas realmente tenham conquistado esse nível de conhecimento, vivendo em paz e harmonia com tudo e todos.
O drama existe quando insistimos na sinceridade pessoal e não admitimos mentiras, exigindo de nós a dúvida se qualquer detalhe carecer de explicações convincentes. Esse pesadelo saudável é essencial ao comportamento livre de fanatismos. Lideranças religiosas, políticas, militares etc. sempre partiram para o convencimento absoluto de suas vontades e de todos aqueles que pudessem cooptar. Assim as guerras, suplícios, submissões espúrias e maldosas se transformaram em padrão de dominação, algo que se transformou em ciência e negócios; nova forma de dominação: o consumismo e modismos mercantilizados.
Muito pode existir fora de nossa compreensão, ninguém, absolutamente ninguém é dono da verdade nem possui inteligência necessária e suficiente para construir certezas.
Não dominamos todas as ciências universais para podermos fazer afirmações absolutas. Isso percebemos estudando Física, por exemplo. Equações e leis naturais de senso comum vão se mostrando simplificações até grosseiras à medida que aprofundamos estudos e experiências, um processo que vai apresentando complexidades sucessivas, desafiando permanentemente nossa vontade de chegar ao conhecimento absoluto de qualquer fenômeno.
Durante a vida sentimos que somos ou não privilegiados; sofremos e nos regozijamos com muita coisa que pode ser efeito de nossas decisões, todas elas, contudo, causa e efeito de tudo o que acontece.
O que podemos e devemos, na nossa mais simples imaginação, é descobrir o que de dentro de nós sussurra e eventualmente grita, diz o que fazer (Pessoalmente sempre me arrependi de quando desprezei essa orientação).
Nunca poderemos fazer afirmações a partir de outros corpos e cérebros. Podem ser radicalmente diferentes do nosso conjunto e o são, e nós carecemos de amplitude para atingirmos sozinhos as “verdades” que afirmamos. Isso exige respeito pelas orientações diferentes daquelas em que acreditamos. Quem é dono da verdade?
Com certeza um líder sente-se obrigado a fazer a apologia de suas ideias e propostas. Infelizmente a operacionalidade do discurso de mobilização exige pessoas que tenham o dom da oratória, ou seja, saibam transgredir a honestidade intelectual.
A maioria das pessoas padece de preguiça intelectual, pensar incomoda...
Mais ainda, lembrando Michel Foucault, precisamos estar atentos ao que em relação ao passado chamaríamos Arqueologia do Saber (8), título de um livro fantástico desse gigantesco pensador universal. Em que nível de comunicação estamos?
Nada garante que o que denominamos azul seja igual para todos, assim como os sons, sabores, textura, imagens etc. com certeza são diferentes, pois treinamos permanentemente gostos e nossos sensores e softwares são afetados diariamente, degradados pela poluição e acidentes, fortalecidos pela educação.
Nossa preocupação, contudo, é registrar o que possa ser útil e faça daqueles que acreditarem em nossas opiniões e “teorias” pessoas felizes, de bem com a vida e ao final dela não se arrependam do que fizeram, ao contrário, tenham orgulho do que foram e esperança em outras oportunidades além da morte, se existirem.
Acima de tudo esperamos transmitir a beleza da dúvida, a inutilidade das convicções e o perigo do fanatismo e da indiferença em relação a uma vida sadia, prioritariamente racional e fraterna.


 

Introdução


Qualificar, classificar, optar, aceitar, viver em coletividade e trabalhar é um conjunto de ações que qualquer pessoa desde a mais humilde à maior das maiores é obrigada a exercer para poder sobreviver, simplesmente. Mais ainda, dependendo do momento e das exigências ambientais a questão moral e a ética serão diferentes, merecendo do indivíduo uma avaliação própria.
Não existe panaceia.
Os figurinos estão aí, seus criadores naturalmente os defendem com vigor, mas a realidade supera as simplificações. Viver, sobreviver e vencer exige de cada ser pensante e atuante flexibilidade de estilos e capacidade de discernimento em função dos cenários em que estiver.
Assim como a Humanidade evolui ou simplesmente se transforma, nós também mudamos ao longo da vida.
Muitas religiões introduziram conceitos de culpa e penitência que tornam as pessoas crentes inseguras e infelizes. Criaram situações e comportamentos para dominação de seus rebanhos. Os massacres por motivação religiosa são a pura consequência do medo de desagradar ao(s) Deus(es) e uma forma de bajulá-lo(s) assim como a necessidade compulsiva dos donos da verdade em imporem suas vontades.
Se as religiões criaram fundamentalistas, as ideologias políticas o fizeram tanto ou mais, pois com elas estavam interesses de classes, de elites, dos donos do Poder. É normal lembrar os tempos passados como sendo idílicos, algo que certamente é fruto da mais absoluta ignorância sobre a História da Humanidade. Provavelmente estejamos num período até superior a todos que existiram, apesar de nações inteiras ainda se digladiarem de forma absurda e imoral.
Qualificar pessoas é um processo extremamente grave, ainda que necessário e permanente. Dependemos de classificações quando estamos na multidão externa a elites restritas e suficientemente poderosas para inibir contestações fora de seus aquários. Qualquer família que já passou por dificuldades de sobrevivência sabe quanto é perigoso um descuido ou um erro que seja notado por outras pessoas poderosas.
Vivemos uma fase de ativismo social e político. De modo geral os cidadãos comuns não lutam a favor de propostas além de seus interesses reais. Os processos coletivos pouco mais são que manifestações de torcidas organizadas, exceto quando os abusos das elites ultrapassam certos limites difusos, mas felizmente existentes. A dominação das classes dominantes tem um recurso que é inatingível pela gente humilde, a propaganda intensiva de suas ideias.
Um agravante nesse processo de convencimento é a mídia religiosa, sempre proclamando a necessidade de sacrifícios e penitências e que os bons terão benefícios após a morte ou ainda em vida por vontade divina. Constroem templos e esquecem a própria casa.
Seja qual for nossa saúde física e/ou mental temos fragilidades tão grandes quanto podemos ser fortes. Somos gigantes quando dominamos nossos vícios debilitantes. Crescemos ao impor aos nossos instintos padrões de comportamentos saudáveis. Em tese existe dentro de nós, qualquer um, os piores e melhores instintos.
O dilema é: que modelos vestir?
As religiões e ideologias trazem figurinos completos. É só aceitar, acreditando ou não. Como qualquer roupa o que vestimos prende, atrapalha movimentos de maior liberdade, mas protege do frio, evita contaminações perigosas, identifica e aproxima pessoas. Pode também causar doenças e abrigar micróbios. As grandes pragas de nossa história vieram por aí, mais ainda quando nenhum conceito de higiene intelectual e material eram valorizados. Ao contrário, em períodos obscuros de certos povos a sujeira corporal era considerada piedade religiosa, quando a questão sexual, espertamente explorada pelos pregadores, assustava qualquer pessoa (9) e o fanatismo condenava (e condena) a suplícios impressionantes.
Exemplo: (9) em Considerações Finais:
A sexualidade, portanto, sempre exerceu fascínio sobre o cristianismo, que não cansou de comentá-la, discuti-la, normatizá-la, proibi-la e excitá-la. A Igreja cristã, mais especificamente a Igreja católica, produziu tratados com o propósito de convencer as mulheres a evitar o casamento e dedicar-se à castidade bem como redigiu documentos destinados a ensinar os monges a proteger-se dos desejos que ameaçavam a santidade da alma. Nos primeiros séculos da era cristã, o clero católico procurou combater o matrimônio, instituição laica e privada, recorrente entre os membros da aristocracia romana. Diante de sua permanência, a Igreja promoveu, com certa reticência, a sacramentalização do casamento, autorizando-se, desse modo, a penetrar no quarto do casal, vasculhar sua intimidade e estabelecer os limites entre o permitido e o proibido no âmbito da sexualidade. Homens que, em tese, se privavam de viver a própria sexualidade ficaram responsáveis por orientar a vida sexual de fiéis que não sabiam o que fazer com os próprios desejos e temiam suas manifestações. Tornar o matrimônio uma instituição pública e sagrada permitiu ao clero romano consolidar seu poder político e ampliar sua intervenção na vida íntima dos fiéis. O que pode gerar mais poder a uma instituição do que a capacidade de controlar a intimidade das pessoas e ter acesso a seus segredos?
A Igreja desenvolveu tecnologias de extração da verdade de si, como a prática da confissão, para descobrir o que cada sujeito esconde de sua sexualidade e, dessa forma, aumentar seu poder sobre os corpos dos fiéis. O clero estava interessado em conhecer a vida íntima dos cristãos para melhor controlá-la e aperfeiçoar os códigos de regulamentação dos desejos e da atividade sexual. As técnicas de interrogatório e os procedimentos confessionais possibilitavam a revelação de verdades secretas, desconhecidas do próprio sujeito. O dispositivo da confissão determinava que o verdadeiro cristão deveria “despir” a sexualidade diante do confessor que observava tudo com atenção e interesse. A pastoral católica inaugura a prática da exposição da vida sexual, sem pudores e inibição.
Além da ciência, o protestantismo e logo em seguida o pentecostalismo aprimoraram as técnicas de vigilância e observação da sexualidade, desenvolvidas pelo catolicismo medieval. Segundo Weber (2004), a Reforma Protestante produziu uma forma de dominação e regulamentação da vida privada que se fazia sentir mais fortemente entre os fiéis, pois penetrava de fato nos espaços secretos da intimidade. A sexualidade tornou-se ainda mais central do que já era. Nas Igrejas protestantes e pentecostais, tudo gira em torno dos desejos e prazeres sexuais dos fiéis. As pregações, os documentos teológicos, as orientações doutrinárias e os códigos de conduta fazem constante referência à vida sexual. É preciso vigiá-la, observá-la e confessá-la para não perdê-la de vista. Os seus rastros devem ser seguidos. Nas cerimônias religiosas, ela aparece para ser simultaneamente cultuada e combatida. Desde suas origens, o cristianismo continua preservando o espaço da sexualidade em seus cultos, como se dela dependesse para permanecer vivo.
A história da sexualidade ocidental, narrada sucintamente nesse artigo, permite-nos constatar que o cristianismo sempre se incomodou com a sexualidade, intensificando gradativamente seu sistema de controle para mantê-la sob a tutela e orientação da Igreja. Líderes eclesiásticos promoveram a disciplina do corpo, a regulamentação do prazer, a normatização do desejo e o estímulo à exposição da intimidade sexual por meio dos procedimentos confessionais. Por intermédio das confissões, o clero adquiriu um tipo específico de saber que ampliou o poder de dominação e controle da Igreja. As estratégias eclesiásticas consistiam em utilizar o saber obtido nas práticas confessionais para dominar o corpo e o desejo dos fiéis, tornando-o dócil e obediente, com o propósito de consolidar a autoridade moral e o poder político da Igreja cristã.

Aceitar algum código de ética, admitir padrões morais e viver de acordo com a vontade de alguma tribo pode salvar e fazer muita gente feliz assim como aterrorizar os mais sensíveis.
Os males da Idade Média persistem em países que resistem em aceitar a igualdade perante leis gerais que a ONU (10) num período de valorização do ser humano criou; até quando essas orientações serão mantidas? Graças a esse período de inspiração a proposta de Direitos Humanos ganhou consistência, mas não universalidade, infelizmente. Note-se que a as leis universais são expostas a votações de delegados de países filiados, podendo ser alteradas quando a relação de forças o determinar. Caminhamos num bom sentido ou outras teses levarão ao esquecimento do ser humano?
É importante transcrever o que isso significa, a Wikipédia da um bom resumo:
Os direitos humanos são os direitos e liberdades básicos de todos os seres humanos. São : a) direitos civis e políticos (exemplos: direitos à vida, à propriedade, liberdades de pensamento, de expressão, de crença, igualdade formal, ou seja, de todos perante a lei, direitos à nacionalidade, de participar do governo do seu Estado, podendo votar e ser votado, entre outros, fundamentados no valor liberdade); b) direitos econômicos, sociais e culturais (exemplos: direitos ao trabalho, à educação, à saúde, à previdência social, à moradia, à distribuição de renda, entre outros, fundamentados no valor igualdade de oportunidades); c) direitos difusos e coletivos (exemplos: direito à paz, direito ao progresso, autodeterminação dos povos, direito ambiental, direitos do consumidor, inclusão digital, entre outros, fundamentados no valor fraternidade).
“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.”
— Artigo 1º Declaração Universal dos Direitos do Homem
As ideias de direitos humanos tem origem no conceito filosófico de direitos naturais que seriam atribuídos por Deus;  alguns sustentam que não haveria nenhuma diferença entre os direitos humanos e os direitos naturais e veem na distinta nomenclatura etiquetas para uma mesma ideia. Outros argumentam ser necessário manter termos separados para eliminar a associação com características normalmente relacionadas com os direitos naturais, sendo John Locke[1] talvez o mais importante filósofo a desenvolver esta teoria.

E no Brasil? (Pergunta que será aplicada diversas vezes ao longo deste livro de forma explícita ou não)
O Dr. Dráuzio Varella descreve a sorte de pessoas menos poderosas que contrariaram convenções. Seus livros são uma lição para quem, sendo mais jovem, pode optar. Outros mais atentos à vida dos poderosos devem estar avaliando os réus do “Mensalão”, por exemplo, assim como dos escândalos que vão do Metrô Paulistano a golpes contra o BNDES, convencendo-se, quem sabe, a procurar de qualquer jeito estar entre os caciques da nação... O tratamento aos cortesãos é outro bem diferente daqueles que estão na planície. Ou seja, agravando a lógica dos julgamentos encontramos situações muito diferentes em função dos poderes adquiridos.
É importante pensar, contudo, se simplesmente não estamos vingando nossa mediocridade ao saborear a agonia de pessoas que conquistaram projeção nacional (11).
O Brasil tem exemplos atuais inacreditáveis para quem não o conhece. Os escândalos se sucedem graças a uma dinâmica moderna de vigilância e à liberdade de comunicação.
Aqueles que não forem brasileiros poderão entender o que pretendemos dizer com os filmes e livros (12), (13) e (14), entre outros, da história da economia mundial no século 20 e já agora, século 21; cenários e histórias reais e romanceadas de uma realidade internacional assustadora até para o ex-presidente do Banco Central dos EUA (15).
Economia, culturas e poderes são a marca da organização humana. O nosso desafio é entender o que aconteceu e imaginar fórmulas de sobrevivência com dignidade, realistas, aplicáveis a nossos descendentes.
Não podemos ignorar, contudo, que a cultura universal se transforma e em cada momento veremos o resultado dos discursos, conhecimentos, hábitos e poderes existentes (8).
Michel Foucault demonstrou, estudou e teve suas análises publicadas em muitos trabalhos que merecem leitura (ou audição e visão – youtube, filmes, quem sabe no cinema em algum dia) e aprofundamento intelectual (16), preocupado com interpretações éticas e morais feitas a distância, longe dos caprichos da inteligência humana e seus preconceitos. Sua determinação em viver de forma presencial situações marcantes de sua época, analisando incidentes e processos extraordinários com padrões jornalísticos e filosóficos, ilustra um método de estudo importantíssimo, muito longe do academicismo e das convicções de filósofos universalistas, revolucionários de escrivaninha. Hannah Arendt, inúmeras vezes destacou em seus livros as diferenças entre o consenso universal e a realidade, algo que lhe custou caro após o livro (17)[2]·. Ela viveu o pesadelo de expressar suas crenças, algo semelhante ao que aconteceu a inúmeros pensadores de imenso valor para a Humanidade.
De qualquer forma, por mais inteligente que o profeta, sábio, professor, filósofo ou ideólogo seja, a certeza absoluta que possam ter de suas propostas é algo perigoso, prejudicial à racionalidade e à otimização da vida humana[3].
O inacreditável em pleno século 21 é sentir que muitos analistas querem que a natureza humana siga um figurino para o qual têm as medidas certas.
O “homo sapiens sapiens” é incrivelmente complexo e com alternativas infinitas de composição de seus elementos criadores; cada pessoa é singular, única. Justiça? Julgamentos? Em tudo sempre devemos separar a necessidade de regulamentação e disciplinamento da convivência e da aplicação de conceitos “universais”; até onde são válidos?
Ou seja, sempre que qualificamos alguém devemos ter capacidade de alteridade[4] (18) e visão holística[5] do que somos eventualmente obrigados a fazer, dizer e até agir de forma radical, quando necessário. Com certeza não é uma postura conveniente a quem manda em qualquer espécie de sociedade atual. Isso Frei Beto explana com muita propriedade em (19) e em outros trabalhos sobre o jogo do poder e seus efeitos sobre o comportamento humano.
Atenção a comportamentos éticos em cada momento da História não é capricho, é algo útil e fundamental ao indivíduo; Esse primata bípede da espécie homo é um animal que não tem (agora) proteções naturais suficientes para viver instintivamente nas cidades sem grandes sistemas corporativos de segurança; precisa aprender, por bem ou até violentamente, que depende da submissão a códigos morais e éticos para sobreviver em grandes comunidades, ainda que não perfeitos, sublimes. Para isso leis, decretos, normas, códigos e sistemas de intimidação e isolamento existem e estão em permanente transformação para disciplinar bilhões de pessoas.
A qualidade da submissão a códigos de ética e os próprios códigos dependem da cultura, do grau de instrução e da educação formal do indivíduo, algo que se transforma permanentemente.
É importante notar que os legisladores podem introduzir constituições completas, mas inúteis se os povos não as entenderem. Da Revolução Francesa aos processos de “redemocratização” da América Latina [ (20), (21) etc.] encontramos exemplos concretos da ineficácia e até dos riscos de saltos muito grandes.
Religiões são a base da ética popular e até de grandes lideranças poderosas. Elas existem sobre estruturas consensuais ou não, mas seus profissionais, convencidos de suas pregações, são extremamente eficazes no convencimento de seus seguidores. A retórica, algo analisado em muitos livros de grandes pensadores, é arma perigosa que pessoas engajadas em qualquer coisa usam para convencer, muitas vezes desprezando qualquer argumentação honesta.
Se o ser humano pudesse realmente entender e utilizar a Ciência em sintonia com verdades absolutas (pelo menos neste convencimento) certamente teríamos orientações seguras dentro do que denominamos “ética”. A fragilidade de nossos comportamentos e conhecimentos, contudo, estimula dúvidas e ajustes assim como adoção de conjuntos de leis, regras, preceitos e doutrinas pré-fabricadas, inclusive religiões e ideologias.
 Temos desde leis universais até pessoais, familiares. Todos nós construímos mesmo sem perceber uma coleção de regras, códigos, padrões morais, etc. e adotamos religiões, estruturas filosóficas e similares.
E nós diante de tudo isso?
A insignificância do “homo sapiens sapiens” é uma realidade que só cresce à medida que o conhecimento humano avança. No passado nossos ancestrais podiam ser arrogantes, era fácil ter certeza de alguma coisa, tudo parecia simples.
Civilizações foram nascendo sobre o conceito antropomórfico da figura e comportamento do que denominaram “Deus”. Era fácil e instintivo pensar assim, como o é e será sempre para a maioria absoluta das mulheres e dos homens.
As certezas são proporcionais ao grau de ignorância do ser aparentemente pensante ou mal orientado. Basta uma noite olhando o firmamento celeste ou procurando com alguma lupa detalhes de uma simples flor para percebermos que nada ou muito pouco sabemos e entendemos. Nossas dúvidas naturalmente se ampliam e se afastam de receitas prontas, remédios genéricos e médicos importados. É o ônus da inteligência e da cultura científica.
O que se percebe, contudo, é a disposição para a alienação; é fácil delegar a terceiros as dúvidas existenciais. Sobreviver com luxos exige dedicação, muito trabalho, redução máxima para a introspecção e leniência diante dos poderosos.
Na sociedade moderna, compulsivamente lúdica e consumista, o tempo para pensar é escasso. A mídia a serviço de grupos de executivos, líderes corporativos etc. usa e abusa do poder de convencimento que esmaga a inteligência humana.
Estar obsessivamente “conectado” com o mundo é o câncer que mata a capacidade de pensar. Esquece-se a inteligência, opta-se pelos instintos oportunistas e a compulsão de ser, estar e pertencer já que é muito difícil mandar e liderar. É analgésico esquecer tudo e simplesmente saborear a vida de forma natural, aproveitando e usando o potencial da Ciência e da Tecnologia para existir de acordo com o mais íntimo e impublicável de nossos instintos.
Com certeza nascemos diferentes e crescemos acentuando qualidades singulares. Essa situação contemplativa e maravilhosa que temos pela Natureza de nossa existência torna a sociedade humana algo fantástico, quando ela se desliga de instintos selvagens. Infelizmente passamos milhões de anos lutando de forma violentíssima para sobreviver se considerarmos que só existimos quando de acordo com os cientistas ganhamos algumas habilidades que definiram como o que é o ser humano.
Talvez tenhamos superado as imposições das florestas e savanas perigosas e permanentemente desafiadoras.
Talvez por desonestidade intelectual ou ignorância muitos expoentes do pensamento humano promoveram paraísos (e infernos) na Terra e no Céu. Com certeza só não aceitando o que significa viver como animal entre animais e até insetos e micróbios acreditaremos que devamos desprezar radicalmente a violência se tivermos capacidade de defesa pacífica.
O desafio é disciplinar as necessidades e os sentimentos para máximo distanciamento de nossa animalidade, se a bondade é realmente um fim possível, necessário, nobre e justo para os humanos.
Isso não significa o abandono radical de nossos instintos, eles são úteis e podem ser necessários em ambientes selvagens assim como na rotina diária, onde o amor sexual é uma das compensações maravilhosas dessa realidade. No relacionamento sexual o instinto é essencial e parte da beleza do acasalamento.
O amor estimula e precisa de nossos hormônios e eles são também importantíssimos quando estamos entre seres perigosos.
Os relatos da vida em presídios (22) e em lugares onde criminosos mandam demonstra a importância de saber se defender em condições extremas, quando palavras e atitudes santificadas têm pouco valor.
Vivemos em cidades gradativamente hostis. Nelas, por maior que seja a disposição para a “não violência” ficamos à mercê de pessoas agressivas e sob efeito de drogas, enlouquecidas e mal educadas. Não tendo capacidade de reação seremos reféns de tudo o que se arma contra nós. Mais indefesos ainda no Brasil onde o povo foi desarmado, exceto em ginásios e academias “esportivas” onde as artes marciais preparam atletas para matar sem armas de fogo, facas e estiletes.
Nossa sociedade improvisadora e cheia de boas intenções está inviabilizando a vida civilizada.



A fragilidade do ser humano

 

De modo geral a sociedade está organizada e regulada partindo de princípios de autonomia e livre arbítrio.
Somos tão poderosos assim?
A análise do comportamento de nações tidas como desenvolvidas e cultas demonstra a nossa incapacidade de fugir de processos educacionais dirigidos para qualquer sentido. Os exemplos são assustadores. No último século nações inteiras patrocinaram processos de genocídio absurdos, algumas vezes sob alegações socialistas. Outros povos, secularmente crentes de serem superiores aos demais, usaram o poder de seus exércitos para a realização de massacres abomináveis.
O Nazismo foi o ápice da mediocridade de uma classe média que se acreditava ter direitos abomináveis. A estupidez nas décadas de trinta e quarenta do século passado é uma advertência do que significa a crença em valores fantasiosos e egoístas.
A que devemos tantos riscos e perversões, assim como valores infinitamente sublimes que muitas pessoas demonstram possuir?
Observando lobos que vivem em matilhas, por exemplo, percebemos a hierarquização pela força e a exclusão de outros bandos. São selvagens com alguma organização familiar e social. Seríamos isso?
Além do que poderíamos definir como resultado de nossos instintos e anseios, nosso corpo é uma montagem que contém elementos perigosos e fascinantes. Somos um tremendo computador com sensores, servomecanismos, unidades de lógica, processadores polidimensionais e extremamente compactos ocupando segmentos de nosso cérebro, sistema operacional, aplicativos hereditários, sistemas de comunicação, de refrigeração, energia etc., tudo organizado de forma infinitamente complexa e ao mesmo tempo tão simples como só a Natureza é capaz de produzir.
Dentro de nós temos glândulas[6] que mudam os parâmetros de muitas equações de decisão assim como até o DNA contém elementos que formam o relógio de cada um, definindo fases de nossas vidas com determinação previsível, além, é claro, sua composição minuciosa.
Cada ser humano é o produto de origens materiais, culturais, ambientais etc.
Onde podemos mudar algo?
O universo matemático pode ser dividido entre o espaço determinístico e o probabilístico; de alguma forma criamos estímulos até pequeníssimos que fazem nos optar por um ou outro caminho.
Pessoalmente acredito também que alguma espécie de espírito pode nos apoiar, assim vivi sentindo a influência, de meu pai, imagino. Minhas decisões durante décadas tinham momentos de inspiração inacreditáveis, algo que simplesmente não posso desprezar.
Ou seja, dentro do mundo que conhecemos e imersos na complexidade do Universo estamos infinitamente longe de explicar tudo o que nos acontece.
De qualquer jeito temos o direito de simplificar e explicar, acreditar em alguma coisa que entendamos como soberana em nossas vidas.
Falamos em glândulas e em períodos de existência. Cada um é um conjunto de composições singulares. E daí?
Nascemos absolutamente egoístas, dependentes. Não fosse assim a sobrevivência da Humanidade estaria em risco, se é que ela ainda existisse.
É importante lembrar isso. O altruísmo depende principalmente da educação que recebemos. O egoísmo deixa-nos dependentes de vaidades, vícios e necessidades que diminuem à medida que esquecemos nossos problemas e nos fixamos em ajudar outras pessoas, ou seja, aprendemos a amar o próximo. A infelicidade é flagrante entre pessoas egocêntricas, sempre apavoradas com a morte, a perda de qualquer coisa, querendo sempre mais para si, nunca estando satisfeitas.
O egoísmo também pode ser o resultado de patologias[7]. Merece leitura atenta o verbete (23) assim como os livros de Michel Foucault, com destaque para (24).
Isso tudo demonstra a importância da família, da Educação, da Liberdade onde a aleatoriedade pode evitar a tirania dos tiranos, santos e pregadores.
No Brasil passamos por momentos absurdos de dominação de grupos de fanáticos à direita e à esquerda. Nas ditaduras militares e ideológicas, desde os tempos de Deodoro, Vargas e mais tarde com os militares que consideravam o Almanaque do Exército o único documento de escolha de presidentes sofremos processos de lavagem cerebral terríveis.
Agora estamos, principalmente, sob o império da mídia[8] comercial. Alegando liberdade de imprensa mentem, promovem vilanias, estimulam comportamentos doentios a serviço de patrocinadores alheios às necessidades mais sadias de nosso povo. Com certeza isso é um instrumento de dominação de grupos econômicos e financeiros que se sobrepõem na pirâmide de dominação da Humanidade.
Confunde-se liberdade de imprensa com liberdade de opinião, algo proibido à maioria dos jornalistas, devidamente monitorados pelas equipes de editoria. Sistemas comerciais de comunicação são caros e dependem do poder da mídia para sobreviverem, enquanto os sistemas estatais são implicitamente censurados...
A verdade é uma hipótese sempre que a procuramos.
Felizmente temos as redes sociais e a universalização da informação. O Mundo WEB desmonta até as ditaduras mais ferozes. A aleatoriedade e a acessibilidade quase universal a sistemas modernos de comunicação via telefonia e internet está furando bloqueios seculares.
Sobre a mídia merecem leitura leitura (25) e (26) fora outros clássicos mostrando como as “verdades” são produzidas.
Ainda estamos num planeta ética e culturalmente subdesenvolvido. São muitos os lugares da Terra em que o fundamentalismo religioso, político e até esportivo criam cenários de terror.
A fragilidade do ser humano está mais do que evidente num mundo em que o desenvolvimento do conhecimento técnico e científico adianta-se velozmente da inteligência e capacidade de assimilação sadia das ciências humanas.
Poderá vir da própria Ciência a fórmula de melhor aproveitamento do conhecimento humano universal. Talvez tenhamos recursos para aceleração do cérebro que não sejam tão prejudiciais quanto as drogas existentes.
Precisamos de tudo e de todos para superar nossas limitações.



Esse livro


Quero escrever e expressar com o máximo de sinceridade o que penso até o momento de encerrar este livro.
É, contudo, fundamental ter em mente a nossa incapacidade de percepção plena de nossa vida e do Universo. Sempre falamos e escrevemos com o que somos capazes de ver e entender, ou assim imaginamos que o seja.
A própria visão é uma ilusão. Entre qualquer objeto líquido ou sólido existem gases e processos energéticos (ondas, corpúsculos) que não captamos. As cores são uma convenção cerebral, assim como o cheiro, o paladar, a audição e até o tato. Nosso corpo é um conjunto de sensores, servomecanismos, emissores químicos e elétricos que junto ao que denominamos de cérebro mais softwares, sistema operacional etc. e arquivos viabilizam o que somos.
Filósofos deram outras explicações, mas na realidade somos máquinas bem elaboradas e hipercomplexas.
Incorro no erro e riscos do meu primeiro livro (27), quando o que escrevi foi sincero e cheio de “boas intenções”, mas os erros de redação e impressão infelizmente mataram o trabalho. Sua publicação aconteceu em pleno período de uma grave doença em meus olhos...
O fantástico em relação a esse livro (27) foi o momento em que minha esposa entrou em meu escritório; naquele instante tinha o primeiro exemplar para me apresentar e eu a idade que meu pai tinha (o número de anos, meses e dias que meu pai vivera até o dia de sua morte material) ao falecer. Digo morte material, pois tenho inúmeros incidentes em que a presença dele e sua orientação devem ter acontecido (ou algo muito mais improvável) após o 27 de novembro de 1966.
Na condição de engenheiro eletricista raspei a morte por acidente e a morte profissional e sentimental por diversas vezes; inexplicavelmente tomei a decisão certa no último instante, algo feito com convicção e sem qualquer outra explicação, exceto aquelas metafísicas tão comuns aos espíritas.
Minha mãe era mulher lindíssima, extremamente trabalhadora, uma artista com uma voz excepcional, apaixonada por tudo quanto fosse belo. Com certeza seria romântica radical se meu pai não fosse tão materialista. Infelizmente, como já disse, aprendeu a ser dura e radical com os filhos. Dela guardo lembranças, de meu pai uma tremenda lição de vida e uma convivência espiritual altamente positiva que só o filho mais velho tem o privilégio de contar.
No espaço blumenauense de grandes contradições eu, minha irmã Sônia Maria e o Pedrinho (Pedro Filho) nascemos e crescemos, cada uma seguindo seu caminho, escalando montanhas, caindo e se levantando sem desistir de viver.
Destaco meu pai pelo senso de responsabilidade e disciplina que assumiu após seu casamento com a minha mãe, Chiquinha (Francisca). Era um indivíduo livre, optou pela jovem Francisca e a família que construiu.
O respeito e o amor sem exibicionismo de meu pai por seus filhos, esposa, parentes e amigos e amigas era uma característica que marcava sua personalidade profundamente, a quem o conhecesse bem.
Minha atual família em sua origem era espartana, nasceu e cresceu com imensas dificuldades; casamos e geramos nossos filhos;  vencemos (eu, minha esposa e filhos) superando situações extremamente difíceis.
Nesse sentido o livro (8) é perfeito. Lamentavelmente quem ler, espero que todos aqueles que amo e admiro o façam, estará também afetado pela por suas limitações e compulsões, mas é sempre na esperança do entendimento pleno que nos expressamos quando queremos educar. Ou seja, dentro do cenário da época tivemos o que de melhor nossos pais puderam dar. Seria fantástico ler e estudar algum livro semelhante ao Arqueologia do Saber, tratando da Arqueologia da Educação Familiar. É normal os filhos reagirem aos pais, nem sempre com sucesso.
O que Michel Foucault teria a ver com minha família?
O culto à verdade, o apego à honestidade, a vontade de ser responsável.
Meu pai era um missionário de filosofia e lógicas sensatas.
À semelhança dos pregadores mais conscientes, exercia a sinceridade com seu filho mais velho. Que momentos fantásticos tive conversando com ele...
E agora?
Envelhecendo e aprendendo muito dia a dia, estudando muito, afinal sou apaixonado por História, Sociologia e Filosofia, tenho algumas convicções que podem estar erradas, mas, infelizmente, pouco vi que contrarie o que estou escrevendo.
O ser humano era extremamente cruel e violento, se comparado ao atual em nosso mundinho. Vivia pouco, sua vida era dominada por vaidades, medos, rituais, convicções e disposição para matar, se necessário, por muito pouco. Essa cultura persiste em muitos lugares até em nossa terra, é fácil de perceber isto. A Selvageria fortuita obriga-nos a recomendar cuidados e distanciamentos de pessoas potencialmente perigosas.
A esperança com certeza é a Humanidade viver mais e mais com saúde mental. Superar a fase de império dos hormônios é fundamental à leveza de pensamento e condições de ver algo mais do que simplesmente a beleza ou sentimentos de alguém que nos atraia.
Paradoxalmente o amor verdadeiro pelo ser humano em geral depende desse desprendimento, pois o sexo gera competição, desafios, mentiras e fantasias que ajudam muito pouco a pensar.
Com certeza o amor que se desenvolve após a fase mais agressiva do acasalamento é talvez mais terno e real. Aí, mais uma vez, percebemos entre pessoas em geral que a tolerância substitui o amor, algo muito ruim.
O desafio é aprender a viver, a ser, ter e amar.
Com certeza o amor é essencial à felicidade, e deve ser cultivado, sustentado, estejam as pessoas em que condição estiverem.
Criar bons relacionamentos e saber viver é uma arte divina. Assim o desafio deste livro é procurar transmitir conselhos e informações que ajudem a viver de maneira saudável e gratificante.
Nada pior do que o arrependimento e as boas oportunidades não costumam se repetir.


Responsabilidade, paixões e família


Ao longo da vida passamos por diversas etapas que começam da total dependência dos pais e terminam, se vivermos o suficiente, precisando dos filhos para tudo. A família marca nossos passos e é um equívoco desprezar esse relacionamento.
Com certeza carregamos glândulas e instintos que trazemos de tempos imemoriais quando os seres humanos pouco sabiam da causalidade do relacionamento sexual e provavelmente o afeto recíproco era secundário diante da necessidade de lutar pela própria sobrevivência.
À medida que evoluímos ganhamos consciência da unidade básica de nossa sociedade mais desenvolvida, a família.
Sistemas totalitários recentes procuraram minimizar a importância da família e atualmente as empresas televisivas (concessionárias), principalmente, procuram enfraquecer a importância dos pais.
Aliás, a liberdade de demolir a família é algo que merece atenção dos nossos legisladores. Empresas que existem aproveitando concessões oriundas dos representantes do povo e lambuzadas com o dinheiro do contribuinte deveriam ser mais cuidadosas com suas programações. Os televisores, principalmente, são janelas permissivas e fora do controle familiar.
Não devemos confundir a liberdade de expressão de convicções com a exploração comercial das taras humanas.
As crianças e os jovens são um tremendo mercado consumidor que os patrocinadores da mídia comercial disputam ferozmente, na esperança de que elas imponham a seus responsáveis caprichos e consumos ao gosto e critério da indústria.
Vemos reportagens e programas absurdos, quando menos querendo generalizar hábitos, credos, vícios e compromissos de cidades formadas com padrões muito diferentes daqueles em que nascemos e crescemos. O Brasil tem dimensões continentais, faz sentido adotarmos figurinos paulistas ou cariocas?
O pesadelo dos pais é imenso.
Como convencer os filhos e filhas a serem responsáveis, a gastarem o tempo necessário e, pelo menos, suficiente ao aprendizado social, político e profissional a partir de fontes seguras, saudáveis?
Um exemplo atroz é a mídia esportiva. A duração e o aluguel (patrocinadores) dos programas esportivos demonstram a conveniência que os responsáveis pelas concessões de emissoras de televisão faturam. Ganham até quando a serviço da Democracia (apesar de serem concessionárias), agora, diante do decreto (28) que permite o desconto de débitos do Imposto de Renda (BRASIL) do horário político não negociado, possivelmente em valor cheio de televisão em rede nacional em programas de partidos eleitorais elas, as concessionárias de rádio e TV, têm outra fonte de receita considerável. Quanto mais partidos melhor... Usando e abusando de seus privilégios enriquecem seus donos e mandam no Brasil.
O que se pode constatar, contudo, é a perversidade monumental de programas e propostas via emissoras de TV, até quando?
Ou seja, a família perde espaço para “educadores” mercenários e irresponsáveis, para não dizer: criminosos.
Viver é vencer etapas, primeiro inconscientemente, depois, se a pessoa tiver respeito por si própria e sua família, a construção e manutenção de uma vida pessoal, profissional e social adequada à felicidade e saúde daqueles que a formarem e de seus descendentes, prioritariamente.
Com certeza as pressões centrípetas[9] são enormes. Serão mais fortes nos dois extremos da escala social. Na extrema pobreza e em famílias que se dispersam sem condições de cuidar de seus filhos é quase impossível manter um ambiente saudável, ou melhor, é impossível. O resultado é trágico. Crianças soltas no meio de ambientes insalubres perdem a oportunidade de crescer de forma segura.
Na puberdade e até antes, percebendo a discriminação social, começam a ser brutalmente lesionadas psicologicamente. Ao contrário de tempos antigos quando a definição rígida de classes sociais por outros motivos e na ignorância do luxo e prazeres dos mais ricos a miséria era razoavelmente aceita, atualmente as telinhas das TVs mostram ao vivo e a cores o que significa ser rico, muito rico. O estímulo a ambições impossíveis e à criminalidade é simples decorrência dessa visibilidade ofensiva dos luxos e vícios de elites podres. O resultado é a demanda por mais e mais penitenciárias e policiamento. Gradativamente os ricos se cercam de guardas e muros, invertendo a condição de prisioneiros.
Mais ainda, os mais ricos deixam seus filhos por conta de empregados e empregadas. Quem educa as crianças?
Assim o ideal seria que todos sem exceção pudessem e cuidassem com carinho de seus descendentes. Com certeza os ganhos sociais seriam enormes.
Em termos éticos as famílias perdem espaço para a mídia comercial e as crianças se transformam em chorume[10] desse lixo que é a programação em horário nobre das emissoras de televisão.
Lembrando o poder político conquistado graças à manipulação de reportagens e o interesse mórbido pela propaganda via telinha de televisores podemos quase esquecer a possibilidade de mudanças a curto e médio prazo.
Códigos de ética?
Vimos momentos em que a mídia pensou em códigos de ética. Talvez sentindo o efeito de seus “códigos” no faturamento e riqueza dos concessionários descubramos que a ética do dinheiro é soberana, foi mais forte.
E as famílias? Os seres humanos que a formam?
O desafio do século 21 será usar tudo que existe para fortalecer as unidades básicas da sociedade de forma sadia e dando a seus responsáveis condições de educar e proteger seus componentes.
Somando as influências deletérias de processos de deseducação, os efeitos da mídia se agravam com as gangues criminosas e dominadoras em torno do comércio de drogas.
É extremamente importante educar para a sobrevivência e o sucesso com dignidade.
Se as crianças são afetadas pela má propaganda, os pais não são menos vulneráveis, até por que eles estão no pleno uso de instintos sexuais, acima de tudo, num ambiente social em que sair devidamente vestidos para chamar a atenção do sexo oposto é a regra implícita na moda.
Não devemos regredir a proteções e exclusões primitivas, mas devemos estar atentos ao que significa ser alvo e agente de ações de conquistas de terceiros, aleatórias, perigosas.
O casamento é uma formalidade, um ato de compromisso que as religiões faturam.
O nascimento de filhos, contudo, transcende tudo e cria obrigações extremamente importantes.
Naturalmente existem casais mal formados, impossíveis. Se neles a geração de filhos aconteceu, é uma lástima. Existindo irão precisar de cuidados especiais.
Ser pai ou mãe é uma condição de compromisso inalienável.
Como educar? Acima de tudo pelo exemplo. Nada perturba mais uma criança do que a falsidade dos pais, quando percebida. Talvez assim sejam treinadas para muitas profissões, mas é algo que as entristece, magoa.
As desculpas para desvios são abundantes. Romantismo é a mais usada. Inúmeros livros, filmes, peças teatrais etc. foram feitos e continuam em produção transformando paixões em atos nobres. Não dá prestígio mostrar o contrário, com raras exceções. Será por isso que normalmente os romances terminam com a cerimônia do casamento?
Crianças?
A resposta de muitos é: o Governo que cuide delas.
No Brasil pior do que isso é a herança dos tempos coloniais quando o trabalho escravo era usado extensivamente. Degradar famílias de escravos e estimular a procriação sem grandes preocupações era um tremendo negócio. O negro escravo era um objeto que seus donos compravam e vendiam sem qualquer preocupação com os seus sentimentos. Ainda hoje vemos o resultado disso em regiões onde a responsabilidade social ainda não chegou. Principalmente entre homens nota-se o orgulho de ter amantes e ter gerado muitos filhos, deixados aos cuidados de Deus e dos pagadores de impostos. São vítimas de uma cultura de alienação total.
A mídia comercial, ideológica ou religiosa foi motivo de atenção especial por grandes filósofos, com destaque para Theodor Adorno[11] e o Poder em si tema de muitas palestras de Michel Foucault, entre muitos outros em diversos cenários.
A irresponsabilidade de famílias é moda e atributo de sociedades insensíveis. Chegamos a descobrir presidentes de nações que se orgulham de abandonar mulheres com as quais tiveram filhos. Que exemplo!
Ou seja, justamente quando a Humanidade poderia conquistar um padrão mais saudável de formação cultural, diminuir o número de presidiários, drogados e pessoas infelizes descobrimos que instintos primários ainda comandam gente de qualquer nível social, econômico e cultural.
Lógicas libertárias e sexualistas foram geradas e conquistaram defensores.




[1] John Locke (Wrington29 de agosto de 1632 — Harlow28 de outubro de 1704) foi um filósofo inglês eideólogo do liberalismo, sendo considerado o principal representante do empirismo britânico e um dos principais teóricos do contrato social .
Locke rejeitava a doutrina das ideias inatas e afirmava que todas as nossas ideias tinham origem no que era percebido pelos sentidos. A filosofia da mente de Locke é frequentemente citada como a origem das concepções modernas de identidade e do "Eu".  O conceito de identidade pessoal, seus conceitos e questionamentos figuraram com destaque na obra de filósofos posteriores, como David HumeJean-Jacques Rousseau e Kant. Locke foi o primeiro a definir o "si mesmo" através de uma continuidade de consciência. Ele postulou que a mente era uma lousa em branco (tabula rasa). Em oposição ao Cartesianismo, ele sustentou que nascemos sem ideias inatas, e que o conhecimento é determinado apenas pela experiência derivada da percepção sensorial. Wikipédia

[2] ...em 1963, lançaria Eichmann em Jerusalém, que reúne os cinco artigos que escreveu sobre o julgamento de Eichmann, que cobriu para a The New Yorker. Nesse livro Eichmann não é retratado como um demônio (como o descreviam os activistas judeus) mas alguém terrível e horrivelmente normal. Um típico burocrata que se limitara a cumprir ordens, com zelo, por amor ao dever, sem considerações acerca do bem e do mal. No livro, Arendt aponta ainda a cumplicidade das lideranças judaicas com os nazistas. Esta perspectiva valer-lhe-ia críticas virulentas das organizações judaicas, além da ameaça de ser excluída da universidade. Wikipédia
[3] UM DECÁLOGO LIBERAL (“A Liberal Decalogue”)
Por Bertrand Russell
1. Não tenhas certeza absoluta de nada. 2. Não consideres que valha a pena proceder escondendo evidências, pois as evidências inevitavelmente virão à luz. 3. Nunca tentes desencorajar o pensamento, pois com certeza tu terás sucesso. 4. Quando encontrares oposição, mesmo que seja de teu cônjuge ou de tuas crianças, esforça-te para superá-la pelo argumento, e não pela autoridade, pois uma vitória dependente da autoridade é irreal e ilusória. 5. Não tenhas respeito pela autoridade dos outros, pois há sempre autoridades contrárias a serem achadas. 6. Não uses o poder para suprimir opiniões que consideres perniciosas, pois as opiniões irão suprimir-te. 7. Não tenhas medo de possuir opiniões excêntricas, pois todas as opiniões hoje aceitas foram um dia consideradas excêntricas. 8. Encontra mais prazer em desacordo inteligente do que em concordância passiva, pois, se valorizas a inteligência como deverias, o primeiro será um acordo mais profundo que a segunda. 9. Seja escrupulosamente verdadeiro, mesmo que a verdade seja inconveniente, pois será mais inconveniente se tentares escondê-la. 10. Não tenhas inveja daqueles que vivem num paraíso dos tolos, pois apenas um tolo o consideraria um paraíso. (125)
[4] Alteridade (ou outridade) é a concepção que parte do pressuposto básico de que todo o homem social interage e interdepende do outro. Assim, como muitos antropólogos e cientistas sociais afirmam, a existência do "eu-individual" só é permitida mediante um contato com o outro (que em uma visão expandida se torna o Outro - a própria sociedade diferente do indivíduo). Wikipédia
[5] Wikipédia em 27.12.2013 - Holismo (do grego holos que significa inteiro ou todo) é a ideia de que as propriedades de um sistema, quer se trate de seres humanos ou outros organismos, não podem ser explicadas apenas pela soma dos seus componentes. O sistema como um todo determina como se comportam as partes. O princípio geral do holismo pode ser resumido por Aristóteles, na sua Metafísica, quando afirma: O todo é maior do que a simples soma das suas partes.

[6] Uma glândula endócrina secreta substâncias que são lançadas diretamente na corrente sanguínea, ao contrário dasglândulas exócrinas. A tireóide é uma glândula endócrina. Existem ainda as glândulas anfícrinas, que são simultaneamente endócrinas e exócrinas. O pâncreas produz insulina (lançada directamente no sangue) e suco pancreático (lançado no intestino delgado, considerado como exterior do organismo). Wikipédia
[7] Psicopata é designação para indivíduo portador de desordem de personalidade caracterizada em parte por comportamento antissocial recorrente, diminuição da capacidade de empatia ou remorso e baixo controle comportamental ou, alternativamente, dominância desmedida.
Na Classificação Internacional de Doenças, este transtorno é chamado de Transtorno de Personalidade Dissocial (Código: F60.2). Na população em geral, as taxas dos transtornos de personalidade podem variar de 0,5% a 3%, subindo para 45-66% entre presidiários.
Transtorno de personalidade caracterizado por um desprezo das obrigações sociais, falta de empatia para com os outros. Há um desvio considerável entre o comportamento e as normas sociais estabelecidas. O comportamento não é facilmente modificado pelas experiências adversas, inclusive pelas punições. Existe uma baixa tolerância à frustração e um baixo limiar de descarga da agressividade, inclusive da violência. Existe uma tendência a culpar os outros ou a fornecer racionalizações plausíveis para explicar um comportamento que leva o sujeito a entrar em conflito com a sociedade.
Embora popularmente a psicopatia seja conhecida como tal, ou como "sociopatia", cientificamente, a doença é denominada como sinônimo do diagnóstico do transtorno de personalidade antissocial. Wikipédia

[8] Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
No Brasil, o termo mídia foi criado a partir do aportuguesamento do inglês "media", para designar a função, o profissional, a área, o trabalho de mídia ou o ato de planejar, desenvolver, pensar e praticar mídia, nas agências de publicidade.
Isto aconteceu porque até o final da década de 1960, nas agências de publicidade, a área era chamada de "departamento de media", com a grafia inglesa. E eram comuns brincadeiras jocosas que as pessoas faziam misturando "trabalhar em media", com a expressão pejorativa "fazer média".
Em parte por isso, e de outra parte, para especificar melhor o significado do termo dentro do mercado publicitário, ao formarem o Grupo de Mídia São Paulo – cuja primeira reunião aconteceu em 15 de agosto de 1968 –, seus fundadores tiveram a feliz idéia de adotar o “i”, aportuguesando a palavra para "mídia". O mercado relutou um pouco para assimilar essa forma, mas em meados dos anos 70 até o anuário da editora Meio & Mensagem já saía grafado como "Anuário de Mídia".
Vários anos depois, nos artigos que escrevia para a Folha de S. Paulo, de Nova York, o jornalista Paulo Francis passou a escrever “mídia” ao se referir à grande imprensa, que abriga os grandes veículos com reconhecida influência na população e nos governos. E depois, passou a usar “mídia" para os meios de comunicação em geral.
Não demorou muito para que toda a imprensa brasileira, tanto os jornalistas bem conceituados, como também apresentadores de auditório e artistas, passassem a se referir aos meios de comunicação como “a mídia”. E com a popularização da informática, hoje o termo também é usado até para designar os discos de CD e DVD.


[9] Força centrípeta é a força resultante que puxa o corpo para o centro da trajetória em um movimento curvilíneo ou circular.
Objetos que se deslocam em movimento retilíneo uniforme possuem velocidade modular constante. Entretanto, um objeto que se desloca em arco, com o valor da velocidade constante, possui uma variação na direção do movimento; como a velocidade é um vetor de módulo, direção e sentido, uma alteração na direção implica uma mudança no vetor velocidade. A razão dessa mudança na velocidade é a aceleração centrípeta. Wikipédia
[10]chorume, também chamado por líquido percolado, era inicialmente apenas a substância gordurosa expelida pelo tecido adiposo da banha de um animal peludo. Posteriormente, o significado da palavra foi ampliado e passou a significar o líquido poluente, de cor escura e odor nauseante, originado de processos biológicos, químicos e físicos da decomposição de resíduos orgânicos. Esses processos, somados com a ação da água das chuvas, se encarregam de lixiviar compostos orgânicos presentes nos lixões para o meio ambiente.
Chorume também é uma mistura de água e resíduos da decomposição do lixo. Pode infiltrar-se no solo dos lixões e contaminar a água subterrânea. O chorume possui alta concentração de Demanda biológica de oxigênio (DBO).

[11] A Filosofia de Theodor Adorno, considerada uma das mais complexas do século XX, fundamenta-se na perspectiva da dialética.1 Uma das suas importantes obras, a Dialética do Esclarecimento, escrita em colaboração com Max Horkheimer durante a guerra, é uma crítica da razão instrumental, conceito fundamental deste último filósofo, ou, o que seria o mesmo, uma crítica, fundada em uma interpretação negativa do Iluminismo, de uma civilização técnica e da lógica cultural do sistema capitalista (que Adorno chama de "indústria cultural"). Também uma crítica à sociedade de mercado que não persegue outro fim que não o do progresso técnico.
A atual civilização técnica, surgida do espírito do Iluminismo e do seu conceito de razão, não representa mais que um domínio racional sobre a natureza, que implica paralelamente um domínio (irracional) sobre o homem; os diferentes fenômenos de barbárie moderna (fascismo e nazismo) não seriam outra coisa que não mostras, e talvez as piores manifestações, desta atitude autoritária de domínio sobre o outro, e neste particular, Adorno recorrerá a outro filósofo alemão - Nietzsche.
Na Dialética Negativa, Theodor Adorno intenta mostrar o caminho de uma reforma da razão mesma, com o fim de libertá-la deste lastro de domínio autoritário sobre as coisas e os homens, lastro que ela carrega desde a razão iluminista.

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