terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Conversando com meus filhos




domingo, dezembro 24, 1995


Conversando com meus filhos

Índice:




Apresentação

  Este livro é uma  homenagem à família acima de tudo, independente de datas comemorativas, porque todos os dias são de aprendizado entre pais e filhos, avós e netos, sem a necessidade de existir o tristemente famoso conflito de geraçòes.
  O autor aborda temas do cotidiano que, englobados, somam os principais passos para a boa  formação moral e espiritual da juventude, colocados em forma de conversa com os filhos, estimulando, na realidade, a leitura, a leitura pelos pais que tem boa vontade mas não conseguem expressar seus seus sentimentos.
  Palavras aparentemente esparsas formam elos de uma verdadeira corrente de bem viver e transcendem aos umbrais da casa paterna, para deixar o autor percorrer as ruas em busca dos meninos e meninas do Brasil, geração que vive permanente procura de respostas, muitas vezes tendo conduta reprovável simplesmente porque ninguém lhe falou tão claramente quanto o que está ali expresso.
  A impressão que temos, embora ele se refira a seus filhos, é a de que, na impossibilidade de adotar todos os jovens, traz a sua contribuição nesse exemplar, como se cada privilegiado que tenha a oportunidade de leo os “Conselhos do Cascaes”, recebesse um pai de papel que poderá salvá-lo das armadilhas deste mundo.
  O autor se doa, de corpo e alma aos filhos dos outros, tendo a humildade de falar somente com os seus quando na realidade sua preocupação é universal.
  Longe de pretender ser um reformador do mundo, registra nas letras conselhos que todos os pais gostariam de dar, e percorre um labirinto de emoções, encontrando sempre a saída na família.
  De agora em diante, a luta da família pela união ganha um novo aliado, facultando que exista o diálogo aberto, que perguntas sejam respondidas através desse livro, gerando em todos a certeza de que vale a pena nascer, viver e, no dia da partida poder olhar para trás e dizer: Missão Cumprida!
 

                                                          Anita Zippin
                                                 advogada, jornalista, membro do Centro de Letras do Paraná, da Academia de Letras José de Alencar e da Associação Mundial de Periodistas e Escritoras.



  1. Introdução

  Casei-me cedo. Logo vieram os filhos. Sustentá-los tornou-se meu grande desafio. Educá-los? minha esposa sempre junto deles foi a professora.
  Hoje aposentado, com netos e ainda um filho adolescente, sobra a questão: transmiti a meus filhos o que seria justo, correto, minha mensagem de pai?
  Tive sucesso profissional. De uma certa forma isto ajudou muito. Sinto que meu time orgulha-se do pai. Serve-lhes também de suporte moral nas lutas da vida.
  Seria suficiente, contudo, mostrar-lhes meu “curriculum vitae”? vejo em seus olhos tantas dúvidas, tantas questões ...
  O Mundo transforma-se. Minha geração começou na Segunda Guerra Mundial, viveu a Guerra Fria e todas as suas lutas. Saímos de um padrão clássico para a revolta de um James Dean, a revolução Elvis, Beattles, Hippies e outras.
  A guerra do Viet Nan freqüentava nossas aulas. Brasileiros viemos do Estado Novo, Democracia, ditadura e agora outra vez a democracia. Eta fôlego !
  Tudo isso confundiu, criou modas, épocas .
  O que ensinar? política? sociologia? religião? Deus como ficou neste carnaval de idéias, filosofias?
  É tentando explicar alguma coisa a filhos já adultos, na perspectiva dos meus 50 anos e com a preocupação de pai e avô que escrevi este livro. Espero ajudá-los a serem felizes e suficientemente bem sucedidos. Preocupa-me que tenham sucesso como pais e cidadãos.
  Em minha vida profissional tive muitos alunos, companheiros, centenas ou milhares de jovens que de uma forma ou de outra viram e ouviram meus discursos. Esses filhos adotivos também me preocupam. Aprendi a amá-los e respeitá-los. Sei que muitas vezes falhei como educador. Nem sempre a imagem material correspondeu ao que sentia. Muitas mensagens ficaram prejudicadas pela necessidade operacional, pela luta do dia a dia.  Eles foram minha grande família, pela qual também sinto-me responsável. Espero aqui corrigir falhas de comunicação, dar-lhes mais uma vez propostas, idéias, visões de um ser humano que antes de mais nada lutou, riu, chorou, sofreu muito em muitas decisões tomadas e por outras deixadas de lado.
  Antes de mais nada quero que a minha pequena e a grande família sejam harmônicas, amorosas e felizes.
  Este livro faz com letras o que meu pai me deu com intermináveis conversas. Tive a grande felicidade de ouvi-lo durante anos. À mesa do almoço, durante a janta, em sua loja ou andando ao seu lado tive a grande sorte de aprender lições maduras, inteligentes. Conversávamos sobre política, religião, história, comportamento. Eu menino e ele, meu pai, adulto e com toda a paciência e tolerância que lhe era peculiar discutíamos durante horas os problemas do Mundo.
  Minha querida mãe foi o exemplo de pessoa guerreira, corajosa e incrivelmente laboriosa. Em sua simplicidade tinha consciência de seus desejos, pacientemente subordinados a uma personalidade muito forte, a de meu pai. Ela me mostrou toda a força e coragem que uma mulher pode ter. Longe da imagem cândida e frágil estabelecida para as mulheres, ela brigava, trabalhava duro, enfrentava qualquer situação sem medo e com uma garra de fazer inveja à maioria dos grandes homens que conheci. Ainda hoje, já idosa e com tantos problemas de saúde, a leoa ruge em sua toca.
  Os dois foram um exemplo de seriedade, trabalho e responsabilidade muito raro.
  A essas pessoas extraordinárias, meu pai infelizmente falecido há tantos anos, quero dedicar este pequeno trabalho.



  2. Família

  Nada é mais sagrado que a família, a pequena tribo .
  Por mais que se lute, por maiores que forem as conquistas, é nela que encontraremos nossa base de apoio, nossa razão de ser .
  Ninguém nasceu para viver só. Pertencer a um grupo é condição de afirmação, felicidade e segurança.
  O jovem, quando instintivamente foge de seu ninho, em seu íntimo procura outro, o de sua futura família.
  A consciência da necessidade de construí-la vem com o amor, com a descoberta de quem irá acompanhá-lo, formar seu par .
  Na sociedade moderna, bombardeada dia e noite por mensagens negativas em torno do casamento, com tantos apelos à infidelidade, ao consumismo, o jovem com facilidade poderá desorientar-se. É interessante notar, entretanto, que dentro de cada pessoa, e isto se reforça com o tempo, a preocupação na formação de sua família é base de seu comportamento. Nota-se com mais evidência nas mulheres. Elas têm na maternidade uma forma de afirmação, de realização sublime. Não atender este chamado da natureza será um fator de frustração emocional, mais cedo ou tarde.
  A verdade é que a família é nossa base. Os filhos nossa razão de ser. O amor pela companheira(o) a base do equilíbrio emocional.
  Ao iniciar a vida longe do lar paterno, o jovem deve se lembrar que o resultado de todas as suas experiências será formar uma família. Mais cedo ou tarde sentirá falta de um ninho, do aconchego de um lar, do ruído de crianças. Precisará de pessoas que lhe amem, que dele esperem apoio, para quem seja importante.
  O grande desafio será escolher alguém para esta parceria com a vida. O amor será o principal fator de aproximação mas algumas questões poderão atrapalhar muito. Religião, profissão, saúde e cultura pesarão no sucesso do casal.
  A harmonia em um lar depende bastante do mútuo respeito e admiração. Como obtê-la? Um casal sem coerência filosófica viverá em conflito. Sobreviverá?
  É muito difícil o apoio recíproco quando não existe aceitação de princípios religiosos, éticos e morais. São bases culturais que se manifestam em todos os detalhes da vida. Da manhã à noite mostramos o que pensamos a respeito de religião, trabalho, sexo e relações humanas. Fatalmente visões diferentes levarão a constrangimentos pesados.
  Muitas religiões estabelecem para os não crentes o inferno e os piores adjetivos. A diversidade religiosa gera orientações diferentes, critérios divergentes. As dúvidas e dogmas fermentam agressões. Como suportá-los sem revolta? Um casal em clima de beligerância transmitirá insegurança e indisciplina.  As crianças não compreendem as abstrações dos pais e muito menos terão como tratá-las com frieza, objetividade, equilíbrio.
  E a saúde? Antes do casamento muitas doenças poderão ser evitadas. Por pior que seja, deve-se fazer o pré natal. O casal poderá ter filhos? como serão? A mídia, a nossa cultura supervaloriza a liberdade. Raramente veremos em teatros, cinemas ou televisões o apelo à responsabilidade. O casamento naturalmente leva aos filhos. Eles serão herdeiros genéticos e culturais dos pais. E os pais poderão ser portadores de problemas graves, doenças degradantes. Temos o direito de gerar filhos doentes? Há muitas maneiras de evitar problemas maiores. A medicina está muito adiantada. A prevenção é o melhor caminho. De qualquer modo é bom lembrar que a perfeição é uma abstração. Todo ser humano carrega alguns problemas que se manifestarão ao longo da vida.
  Nos casos extremos a adoção de crianças é uma bela e justa saída.
  Mas é isso que o casal pretende ?
  A formação de uma família é um ato de grandes conseqüências pessoais e sociais. Não há como negar a responsabilidade e o compromisso que o casal tem com a vida.. Felizmente a medicina oferece cada vez mais recursos para prevenção de doenças. Consultando-se especialistas haverá grandes chances de unir-se o amor à saúde.
  E o dinheiro? o que significa na vida familiar?
  Quantos casais começam felizes, imersos em um mar de carinhos num espaço de grande amor e, após alguns anos, diante da impossibilidade de se sustentarem, acabam se separando em meio a acusações as mais cruéis. Quando a separação vem sem filhos, tudo bem. Mas quando deixam crianças “órfãs” prematuras? o drama para esses pequenos seres humanos estará apenas começando. Filmes e novelas mostram quadros, romances, aventuras fogosas. Não dá ibope explicar detalhes, causas, efeitos sutis desses dramas nas cabeças das crianças. Não atrai platéias mostrar que somos culpados de tantas tristezas, de tantos problemas.
  Vale imitar os passarinhos, que primeiro constróem seus ninhos para depois porem seus ovinhos e o fazerem na época em que a natureza lhes oferece alimento, calor.
  A família não deve ser o instrumento de fuga da casa paterna, uma forma de afirmar-se. Não é raro perceber-se casamentos de jovens que, no desespero de encontrar um melhor ambiente, acabam se unindo prematuramente. Em suas mentes nada impedirá que tenham uma vida melhor casando-se. Logo vem os filhos, as exigências materiais e, paralelamente, o sentimento de que realmente amariam outras pessoas, que a liberdade pretendida transformara-se em prisão.
  Por tudo isso é prudente casar-se tarde. O amadurecimento físico e mental é importante. Os primeiros 25 anos de vida devem ser dedicados ao aprendizado, à formação profissional, moral e física. O casamento entre adultos tem muito mais chances de ser bem sucedido.
  O casamento precoce tolhe o jovem em uma fase de sua vida em que é aventureiro, em que procura descobrir o mundo .
  Religiões, empresários, sociedades belicistas poderão desejar a união prematura. Afinal ela produzirá soldados, crentes, operários... Para as “vítimas” a união precipitada poderá tornar-se um pesadelo gigantesco.
  Doenças venéreas, em especial a AIDS, recomendariam o casamento mais cedo. Aí encontraremos a justificativa para a união informal e sem filhos. Permitindo-se aos jovens uma vida sexual saudável e responsável evitaremos os encontros clandestinos, promíscuos, sem controle.
  Os conceitos e preceitos antigos aplicam-se a uma sociedade dominada pela superstição, preconceitos. Felizmente, no mundo ocidental, podemos viver um clima de relativa liberdade em muitos países. Devemos aproveitá-la para experiências que possibilitem maior felicidade e responsabilidade. Em especial maior segurança na hora de assinar o livro no Cartório, onde assumiremos o compromisso legal de formar uma família .
  É bom insistir que o casamento gera filhos e estes não podem ser responsabilizados ou penalizados pelas loucuras dos pais. Para eles a presença dos pais é vital, essencial a um desenvolvimento físico e mental equilibrado.
  O casal perde autonomia quando gera filhos. A partir deles ganha um compromisso com a sociedade, a natureza e a vida. A harmonia passa a ser um desafio permanente, o compromisso com o sucesso da união ganha prioridade. Se antes os caprichos poderiam determinar separações, agora, se isto acontecer, poderá tranqüilamente ser classificado como um grave crime contra os filhos. Eles são produto do amor e não do ódio. Não poderão pagar por desentendimentos que seriam superados se entre o casal houvesse mais inteligência e seriedade. A propósito é bom lembrar que o mais capaz é justamente quem deverá mostrar maior diplomacia, habilidade e tolerância. Tudo isso leva à necessidade de um contrato de tolerância e de grande esforço de mútua compreensão. Temos tradicionalmente o padrão machista de existência. É uma lógica simples. Um manda, o outro obedece. À medida que a humanidade evolui, contudo, a mulher conquista sua indepedência material e cultural. Nos países mais desenvolvidos já é perfeitamente claro a identidade de direitos e deveres. Se biologicamente as diferenças são enormes e maravilhosas, politicamente e economicamente a esposa acompanha o marido em muitos caminhos. É sensível até uma certa superioridade da mãe sobre o pai. Ela, na consciência de suas responsabilidades, tendo gerado em seu ventre os filhos que lhe acompanharão o resto da vida, sente-se responsável e solidária àqueles que gerou. Os homens, que nunca tiveram este sentimento muito forte, agora o tem menos ainda. A realidade da sociedade futura talvez seja a de crianças sem pai, vivendo um ambiente em que a mãe fará o papel que hoje compete ao casal. Um resultado disso tudo será o crescimento de questões comportamentais e menor fertilidade. As mulheres, sentindo o risco da maternidade, tenderão a optar pela esterilidade. Educando seus filhos o farão com a visão feminina, aos meninos faltará o modelo masculino. Neste quadro teremos um novo padrão masculino. Os psicólogos deverão rever  modelos... Talvez esta seja uma resposta da natureza ao excesso de população.
  A família tem diversos limites, amplitudes.
  O primeiro é constituído pelos pais e filhos, em um segundo círculo teremos também os avós e tios, em um terceiro outros parentes e assim por diante. Este conjunto, que no passado era a base de tribos errantes nos desertos e florestas, possui elementos de grande resistência e capacidade de mobilização. Assim como eventualmente cria problemas ao interferir negativamente na vida de um casal é também o espaço em que poderemos cobrar solidariedade. Muitos acidentes, fracassos profissionais e materiais poderão ser fatais se não existir a família onde encontrar apoio. Saber valorizá-la e aprender seus limites e compromissos é uma arte a ser desenvolvida pelos jovens que levantam vôo.
  Vivemos em uma cultura extremamente competitiva. Disputamos espaços permanentemente. A própria visão da sociedade é egocêntrica. Somos desafiados como indivíduos, procuramos nos defender unidos a parceiros de bandeiras. Nascemos egoístas, cobram-nos altruísmo, admiram os vitoriosos. Na família, junto àqueles que nos amam, teremos espaço para treinar a vida. Junto ao carinho dos pais, as disputas infantis serão exercícios culturais para a luta pela sobrevivência. Quando pais não poderemos esquecer nossas responsabilidades pela educação dos filhos. Elas não se limitam à escolha de escolas. Em casa as palavras e o exemplo valerão e muito na formação de caráter. Gerar uma família é um desafio enorme. Em momento algum os pais poderão desprezar a sorte dos filhos. Eles serão aquilo que a família estabelecer. Ninguém é mais responsável que os pais pelo sucesso dos filhos. No Brasil temos o hábito de responsabilizar o governo pelas nossas falhas. Herança do clima escravocrata que tivemos durante séculos, habituados a rsponsabilizar os donos do poder como culpados pelas nossas falhas. Essa atitude ridícula, muito também conseqüência de ideologias utópicas, facilita a falta de atenção pelos compromissos que assumimos ao gerar descendentes.
  Ter família, gerar família e viver em família é algo sério, sublime e um compromisso com a vida, o prêmio que esses pedaços de matéria tiveram do Grande Arquiteto do Universo.



  3. Amigos

  O ser humano é um animal socializante. O isolamento não é seu comportamento natural. A necessidade de ter ao lado companheiros e amigos  é atávica. Viver sem possuí-los é condenar-se à infelicidade.
  Critérios? como conquistá-los? com que objetivo? a que custo?
  Desde a infância procuramos companhia. Ela surge no seio da família, nas praças, escolas, praias, ruas...E como influem em nossa cultura, formação. Por acidente ou deliberadamente construímos nossa vida ao escolhermos nossos amigos. Os modismos, vícios, artes, o exercício da liderança ou da subserviência, tudo é treinado, desenvolvido nos “bandos”, nas “gangues”. Essas micro tribos muitas vezes antepõem-se à família criando conflitos que exigirão muita habilidade dos pais e educadores.
  O jovem deve perguntar-se: quem está de seu lado? o que pretende? pode efetivamente confiar em seus companheiros? poderá ajudá-los? qual o futuro de todos?
  Diz-se há muito tempo: antes só do que mal acompanhado. Lendo o livro “Memórias sonhos reflexões” de C.G. Jung vemos uma declaração interessante: “meus colegas de escola rural: eles me alienavam de mim mesmo”. Quantos já não sentiram o mesmo? Os amigos entorpecem percepções pessoais. A preocupação de se identificar com o bando leva muitos a se ignorarem, a assumirem posturas contraditórias com suas próprias crenças. Na insegurança de suas idéias assumem figurinos estranhos. Ter consciência de que se é diferente e querer sê-lo é a base para grandes vitórias ou derrotas. Apenas sendo diferente é que poderemos ter o orgulho de, algum dia, mostrar que descobrimos um caminho especial. Lutar pelo respeito à individualidade é preservar valores especiais. As florestas tropicais são um bom exemplo da riqueza de formas de vida. Podem ser perigosas, violentas, não serão nunca monótonas. Podemos ser a grande experiência, a base de um mundo novo. Tudo depende de acreditarmos em nossos instintos, nas mensagens que trazemos em nosso inconsciente. A amizade, o prazer da convivência com amigos não deve inibir ideais, posturas e lutas que acreditarmos.
  O mundo poderá parecer pequeno. A sensação de “se não pertencer àquele time estará abandonado” é comum. Principalmente para o jovem existe todo o espaço do universo. Optar pelos melhores amigos é fundamental. Ter coragem de dizer não quando não concordarmos com alguma proposta ou companhia poderá ser decisivo em nossas vidas...Não amamos o físico e sim espírito e corpo. Quando uma pessoa mostra não corresponder à imagem que dela fazíamos devemos nos afastar dela. Amizades eternas apenas por pessoas que apresentarem sintonia conosco e motivos de afeição. Em nossa primeira fase da vida estaremos formando personalidade. Poderemos caminhar para rumos decentes ou não. Infelizmente para permanecer nos melhores caminhos deveremos escolher nossas amizades. Somos sensíveis. Não há como conviver sem envolvimentos, mudanças.
  Saber conversar com os pais, professores e orientadores espirituais é muito importante na juventude. Dos pais teremos a certeza de estarem preocupados com o nosso sucesso. Certos ou errados em suas propostas, terão, com certeza, a intenção de nos darem bons conselhos. Professores e orientadores espirituais, mais profissionais, terão enfoques diferentes. Todos juntos mostrarão uma coleção de alternativas importantes. O aspecto importante é que a decisão será nossa. Por mais frágeis que sejamos estará em nossa vontade aceitar ou não o que ouvirmos. Aprendendo a andar, a falar e ouvir ganhamos independência que exercitaremos na conquista de nossa identidade. Conversando, vendo, sentindo aqueles que pretendem nos transmitir idéias, comportamentos, sentimentos, projetos e filosofias criamos nossa personalidade e cultura. A qualidade do resultado deste processo dependerá das oportunidades que tivermos e conquistarmos.
  Quando escolhemos amigos, companheiros e inimigos, decidimos a nossa sorte. Eventualmente valerá a pena mudar de escola, freqüentar outros ambientes. À medida que as cidades crescem multiplicam-se ambientes alternativos. E se todos forem insuficientes, resta o canto do próprio quarto, o banco solitário de uma igreja, aquele espaço às margens de um rio ou de uma praia onde só com Deus poderemos conversar e ouvir lições importantes.
  Os mitos fazem parte de nossa vida. As imagens dos super heróis, os grandes atletas e artistas povoam a cabeça da garotada. Escolher paradigmas é algo que fazemos sem perceber, intuitivamente. Os ideais estabelecidos na juventude irão acompanhar o adulto, fazendo-o mais feliz ou frustrado.
Entre amigos exercita-se a liderança. Aí pode-se desenvolver a auto estima, a capacidade de envolvimento, o espírito de camaradagem. Ao ter-se a convicção de ser o melhor, dita-se regras, modelos, ações. Outros aprenderão a obedecer, a seguir o chefe. O ideal, contudo, é treinar a convivência, o senso de equipe.
  É comum alguém, sendo mais forte, liderar pela força. Infelizmente muitos jovens sentem a necessidade deste tipo de comando para juntos agredirem, lutarem em ambientes hostis. Em ambientes de poucos recursos materiais gera-se solidariedade e conflitos pesados. As crianças precisam sobreviver, não recebem dos pais o necessário para vestir-se, alimentar-se. O resultado acaba sendo a delinqüência juvenil, precursora da marginalidade definitiva, das penitenciárias. Tendo-se boas idéias, propostas e princípios não se deve deixar levar por aqueles que não os têm mas nem sempre isto é suficiente para enfrentar a vida. Não conseguimos, no Brasil, solucionar este problema gravíssimo. A má distribuição de renda e a miséria em que vive grande parte de nossa população é um fato social tenebroso em torno do qual vemos pouca objetividade. Nossos governantes, apaixonados pela modernidade satânica do “salve-se quem puder”, não criam condições de solução para este problema. Matematicamente e friamente as elites brasileiras estão condenando milhões de pessoas à marginalidade.
  Não devemos nos envergonhar de nossas boas qualidades morais, éticas e filosóficas. Defender aquilo em que se acredita é uma demonstração de maturidade. Infelizmente não é raro o jovem sentir-se mal por não ser capaz de seguir os piores. Esta rebeldia nasce geralmente no seio da própria família. Principalmente os filhos de famílias desagregadas tendem a procurar nos amigos os pais que não tiveram. Nesta compulsão acabam ligando-se a grupos pouco recomendáveis.
  Os entorpecentes, as drogas, tão comuns em nossos dias (cheios de direitos humanos para os bandidos) fazem com que a necessidade de vigilância seja maior. Qualquer descuido poderá ser fatal. Afastar-se de amigos viciados, por mais cruel que isto pareça, é necessário ao indivíduo em formação.
  Os amigos bem escolhidos são uma demonstração de maturidade e uma dádiva de Deus .
  Ter alguém para conversar, apoiar e ser apoiado, amar e ser amado é vital à nossa existência. Quando vencemos, conquistamos alguma coisa, saboreamos uma imagem, uma experiência fascinante, precisamos contar para alguém, partilhá-la, mostrar. Isto não acontecendo é como se não tivesse existido, não terá a mesma graça.
  Ter amigos para os bons e maus momentos é importante .
  Mesmo depois de formada a própria família será com os amigos que iremos desabafar, contar problemas, procurar conselhos. Neste meio exercitaremos uma pequena sociedade. Entre amigos teremos competições, desafios. Não é raro o sexo ser um destes fatores de afirmação, conquista. Por mais intensas que sejam as disputas, o fundamental será compreender o direito do próximo à felicidade. Aceitar as derrotas com dignidade é o que se espera de uma pessoa sadia. Lembrando a principal lei de Cristo, “ame o seu próximo como a si mesmo”, teremos base para aceitar perdas em favor de um amigo.
  Basicamente devemos estar atentos às questões em torno do ambiente em que vivemos. Ele poderá ser saudável, sinérgico, gratificante. Poderá, também, ser degradante, negativo, destruidor. Devemos ter forças e coragem para sair do lado daqueles que não prestam, de lutar pelo que julgamos certo, de fazer amigos para um mundo melhor .
  Vivemos nossas vidas comparando-nos, disputando com os amigos e inimigos. Com e contra eles muitas vezes atingimos o ápice da crueldade. Neste espaço estaremos mostrando nosso caráter . Ao errarmos, contudo, veremos como estaremos perdendo. Dentro de nós existem mensagens, modelos, leis que irão cobrar-nos os males que fizermos. Talvez muitos ainda não chegaram a um nível de perfeição que os façam sentir seus erros, suas violências. Quando se atinge um nível moral mais elevado, contudo, aumenta o peso da consciência diante de falhas cometidas. As agressões serão especialmente doloridas quando atingirem pessoas que amamos. No exercício profissional esse é um dilema brutal. Decisões que atingem amigos poderão doer para sempre. Estaremos vendo suas famílias, a saúde deles, a felicidade prejudicada. A vida tem situações irônicas, difíceis. Entre elas poderemos ter que decidir sobre a existência de pessoas que amamos. A ética profissional será testada com rigor. Conceitos filosóficos serão cobrados. A dúvida entre o coração e o cérebro estará desafiando nossa capacidade de gerenciar, de ser companheiro ou amigo, de ser humano e racional.



  4. Política

  Nada é mais complexo do que a vida política. Querê-la é candidatar-se à glória, a realizações fantásticas ou às humilhações das derrotas, da perda material e social, à desmoralização. O clima de intrigas típico dos partidos, palácios e congressos é degradante. As disputas permanentes jogam uns contra os outros, estimulam o narcisismo, a arrogância e a violência. O resultado é que o político autêntico tem um perfil psicológico característico.
  O político, de modo geral, é um narcisista sado-masoquista.
  Ter como projeto de vida sê-lo é algo a ser pensado cuidadosamente. Um político renuncia à sua vida própria, passa a viver em um palco, à vista de todos. As amizades são forçadas, a cobrança permanente .
  As pessoas são, mais freqüentemente que o imaginável, corruptoras e corruptas. Querem vantagens, privilégios no contato com o poder... Ideais? projetos sociais? primeiro o da conveniência pessoal.
  O egoísmo, o desejo imperativo de não morrer e a necessidade de alimentar-se está na base do sentimento humano, de suas atitudes. A pirâmide de Maslow mostra bem isso ( vide capítulo “Psicologia e sociologia”).
  Todo ser humano nasce 100% egoísta. A educação é que lhe dará a parte altruísta.
  Nesta visão, sabendo que qualquer indivíduo parte de suas necessidades básicas, é que o exercício da política deverá ser encarado. Ter ilusões quanto aos desejos dos cidadãos é fatal. O eleitor cobrará de seus eleitos atenção para seus problemas pessoais, corporativos, comunitários. A visão ampla é secundária, não interessa à grande maioria da população.
  O sucesso na política virá na avaliação fria e correta do eleitorado e da própria capacidade. Sem uma visão precisa do cenário em que se lutará perde-se eficácia, rendimento. A tão falada demagogia nada mais é que a percepção que o político tem das fraquezas de seu eleitorado. Fala o que seu povo deseja ouvir, faz o possível. É interessante notar como as multidões dão pouca atenção à realidade. Querem milagres, benefícios, não importa quem vá pagar. Esquecem-se de que toda a riqueza é gerada pelo próprio povo e dele sairá o dinheiro necessário às fantasias pretendidas.
  Mas a política é instrumento de poder e o poder é necessário para aqueles que sonham mudar a sociedade. Tendo-se características necessárias e suficientes para esta empreitada, ótimo! Todos devemos muito a pessoas que se dedicaram a causas populares. Em defesa do direito do cidadão comum muitos perderam tudo, inclusive a vida. Sem publicidade, discretamente e corajosamente inúmeras pessoas lutam diariamente nos hospitais, nas fábricas, nas ruas e em muitos outros lugares para que a vida de todos continue. A história tem o registro de alguns mas milhões de soldados batalharam e morreram pela liberdade, por uma vida melhor, para que no futuro talvez todos venham a ter uma existência digna. O político é um soldado cujas armas são as palavras, o poder de convencimento, o carisma. Muitos merecem o nosso respeito e admiração pelo trabalho e riscos assumidos em defesa do povo.
  Não devemos esquecer, entretanto, que a democracia é o império da pequena burguesia. É bom observar como detalhes pequenos tiram grandes líderes do teatro político. O povo observa minúcias de comportamento. Não podendo avaliar o candidato tecnicamente, decide sobre aspectos superficiais. Disso se aproveitam os manipuladores da opinião pública. Quando querem destruir uma liderança exploram questões da vida familiar, pessoal ou pequenos desvios de comportamento da vítima.
  O eleitor posiciona-se em cima de propaganda. Quer ser bajulado, tocado. Em períodos de eleições exige dos candidatos demonstrações de poder. Os comícios transformam-se em festas caríssimas. A euforia dos discursos, o som dos foguetes e das músicas, o ajuntamento de pessoas excita as pessoas. O clima de torcida organizada gera compromissos, paixões. O principal objetivo das eleições é esquecido. O que importa é vestir a camisa dos vitoriosos. O voto útil consolida-se. O resultado é que sem dinheiro é praticamente impossível ao candidato eleger-se. O eleitor comum não pergunta quem paga os shows, quem custeia os aviões executivos. Quer festas e promessas a seu favor. Principalmente em países de liberdade recente, o exercício da democracia mostra a fragilidade de uma cultura não adquirida.
  Para o idealista bem sucedido na vida pública ( isto também acontece, ainda que raramente ), o prazer de contribuir para que alguma coisa melhore será um prêmio fantástico. Devidamente provocado, em momentos especiais, o eleitor poderá acertar. Há muito a ser feito. No Brasil a miséria material e mental mostra  que alguém, tendo poder, inteligência e disposição poderá contribuir muito. A humanidade está em transformação permanente. Colaborar para o seu aprimoramento é tornar nossa vida melhor.
  E os partidos políticos ?
  Com o fim do império soviético os ideais socialistas perderam força. Vivemos a euforia do capitalismo puro, das teses individualistas, da rejeição ao distributivismo, do elogio ao egoísmo.
  A mídia, devidamente censurada, trabalha a favor destas propostas neoliberais. A comercialização da imprensa tornou-a dependente do poder estabelecido. A popularização de “especialistas”, comentaristas e redatores deu-lhes a áurea da infabilidade. São pessoas hábeis que percebem o momento de mudar as mensagens de modo a não perderem a credibilidade. Vivemos imersos na informação mal feita, nas análises apaixonadas e apressadas.
  A democracia brasileira é relativa, muito relativa. A miséria de nosso povo, a riqueza extravagante de alguns e algumas sutilezas de nossas instituições e do processo político levam-nos a um padrão norte americano onde o dinheiro manda e o trabalhador limita-se a seguir os poderosos em suas lutas.
  As elites, conscientes de suas “qualidades”, efetivamente mandam, o que não é privilégio do Brasil.
  A lei do mais forte é universal. Nos países em que as teses marxistas imperaram, esperança de maior poder para o trabalhador, os burocratas aliados aos militares geraram tiranos e acabaram por impor ao povo, que dominavam, padrões severos de exploração. Em todos os lugares o resultado é o mesmo quando a sociedade não é organizada e educada para inibir a concentração de poder.
  O cidadão comum, entorpecido, não pensa, só reage .
  A maioria das pessoas é totalmente absorvida pela rotina, pelo trabalho, pela luta diuturna pela sobrevivência. Muitos não têm tempo nem dinheiro para informar-se corretamente.
  No Brasil, os salários aviltantes pagos não deixam margem para outras despesas além das mínimas necessárias à sobrevivência do indivíduo, eventualmente de sua família. A política ainda sofre o ataque sistemático de pessoas interessadas em torná-la objeto de rejeição pelos cidadãos. O resultado é que chegam ao dia das eleições sem se preocuparem com seus resultados, tendo repugnância pelo próprio voto. Infelizmente esse processo alienante é favorecido pelo comportamento natural das pessoas. A lei do menor esforço conduz o indivíduo. O ser humano, em suas fantasias, vê o que quer, faz o que for mais fácil e recebe o que merece .
  A inteligência é um dom eventual, raramente utilizada para análise e pesquisa das verdades sociais, menos ainda para sua transformação positiva. A pobreza é entendida como objeto de exercício da caridade, não como conseqüência de ações políticas e administrativas equivocadas e, portanto, corrigíveis.
  Para o patriota que pretender dedicar-se à política torna-se vital a compreensão dessa dinâmica, desses vícios mentais.
  Neste cenário o político tem a opção fácil de defender os poderosos (versão sádica) ou estar com os fracos (político masoquista). Na luta honesta pelos humildes estará sem apoios importantes para sua promoção. Poderá realizar muito mas pouco será divulgado. Normalmente desaparecerá por falta de mídia.
  Diante de tudo isso, o que fazer? que bandeiras?
  O caráter pesa muito. Qual a sua religião? o que considera importante? como ser político e viver em harmonia consigo próprio? com sua família? amigos e companheiros?
  Ter consciência de todos esses fatores é vital para uma vida sadia .
  O grande conselho seria : evitem a política, cuidem de si e de seus filhos e companheiros, procurem uma vida sadia, equilibrada. A política, com certeza, não é o melhor caminho para a felicidade.
  Optando pela vida pública, entretanto, é importante ter-se um plano, metas, objetivos. A política é um grande jogo, cheio de sutilezas. A família deverá saber o preço que estará pagando. A esposa não deverá esperar fidelidade conjugal, os filhos terão um pai ausente e todos o risco da miséria e difamação .
  No jogo, nos vestibulares das campanhas, nas surpresas das urnas as pessoas se confundem. Idealistas viram bandidos, bandidos saem como heróis. Grandes administradores acabam perdendo suas referências. Desaparecem valores e bases importantes. A poucos é dado o prazer da realização sadia ...
  Na vida pública saber o que se pretende será vital ao sucesso da empreitada. Procurar notoriedade? realizar obras? conquistas sociais? enriquecimento material? Ouvi em palácio o seguinte : “a política é para rico bobo e pobre esperto”. Pode também ser o caminho de algum mártir ...
  Evidentemente a política não é o caminho para o enriquecimento honesto. Principalmente nesta terra americana é fácil fazer fortuna trabalhando. O Brasil é um país com muitas oportunidades. Uma pessoa corajosa, empreendedora, trabalhadora e persistente sempre encontrará um caminho produtivo.
  A democracia é o padrão de autogoverno que dignifica o cidadão. Exige uma base mínima. Não funciona em sociedades muito atrasadas. Talvez não seja o nosso caso. O povo brasileiro, ainda que precariamente, já adquiriu cultura suficiente para se governar. Precisa, entretanto, ser conscientizado da responsabilidade do voto...
  A liberdade é um bem extremamente valioso. O voto universal é o instrumento que homens e mulheres livres utilizam para se governarem. O poder é legitimado pelas eleições. O caminho das urnas é o daqueles que quiserem exercer o poder político. O eleitor tem nas urnas seu momento de poder.  Conquistar votos é condição “sine qua non” para, no comando, mudar a sociedade, torná-la mais justa, séria . A opinião pública é a referência do discurso mas exige cuidado. O líder precisa agradar para continuar na preferência de seu eleitorado. Nele, contudo, pesará a questão ética.
  A consciência social transforma-se, evolui mas também regride. Após a Segunda Guerra Mundial muitos países tiveram uma geração de pessoas que haviam sentido na carne os horrores das batalhas. Nesses países tivemos um clima de rejeição à violência. Agora vemos entre eles o renascimento das teses racistas, da xenofobia, das rivalidades religiosas. Dar bons princípios, forma, consistência ao processo político é o dever de nossos líderes. Se pretenderem seguir este caminho é bom saber que o preço será elevado. Tendo sucesso poderá valer a pena. Na ciência política irão deparar-se com os partidos, as propostas estruturais, de poder e distribuição de forças, riquezas, felicidade .
  O grande dilema será : egoísmo X altruísmo. Em torno desta questão teremos as propostas capitalistas, de defesa da propriedade ou das minorias, de melhor distribuição de renda ... São questões permanentes que estão na base dos partidos. O egoísmo leva aos partidos de direita, conservadores. Têm o mérito de lutar pelo indivíduo, de protegê-lo da tirania das maiorias. O altruísmo conduz à esquerda. O democratismo, a defesa de populações, o império das maiorias é uma conseqüência de suas teses. No Brasil os partidos de esquerda têm em seu seio a defesa das minorias, por enquanto. Nas ditaduras do proletariado as minorias sofreram restrições porque se rebelaram contra decisões que suas culturas condenavam. Apesar disso tudo são os esquerdistas que defendem com mais sinceridade melhor distribuição de renda, maior atenção pelo povo.
  Na política devemos sempre encarar as questões ideológicas sem radicalismos. Em sintonia com a complexidade do ser humano, a tolerância é fundamental. A postura ideológica é uma diretriz, não uma camisa de força . Bertrand Russel disse  em seu livro “Princípios  de reconstrução social” :- A certeza absoluta é por si só suficiente para impedir qualquer progresso mental naqueles que a possuem-. Esta assertiva vale para a política e para as religiões ... A cultura política é necessária para errarmos menos. Ao votar devemos estar conscientes do que fazemos. Através da política administra-se nações. Em um ambiente democrático poderemos construir uma sociedade justa, eficaz, saudável. O exercício da política é essencial a um povo que procura evoluir .
  É dever de cada cidadão instruir-se e participar de acordo com suas possibilidades e ideais .




  5. Cidadania

  Se a política é uma atividade complexa e própria de pessoas com perfil específico, o exercício da cidadania é uma obrigação de todos.
  A Democracia exige participação, a liberdade cobra responsabilidades, deveres. Ninguém tem o direito de omitir-se. A participação de cada um é obrigação ética, moral e cívica. Aqui poderíamos dizer que a responsabilidade será proporcional à capacidade e consciência do cidadão.
  É comum observar de pessoas com boa formação críticas as mais diversas ao trabalho dos líderes. Sem piedade cobram resultados e soluções mas não se dispõem a qualquer ação positiva. Apenas têm a preocupação de falar em ambientes estéreis, usando sua capacidade crítica para o prazer da intriga, da conversa inútil. Essa atitude é perceptível na vida dos partidos políticos. O número de militantes é mínimo. As grandes decisões, contudo, acontecem já na formação das primeiras equipes. Vereadores, prefeitos e todos os cargos eletivos têm sua base nas bases políticas, distantes da grande maioria da população por pura omissão. E as desculpas são incríveis. O homem medíocre é especialista em explicar porque não faz.
  Toda pessoa bem intencionada e voluntariosa tem a liberdade de procurar autoridades e líderes e com eles participar do processo político e administrativo. Isso não significa envolver-se em campanhas ou atividades partidárias mas, simplesmente, transmitir sugestões, propostas e críticas que contribuam com o aprimoramento da administração pública, as leis e normas que a regem assim como o aperfeiçoamento institucional. O político é um ser humano com as limitações de sua formação e experiências. O assessoramento é muito importante à sua atividade. Tendo o apoio de pessoas honestas e inteligentes poderá crescer, enriquecer sua atividade política. Uma idéia boa bem administrada, não importa de onde venha, é munição para as lutas que o homem público enfrentará em sua carreira.
  A cidadania também tem espaços na atividade de associações, clubes e instituições prestadoras de serviços. Qualquer indivíduo encontrará um lugar em que poderá ser útil. No Brasil temos as APAEs, os clubes de serviço, as sociedades protetoras de animais, grupos para prestação de assistência a todas as classes menos favorecidas. Há muito lugar para trabalhar, para devolver um pouco da felicidade de ter tido uma vida melhor.
  Quando vemos o tempo que se gasta em futilidades ficamos pensando quanto essas pessoas poderiam fazer de bom pela humanidade. E elas com certeza seriam mais felizes. Precisariam rezar menos. Teriam menos medo da morte. Seriam mais úteis. A simples observação do desperdício em toda sorte de atividades inúteis dá a dimensão da omissão. Ver quanto alguns contribuíram mostra como poderíamos ser úteis. Amar o próximo é proposta divina.
  Nossa cultura cristã é muito passiva. Havia no início a visão do fim do mundo próximo. A miséria seria recompensada em breve no outro mundo. O que importava era cantar e rezar esperando o Apocalipse. Passados dois mil anos percebemos que por falta de uma preocupação e ação sadias o inferno está mais próximo do que o céu. A falta de visão humanista, da caridade, da preocupação, do amor pelo próximo gerou uma sociedade egoísta, insensível.
  Tudo começa pequeno. A ação de uma pessoa isolada poderá transformar-se em um grande movimento, numa grande transformação. Não devemos nos subestimar. A verdade tem muita força. Usando-a objetivamente poderemos contribuir muito para o progresso de nossa sociedade. Simplesmente usando poucas horas por semana teremos como acrescentar algo, um tempo para conversar com quem tem poder sugerindo-lhe projetos, um pequeno trabalho por alguma criança abandonada, alguma contribuição na administração de uma associação etc.
  Principalmente aqueles que estudaram, adquiriram cultura, viajaram pelo mundo têm um compromisso com a vida. Aqueles que de alguma forma enxergam têm a responsabilidade, a obrigação de contribuir. Muitos nascem cegos com olhos sadios. Muitos viverão e morrerão sem perceber coisa alguma. Outros sentirão o potencial que possuem, terão até capacidade de criticar, de comentar os erros dos que mandam. Essas pessoas não poderão omitir-se sob pena de merecerem a pecha de irresponsáveis e desumanos.
  O Brasil é um país em desenvolvimento. Nossas leis, costumes e sociedade estão longe de um padrão responsável e inteligente. Comparando-nos com a sociedade francesa atual, por exemplo, vemos a distância que nos separa de um povo politizado, consciente de seus direitos e deveres. Infelizmente nosso modelo é os Estados Unidos Da América do Norte. Um templo do Direito é a versão moderna da Roma dos Césares. Belicosa e imperialista, Roma nunca atingiu o esplendor humanístico da Atenas do tempo de Sócrates e Platão. Os EUA começaram bem, sua primeira constituição, quando da independência da Inglaterra, foi um momento de grande valor na história da Humanidade. Infelizmente as guerras em que se meteu neste século despertaram seus piores instintos. A França, mais de um quarto de século depois, posicionou-se de forma progressista no processo de derrubada da monarquia. Os belos princípios da Revolução Francesa, tão bem descritos na sua “Declaração dos direitos do Homem e do Cidadão”, levaram mais de um século para começar a ter forma real. A França imperialista, colonialista, tinha uma retórica muito diferente da sua realidade, principalmente em relação a outros povos. Sua atuação no Vietnã e na África são exemplos recentes de como um povo pode ter duas imagens. Uma interna, democrática e civilizada e a outra externa, estúpida, violenta e desumana.        Neste final de século, contudo, devemos ambicionar o espírito da política interna francesa. Para fora nunca perderam sua empáfia, sua postura arrogante e discricionária. Internamente os franceses cultivam um espírito democrático consciente, inteligente, responsável e com grande conteúdo socialista, humano.
  Infelizmente até os países mais desenvolvidos mostram que séculos de cultura avançada não impedem o progressos das piores teses. Cada geração é um recomeçar. A experiência e convicções dos mais velhos são rejeitadas dentro do eterno impulso à mudança. E as mudanças nem sempre são no sentido do aprimoramento social. O péssimo hábito de se procurar a modernidade, a última mensagem defendida pelos donos da verdade, têm causado muito sofrimento desnecessário.
  Temos muito o que fazer, não podemos descansar enquanto nosso país não se transformar em terra civilizada, justa e bela...


  6. Religião

  O que significa ter religião? o que esta palavra nos diz? Caldas Aulete explica : “Religião, faculdade ou sentimento que leva a crer na existência de um ente supremo como causa, fim ou lei universal”. Nesta explicação simples temos a base de decisões tomadas por bilhões de pessoas .
  Observando-se a natureza vemos tal complexidade que a visão de Deus torna-se imediata, natural. Encontrar uma forma de aproximação, de compreensão de sua essência e vontade é um impulso expontâneo em qualquer ser humano.
  A complexidade, entretanto, é infinitamente maior que nossa capacidade de entendimento. A arrogância e ignorância de alguns levam a teorias e teses incríveis. As religiões formais acabam sendo uma solução fácil para este dilema. Elas têm a áurea da revelação e da tradição. Em seus rituais criam ambientes de mistério. Envolvem-nos com cerimônias que nos dão a sensação do contato direto, do conhecimento da verdade, da solução tão ansiada . A visão de Deus, contudo, está muito acima de tudo o que se escreveu, falou. Nossa incapacidade de entender deveria colocar-nos em situação de maior humildade e tolerância.
  Quantas religiões existem? quais as desvantagens e vantagens em professar uma delas? o que ganharemos e perderemos? alguma delas mereceria nosso apoio incondicional? por que?
  A maioria das religiões pede obediência total a suas leis, normas e orientações. A dúvida é um mau negócio para os sacerdotes. Quando esta disciplina atinge o nível do fanatismo, a religiosidade torna-se um perigo ao crente e a todos em sua volta. O fanatismo cega, discrimina, agride, gera infelicidades, mata. A dependência das pessoas em crenças, mitos e rituais tornou-se evidente nos efeitos da propaganda política. Marx, Engels, Lenin, Mao Tse Tung, Hitler e Mussoline foram deuses modernos. Muitos deram a vida por esses ídolos ...
  A institucionalização de religiões cria profissões e relações econômicas muito convenientes a seus sacerdotes. O cristianismo consolidou-se à medida que se aproximou do poder secular. Infelizmente neste processo virou arma política e perdeu sua identidade com os mais humildes. Em nome de Cristo exércitos invadiram as Américas exterminando seus povos e culturas originais. Na África e Ásia também usou-se a cruz para enfraquecer a resistência à invasão européia.
  A indústria, a lavoura e pecuária, o comércio e os exércitos precisam de autômatos, de pessoas disciplinadas ( vide o livro Terceira Onda, Alvin Toffler ). Dizendo ao povo que os sacrifícios nesta vida seriam recompensados na próxima os sacerdotes viabilizavam sua exploração pelas classes dominantes. Assim tivemos  sociedades em que a inteligência era inibida, o ascetismo estimulado .
  O fanatismo, uma conseqüência da lavagem cerebral a que muitos se submetem, é um problema gravíssimo. Dentro desta condição a agressividade aumenta podendo tornar as pessoas violentas. Quantas guerras tiveram sua base psicológica na intolerância religiosa? Quantos já morreram pela posse de Jerusalém?
  De qualquer modo o ser humano exige explicações. É muito difícil viver sem tê-las. A morte intriga, as diferenças da fortuna agridem, a natureza assusta as pessoas mais sensíveis.
  Felizmente existe o lado positivo. As religiões, de modo geral, dão tranqüilidade espiritual e até felicidade. Resolvem questões que poderiam destruir muitos. Há momentos em que acreditar em Deus, ter o conforto espiritual de um sacerdote e a crença em uma vida após a morte ajudam sobremaneira a enfrentar a vida.
  Oferecer aos filhos uma religião é saudável, é prudente .
  E os aspectos negativos? como inibi-los?  
  Deve-se combater o fanatismo, mostrar alternativas e, acima de tudo, que a visão e o respeito a Deus e à sua obra é o mais importante .
  Em torno do conceito de Deus existe a natureza, a vida, o amor .
  O respeito às infinitas formas de vida é uma condição de felicidade e harmonia
  Mas a questão permanece, qual religião professar ?
  Esta é uma opção de foro íntimo, de convicção pessoal. O ideal seria termos aquela que nos colocaria dentro da sociedade em que vivemos. A harmonia social é saudável se bem que exigindo muitos cuidados. Há limites para esta preocupação.
  A família tende a nos governar. A religião é algo que entendem ser responsabilidade deles transmitir. Entenda-se bem, a religião deles. Pais e avós acreditam ter poderes de consciência sobre seus descendentes. São os rituais tidos como tradição de família. Não respeitá-los cria rejeições, agressões, desunião .
  As cerimônias míticas são parte de nossa vida. Marcam com solenidade ostensiva momentos importantes. Desrespeitá-las poderá pesar na formação da família.
  Na falta de maior compreensão dos mistérios da vida, os rituais cumprem uma missão importante, aliviando tensões, balizando mudanças, mostrando caminhos .Um excelente livro a respeito é “O poder do mito” de Joseph Campbell ( conversando com Bill Moyers). Nele verificamos a íntima relação da civilização e os mitos e também o registro de seus efeitos no comportamento humano. Nesta e em outras obras de Campbell vemos diversas citações do trabalho de Carl Gustav Jung. Este psiquiatra desenvolveu toda uma teoria mostrando relações entre o comportamento humano e imagens míticas inconscientes mas ativas .
  Quando o menino torna-se homem? quando o namoro se transforma em casamento? como enterrar um pai? nesses momentos a religião tem um efeito sedativo gigantesco. Confortam, sugerem compensações e dão solenidade e dignidade. Temos aí fases da vida em que a religião é extremamente valiosa. Seus sacerdotes sabem disto. Os templos são feitos também para mostrar e dar suporte a essas solenidades. Templos, igrejas, ambientes reservados e decorados esotericamente servem para meditação e reflexões importantíssimas à saúde mental.
  Critérios para uma vida religiosa ou, pelo menos, com o suporte de uma religião? outra vez, qual a melhor religião?
  A prioridade será sempre a da própria família. Com ela teremos pelo menos o conforto da convivência familiar harmoniosa no plano filosófico. O outro fator importante é o da sociedade em que vivemos. Deve ser muito difícil ser católico no Irã ou muçulmano em Roma.
  Finalmente o maior argumento, o mais importante é o da fé. Acreditar, aceitar, admirar a religião que se adota é fundamental a uma vida sadia. A hipocrisia não ajuda. Aqueles que dependem de nós querem-nos heróis, modelo de virtudes. Como o seremos se mentirmos? se não mostrarmos coerência?
  A dedicação integral a uma religião é um caso extremo de fé. É uma opção de vida com muitas restrições e compromissos. Tudo isto deve ser motivo de muita reflexão. A decisão pela vida sacerdotal só deveria ser tomada após a fase adulta. O jovem é inexperiente e decidir pela dedicação plena a uma religião poderá ser motivo de muitos conflitos e frustrações. Principalmente quando se exige abstinência sexual caminha-se contra a natureza, o preço é alto .
  Muitas religiões têm base filosófica e posturas absolutamente anacrônicas. Conduzem seus fiéis à alienação, ignorância e conflitos sociais. A tolerância é essencial à Humanidade e à civilização. Adotar uma filosofia de vida radical é condenar-se ao obscurantismo, à violência. Cuidado também no relacionamento com pessoas fanatizadas, obcecadas por suas crenças. Com muita facilidade poderemos ofendê-las e vice versa. A presença delas em qualquer ambiente estranho cria conflitos, desconfortos...
  Concluindo devemos admitir que a harmonia mental é saudável. A saúde física depende muito desta tranqüilidade, da fé e sintonia com uma filosofia..
 


  7. Profissão

  Trabalhar em quê? que vestibular fazer? vale a pena estudar?
  Um dos grandes desafios de qualquer jovem é escolher sua profissão. Onde e como trabalhar é uma definição de cidadania. Ao optar por uma carreira estará decidindo sobre riscos e benefícios inerentes à profissão exercida. É uma decisão que pesará sobre toda a sua vida .
  Ao fazer as muitas opções que culminarão com a consolidação de uma vida profissional definida, o jovem parte normalmente dos exemplos de família e de suas fantasias juvenis. O que a maioria ignora é o que existirá em torno da profissão eleita, os compromissos sociais e os efeitos na própria saúde física e mental.
  O principal é compreender-se a necessidade de sobrevivência. Em torno desta questão a opção profissional e uma auto análise são fundamentais. A diferença entre o bom e o mau profissional passa pela competência, aptidão e disposição ao trabalho exercido. O sucesso profissional refletir-se-á na saúde mental e física do indivíduo. A decisão justa, correta, será extremamente valiosa.
  O ser humano, contudo, é versátil, capaz de muitas atividades, profissões. Por mais simples, por menor que seja a inteligência e mesmo diante de barreiras físicas e sensoriais, normalmente tendo-se motivação adequada poder-se-á conquistar um lugar digno na sociedade. A educação para o trabalho, a capacidade de se submeter a uma disciplina e a perseverança são recursos culturais importantes. A história dos povos que tiveram sucesso mostra muito bem como essas características são importantes. Pais que desejam a felicidade de seus filhos devem entender que eles não deverão ser compensações de frustrações paternas antigas e, sim, objeto de um processo educacional calculado, objetivo, consciente.
  Os erros custarão caro aos futuros adultos. Muitas infâncias gostosas terminarão em vidas perdidas.
  A opção profissional é um ato de vontade de grande responsabilidade. O que se pretende? dependendo da profissão décadas serão gastas entre quatro paredes, repetindo-se infindavelmente procedimentos burocráticos. Outros terão que arriscar suas vidas, passar dias e dias longe de suas famílias, sem o convívio e o carinho daqueles que lhes amam. A vida de um atleta profissional é completamente diferente da existência de um advogado, que sua vez estará a milhares de anos luz distante do dia a dia de um arquiteto. É triste observar-se a frustração de muitos. Uma decisão errada poderá expor deficiências desagradáveis, humilhantes. Em grandes empresas, onde a competição entre companheiros é maior, a seleção acaba sendo dura, cruel. Muitos aposentam-se frustrados por não terem atingido posições sonhadas. Preteridos desenvolvem angústias que lhes deixarão infelizes e doentes. Por falta de autocrítica não vêem suas deficiências. Assumem personalidades agressivas. Amargurados e doentes mentalmente terminarão seus dias de mal com a vida.
  Qualquer pessoa poderá sentir-se útil, prestigiada, se estiver na profissão correta, ajustada à sua personalidade e potencial. Da profissão mais humilde à mais elevada intelectualmente qualquer pessoa será respeitada se exercê-la de forma competente. Vale a pena uma auto-crítica severa. Certas qualidades básicas são essenciais a qualquer atividade. Um bom advogado não pode prescindir de uma memória desenvolvida. O raciocínio matemático é essencial ao engenheiro. A habilidade manual é condição de sucesso para o cirurgião. Principalmente os pais têm a responsabilidade de mostrar aos filhos os caminhos possíveis. Há especialistas, existem técnicas de avaliação. Tendo-se dúvidas e lembrando que muitas profissões só serão compreendidas já no seu exercício, o suporte de profissionais para uma decisão vocacional é válido.
  Outro ponto a merecer reflexões é o padrão das escolas. Em trinta anos o Brasil multiplicou por dezenas ou centenas o número de faculdades. Poucas, muito poucas, entretanto, conseguiram ter bons padrões de ensino. Escolas mal formadas criam ilusões. Profissionais mal preparados partem para o mercado de trabalho completamente despreparados para o exercício da profissão que escolheram. O resultado é a mediocridade de muitos em prejuízo de uma sociedade que paga serviços e impostos e espera melhores resultados de seus profissionais.
  Acreditando em seus valores o ideal será criar sua própria empresa, trabalhar “por conta própria”. Os padrões de competição são mais objetivos, diretos. O indivíduo foge às disputas padrão “agradar o chefe”. Os riscos são maiores mas o prêmio infinitamente superior, confortador. Nossa sociedade tende a desvalorizar o emprego. Por melhor que seja o profissional, só aqueles à vista de todos e de quem a felicidade direta depende terão salários mais altos tolerados. No Brasil, talvez por efeito da cultura escravagista ainda dominante, qualquer pagamento é considerado elevado. Fazendo-se comparações com os milhões de miseráveis, nega-se salários e não se discute riqueza.
  Um aspecto importante é criar-se uma base profissional independente para os filhos. Mostra-se como ser empreendedor, como não depender de pessoas que não nos interessam. Gerando-se uma empresa cria-se um espaço de trabalho próprio. O esforço para desenvolvê-la materializa-se em algo pessoal, com qualidades e defeitos à imagem do criador. Nesse ambiente a família poderá aprender a ter independência, ousadia e criatividade.
  O emprego exige do trabalhador a submissão a regras não escritas, à cultura da empresa em que exercer sua profissão. As humilhações não são raras. Os grandes chefes e até os mais humildes não raro trazem para as empresas suas frustrações. Os loucos, os tarados, os neuróticos têm nos postos de comando o espaço que precisam para exercitar suas deficiências. Assim, havendo a possibilidade de trabalhar “por conta própria”, essa hipótese deverá ser vista com carinho. Perder oportunidades dessa espécie poderá custar caro. - Antes de mais nada evitar tornar-se um empregado. Preferir ganhar menos. Ser dono de suas decisões. Não se humilhar submetendo-se a um patrão, a um chefe. O Brasil, de uma maneira especial, é um país rico de oportunidades. Não é difícil criar sua empresa. Desde cedo aprender a ousar, a inventar, a ser.
  Não gaste empregos, gere-os.
  O mundo respeita os empreendedores .
  Aquele que se submete a um emprego opta pelo conforto da segurança de um salário, aceita ser conduzido, limitado. Empregar-se poderá ser importante para ter-se base para, mais tarde, criar sua empresa. Ótimo mas perigoso. Não se deve perder de vista a necessidade de realização pessoal, de maior independência. Outro aspecto importante é a tendência das grandes empresas à terceirização. A modernização pulveriza postos de serviço tidos como intocáveis. Muitos trabalhadores, super especializados, têm se encontrado de repente desempregados e sem nenhum preparo para uma mudança de vida. A visão antiga de que obtinha-se segurança empregando-se acabou. As teorias neo liberais penalizam o empregado. Os defensores dessa cultura política não têm em suas cabeças a necessidade de sobrevivência harmônica. Não lhes preocupa uma sociedade sadia. O desempregado é assunto da caridade, da solidariedade social. O pai de família que parte para a delinqüência para poder sustentar sua família é caso de polícia.
  Felizmente o Brasil é um país com grandes oportunidades para o empreendedor. Muitos espaços existem. Uma pequena loja ou fábrica, uma empresa rural ou de prestação de serviços poderá ser o início de uma bela vida profissional. Tudo começa pequeno. Esta primeira fase é importante. Aprende-se. À medida que se domina a arte, aumentam os resultados. Conhecer as artimanhas da legislação trabalhista, os truques do fisco, a psicologia do comprador, a qualidade do produto e os verdadeiros custos leva tempo. Método, organização, liderança e capacidade administrativa adquire-se na prática, nos erros e acertos do dia a dia.
  Com trabalho, disciplina e austeridade forma-se poupança. Com este capital amplia-se a empresa. Reinvestindo e não desperdiçando o que se ganha adquire-se a dimensão sonhada. Recursos de banco? só em última instância. O Brasil é terra da agiotagem oficial. Sob qualquer desculpa os juros disparam.
  Empresa urbana ou rural? de alta ou baixa tecnologia? comércio? indústria?
  Na definição por uma profissão decide-se pela personalidade que teremos. A profissão cria padrões comportamentais, algoritmos de decisão, diferentes visões políticas. A própria expectativa de vida será afetada pela profissão .
  Devemos ver o que acontece em nosso mundo capitalista. A tendência é a regressão em relação aos ideais de riqueza distribuída. Os ideais de mais conforto e segurança para o trabalhador estão sendo abandonados. Essas propostas, tão comuns há pouco mais de dez anos, deram lugar ao império da produtividade e competitividade. A abertura de fronteiras colocou países em que o trabalho é escravo ou de altíssima tecnologia gerando produtos de baixo custo, entrando em nações mais desenvolvidas politicamente e nelas contendo movimentos de melhoria de vida do trabalhador. Aliado à regressão nos direitos trabalhistas a tecnologia veio com a automação e a informática implodindo milhões de empregos.
  No cenário atual o ideal é aprender a ser versátil e a criar atividades. Deve-se ter coragem e capacidade de sobrevivência independente e para isso não basta um diploma. O jovem atual precisa aprender a criar e conduzir sua própria empresa. Em paralelo ao curso básico pretendido deve-se procurar aprender ciências relativas à administração, legislação, liderança, relações públicas e informática. O domínio de línguas estrangeiras é de extremo valor. O inglês é a língua base da comunicação internacional. Estudando, trabalhando e tendo-se persistência as chances de sucesso são grandes. Note-se a necessidade de homem e mulher preparem-se para o mercado de trabalho. Um padrão de vida razoável dependerá da contribuição dos dois. Isso terá implicações no planejamento familiar, na distribuição de tarefas domésticas. O mundo do século 21 pouco terá de semelhança ao do início deste que termina.
  E na opção pelo emprego?
  Devemos ter o cuidado de verificar a saúde financeira e moral da empresa. Ela lhe imporá padrões. Que tipo de indivíduo pretende ser? a empresa lhe dirá. Ao conversar com pessoas empregadas há muitos anos pode-se ver em seus traços fisionômicos, nas expressões empregadas e no raciocínio o que fizeram. É impressionante como somos afetados pelo ambiente em que vivemos .
  Diga-me com quem andas e te direi quem és. Mostre-me sua empresa e lhe direi como será o seu futuro.
  Amoldamo-nos. E não poderia ser diferente. Não sobreviveríamos se agíssemos diferentemente .
  As mulheres, de uma maneira especial, precisam avaliar bem o que pretendem profissionalmente. A maternidade é um fator tremendamente perturbador. A mulher moderna, cidadã, independente, paga um preço muito alto pelas conquistas feitas. A sociedade foi organizada para um modelo patriarcal, machista. Como ser mãe e empresária? mãe e operária? mãe e empregada? 
  O Brasil, em suas contradições, não inibe a geração de filhos mas não dá às famílias creches, escolas e assistência médica decentes. A falta de creches e escolas de padrão razoável é um problema grave para qualquer família. O privilégio de uma boa formação pertence aos mais ricos. As pessoas humildes, sem dinheiro, submetem seus filhos às escolas mais próximas, menos caras. Felizmente muitos têm a oportunidade de mostrar -se como uma família unida, trabalhadora, decente. Nos ambientes mais ricos as oportunidades de alheiamento em relação aos filhos é maior. O resultado é a perda de referências, o abandono dos filhos, as doenças comportamentais. Com dinheiro e longe dos pais acabam sendo alvo fácil de traficantes. A generalização do uso de drogas é um risco permanente. Esta doença social atinge níveis absurdos. Com a omissão de muitas autoridades, pois o vício não tem preconceitos, o traficante instala-se por todos os lugares. Os pais, ignorantes ou imersos na luta pela sobrevivência, acabam descobrindo muito tarde a perda de um filho. A falta da mãe, principalmente, pesa na lógica juvenil. Já nas famílias mais pobres é a ausência pelos desafios da sobrevivência. As crianças, abandonadas nas ruas crescem sofrendo a influência dos bares de esquina, dos malandros e bandidos de toda espécie. A miséria destrói fantasias, cria realidades brutais. Os jovens  mais inteligentes e voluntariosos serão os líderes de bandos. Belíssimas crianças serão adultos degradados, que terminarão seus dias em penitenciárias, valas ou calçadas, mortos por esquadrões da morte, em conflitos de quadrilhas ou, simplesmente, corroídos por doenças da pior espécie.
  Os anos passam e só ouvimos discursos. Não vemos um programa sério de planejamento familiar. As altas taxas de crescimento da população geram mão de obra barata e mais anjinhos no céu. Famílias numerosas e ausentes na educação dos filhos são freqüentes no Brasil. Os pais trabalham fora para sustentar seus filhos e ter acesso aos bens de consumo tão bem postos na mente de qualquer cidadão. A mãe e mulher trabalhadora contribui para o orçamento familiar saindo de casa e submetendo-se a um padrão de serviços idêntico ao do marido. Ao voltar para sua residência nela terá que cumprir as tarefas que sua avó fazia com muitas empregadas e sem outra preocupação que a própria casa. Sem apoio em casa e fora dela a mulher se escraviza, trabalhando em 3 turnos, dois no emprego e mais um em casa. A mocinha charmosa, simpática e elegante facilmente irá transformar-se em uma mulher dura, de formas pouco estéticas e sem a graça tão desejada.
  Conciliar família, trabalho e amor é o grande desafio de qualquer casal. Nesta equação a mulher perde mais. A profissão que abraçar será um ponto a favor ou contra o stress que viverá. Tradicionalmente as mulheres tem optado por atividades ligadas às áreas sociais. O problema será obter salários compensadores. Nada impede que outras atividades sejam absorvidas pelas mulheres. Fugindo aos padrões clássicos todas as profissões estarão, com maior ou menor propriedade, acessíveis. Nelas talvez encontrem formas de serem recompensadas dignamente pelo esforço feito sem perderem qualidades, que desejam na condição feminina. A informática é uma área em que qualquer “dona de casa” poderá ser muito produtiva. Nessa ciência há a possibilidade de trabalhar em casa, fora de horário e sem os constrangimentos das atividades mais pesadas fisicamente.
  Tanto em sua compulsão pelo casamento como no trabalho muitas jovens receberão os conselhos dinossáuricos da família, que ainda não se atualizou. Dificilmente ouvirão algo em seu benefício. Delas se espera o respeito à família e à sociedade, a submissão ao pai e ao marido. Que gerem filhos, cozinhem. O que menos se pensa é na realização como empresárias, líderes e cidadãs.
  Mas se decidirem empregar-se ? Cairão no império dos homens. Com facilidade tornar-se-ão objeto sexual, principalmente se forem atraentes. O chefe rejeitado vingar-se-á. A competição terá outros valores .
  De qualquer forma homem e mulher precisam trabalhar, sentirem-se úteis, sustentarem-se. O trabalho dá condições para sobrevivência física e mental. É essencial a uma vida sadia. Os consultórios de psiquiatras vivem cheios de pessoas que não precisam trabalhar, lutar para viver. A sensação de vazio, conseqüência da inutilidade, é mortal. Todos ansiamos subir na escala social. Todo ser humano precisa se respeitar, sentir-se útil, importante. É melhor que o seja de uma forma positiva e não fútil, inútil.
  Assim, para sustentar nossos filhos, termos e merecermos a admiração da sociedade, conquistarmos alguém, precisamos ter capacidade de trabalho e aplicarmos esta competência positivamente. Por tudo isto a profissão é uma opção vital. Uma decisão errada poderá custar muito caro.
  A escolha do melhor caminho profissional será motivo de satisfação, de realização, de equilíbrio pessoal e social .



  8. Engenharia

  Entre as muitas profissões falarei da Engenharia porque sou engenheiro. Assim, com mais propriedade poderei discorrer sobre uma atividade que exerço há três décadas. Muito do que direi a respeito vale para outras profissões. Falo com orgulho desta especialidade que adotei porque pude senti-la em toda a sua potencialidade, percebendo que nela tem-se a oportunidade de uma vida sadia, até ingênua.
  Construir, manter e refazer casas, estradas, usinas, computadores, cidades e palácios. Estas são, entre muitas, as atividades de engenheiros com seus companheiros técnicos, artífices e operários. Muitas são as profissões possíveis. Entre muitas a Engenharia é uma das que melhor corresponde ao ideal da utilidade, da produção.
  Usando as chamadas ciências exatas o engenheiro projeta, constrói, opera e mantém fábricas, cidades e estados que de outra forma seriam aglomerados selvagens de seres humanos.
  A Engenharia também produz armas e venenos. O engenheiro é um profissional que muitas vezes esquece o objetivo de suas obras. Um filme famoso mostra bem o comportamento e envolvimento de um profissional em um projeto errado: “A ponte sobre o rio Kwai”. Um oficial inglês e dezenas de prisioneiros em um campo de concentração japonês participam da construção de uma ponte ferroviária sob o comando dos oficiais inimigos. Incomodado com as trapalhadas  dos japoneses na construção da ponte, ele e seus comandados feitos prisioneiros  decidem colaborar na obra, até para terem uma distração. A ponte é feita com um bom padrão e, pronta, aguarda a passagem do primeiro trem. Surge um comando aliado para destruí-la. Qual a reação inicial do oficial inglês? lutar contra este comando porque pretendia destruir “sua” ponte. Naquele momento ele esquecia a finalidade daquele projeto, transportar soldados japoneses para a frente de batalha onde seus compatriotas seriam mortos. Apenas sua ponte lhe preocupava.
  Quantos profissionais não têm comportamento semelhante? o exercício de uma profissão exige consciência de suas finalidades para não fazermos pontes indesejáveis sobre rios estranhos.
  O jovem ao escolher sua profissão tem o desafio de procurar um caminho compatível com suas pernas e cultura, ao optar por um trabalho estará mostrando seu caráter. A Engenharia, como exemplo, é uma profissão especialmente alienante ao envolver o profissional em desafios às vezes distantes dos propósitos daquele jovem imberbe que procurava uma faculdade para o vestibular.
  É uma profissão apaixonante quando se tem a felicidade de trabalhar em bons projetos, terrível quando se cai na mediocridade ou em trabalhos menos dignos.
  Mas vale como tema da discussão do projeto de vida de qualquer cidadão.
  O que fazer? por que? como?
  Assim podemos dizer que a Engenharia serve como modelo para uma proposta de vida. Ao receber seu diploma o recém formado, compelido pela necessidade de sustentar-se, casar e manter uma família entende que o mais importante é começar a trabalhar. Onde? não interessa? o principal é ter o famoso emprego? o tempo mostrará como esta decisão terá sido correta ou não.
  Uma bela carreira poderá ser a do engenheiro. Deixará sua marca em muitos blocos de concreto ou mantas de asfalto .
  A Engenharia, tendo-se o cuidado de sua aplicação, é uma belíssima profissão. Em torno de equações, leis naturais, transformamos a natureza com esta ciência, ajustando-a aos interesses humanos.
  Esta é uma atividade que acrescenta valores. Gera produtos reais. Existe.
  Aqui, falando como engenheiro, quero dizer a meus filhos a satisfação que tive optando por esta profissão.
  Um grande ensinamento da Engenharia é a disciplina, o respeito às leis da natureza. O engenheiro não consegue enganar as leis da física ou da matemática. Não adianta escrever dez ou mil páginas argumentando a favor ou contra qualquer relação natural. Só funcionará aquela que estiver correta, precisamente fiel ao que as leis da natureza disserem. Evidentemente o engenheiro trabalhará sempre com aproximações. Quem sabe quais são exatamente as leis da física ou da química? a verdade é que a natureza coloca-se na mente do profissional da Engenharia de uma forma severa, dura. A qualidade do profissional poderá ser medida por sua habilidade em conhecer, respeitar e usar o que o Grande Arquiteto do Universo determinou.
  A Engenharia permite a seu profissional atravessar fronteiras, a expressar sua competência em muitos lugares. Nas suas mãos estará a possibilidade ou não de sobrevivência da humanidade. Como estarão as cidades daqui há um século? a Engenharia terá encontrado a forma de alimentar, transportar, aquecer, abrigar e servir água à população então existente?
  A qualidade de vida e a própria vida dependerão do trabalho intenso e criativo de nossos engenheiros.




  9. Educação

  Educar filhos, ensinar, aprender junto, eis aí um grande desafio .
  O melhor comando, a melhor lição é o exemplo. Em nossas atitudes mostramos concretamente em que acreditamos. Mas que exemplos? o que será melhor? como transmitir as melhores propostas e reprimir nossas piores imagens?
  A sociedade, por sua vez, é ambígua, sugere um caminho e valoriza outro. O poder e a riqueza são os principais elementos de admiração e aceitação. Infelizmente o ser humano por ser um animal com vida, dependendo de uma série de fatores para sobreviver, muitas vezes aproxima-se dos poderosos para ter mais segurança, na chance dos chacais. A riqueza material é um fator de respeito e temor. Tendo-se dinheiro entra-se em qualquer lugar. O resultado é termos uma sociedade materialista, cheia de imagens falsas, cínica e hipócrita. A honestidade, o patritismo sadio, o respeito pelo ser humano praticamente não existe nesses escalões. O que importa é a marca e o ano do carro, o clube que se frequenta, o número, duração e destino das viagens internacionais, a griffe da roupa, etc. O culto à inutilidade é a marca da alta sociedade moderna. Na sociedade de consumo a indústria e o comércio dependem da supervalorização de objetos e hábitos supérfluos.
  Outros trabalham, lutam honestamente para conquistar pequenos espaços, ganhos aparentemente medíocres mas suados, justos. O que fazer para ter riqueza? segurança? autoridade? o caminho mais longo é o do trabalho decente e honesto. Muitos preferem atalhos...
  O que propor aos filhos?
  Ensina-se o que se sabe e pode.
  O que deveria nos preocupar? o que seria mais importante? saudável? o sucesso? a felicidade? a passividade? a agressividade?
  Muitas religiões pregam o amor ao próximo, a caridade e até o ascetismo. Uma vida dedicada ao próximo e à própria existência é a melhor mensagem. Procurar egoisticamente preservar purezas inúteis para conquistar um lugar no paraíso é uma forma alienada de viver. Talvez por isso um santo, tendo tido uma vida absolutamente limpa, irá para o inferno se pecar gravemente segundos antes de morrer e um pecador ganhará o paraíso se souber arrepender-se na hora certa. Talvez muitos cristãos não tenham percebido aí a determinação divina ao trabalho, ao exercício da vida. Para se ter uma vida santa muitos a tornam inútil. O fundamental é preparar-se para a vida e nela exercitar as melhores lições.
  É interessante observar que a educação mereceria um plano estratégico a ser feito pelos pais e educadores. Diretrizes, objetivos e metas bem definidos. Educadores e educandos planejando, avaliando, ajustando o processo de formação.
  Os pais, principalmente, precisam conscientizar-se da imensa responsabilidade que é ter e educar filhos. Um filho é um grande compromisso com a vida, não simplesmente um objeto de prazer ou vaidade .
  Muitos casais perdem seus filhos por não estudarem e aplicarem um método correto para educá-los. O problema começa pelo distanciamento, a falta de acompanhamento, a omissão. Com quem andam as crianças? o que ouvem e o que pretendem? principalmente quando pai e mãe trabalham fora de casa, o processo educacional corre riscos sensíveis.
  Em qualquer situação, contudo, é importante observar comportamentos, reações e idéias. É incrível a ignorância e alheamento de muitos casais em relação a seus filhos.
  Os pais são os grandes paradigmas. Qualquer criança precisa dos pais, depende deles com uma intensidade mal avaliada. Não interessa à maioria dos adultos refletir sobre suas responsabilidades. Compreender a importância da paternidade seria inibir o divórcio, o futebol e as noitadas com os amigos, o comodismo da liberdade sem responsabilidades.
  Em uma sociedade urbana moderna tem-se poucos filhos. Essas crianças precisam dos pais até como parceiros de jogos, brincadeiras .
  No convívio o que dizer e mostrar?
  Além da religião, transmitimos valores éticos, morais. Cada família, consciente ou inconscientemente, desenvolve um padrão que os filhos apreendem, captam em suas sutilezas .
  Em casa a disciplina ajudará na vida profissional e moral. A capacidade de dedicar-se com firmeza a um trabalho, respeitando suas restrições, desafios, prêmios e preços é essencial ao sucesso profissional. O excesso de disciplina inibe a criatividade mas a ausência é uma tragédia. Em qualquer ambiente cobra-se comportamentos. Saber ajustar-se é uma condição de sobrevivência. Esta disciplina pode passar pela divisão de tarefas domésticas, postura às refeições, higiene e tratamentos pessoais. Uma família harmoniosa gera pessoas felizes, ajustadas. É difícil entender a meneara com que muitos pais tratam seus filhos. Alguns mais por comodismo do que qualquer outra coisa aceitam qualquer vontade de seus filhotes. Dão-lhes tudo para não se incomodarem. Outros procuram oferecer aos filhos tudo aquilo que julgaram ter perdido na juventude. Esquecem-se de que educar é estabelecer limites, criar valores, mostrar padrões. A responsabilidade dos pais é intransferível, indelegável. A maior é preparar seus filhos para as lutas da vida.
  Outra questão muito séria é a eleição de uma escola. É talvez a mais importante, principalmente havendo alternativas. Lá dentro o jovem formará seus valores sociais, aprenderá a identificar autoridades, valores públicos. Nos pátios escolares formará seu time, sua gangue. Participará de competições, será admirado ou rejeitado .
  É comum admirar-se uma escola pela rigidez moral ou disciplina. No passado deve ter sido um bom modelo. Ainda o é para determinadas carreiras. No mundo moderno, contudo, deve-se procurar um ambiente em que a disciplina, aliada à responsabilidade dê espaço à criatividade, à iniciativa, à ousadia. Os filhos devem poder discutir com os pais o ambiente escolar, a qualidade dos professores, o rendimento obtido. Infelizmente muitas escolas têm em seus quadros pessoas sem qualidades psicológicas para o magistério Uma boa escola alia fatores positivos, desenvolve o jovem em todos os aspectos desejáveis em um cidadão livre e responsável .
  Escolas mal estruturadas e mal equipadas são o padrão brasileiro.
  Nos colégios, em seus portões e caminhos teremos o perigo das drogas. Em casa nunca será demais falar deste assunto com clareza e, no acompanhamento diário, observar o estado físico e mental dos filhos. Nos seus primeiros sintomas merecerão tratamento profissional e vigoroso. Cada droga tem uma relação de efeitos identificáveis com atenção. Conhecê-los e estar atentos é obrigação dos pais. A eterna vigilância é o compromisso de todos em uma sociedade que se agiganta e perde valores de cidadania .
  Outro problema grave é a violência. Não é raro os pais terem os filhos como espectadores obrigatórios da teatralização de fanfarronices e brutalidades .
  Pais imaturos acabam por transmitir aos filhos padrões de agressividade que mais tarde poderão transformá-los em criminosos. Os adultos muitas vezes apenas encenam personalidades, as crianças poderão assumi-las efetivamente .
  No trânsito das cidades é normal vermos carros cheios de crianças sendo dirigidos por verdadeiros assassinos. Que imagens são colocadas nas cabecinhas desses meninos e meninas?
  Infelizmente a violência, aliada ao egoísmo é mais do que freqüente nos meios de comunicação. Super heróis que mais apropriadamente seriam super assassinos são mostrados como modelos idealizados de seres humanos. Sociedades guerreiras, geradoras de exércitos, apresentam paradigmas belicistas, violentos. Essas “espartas” modernas, infelizmente, são detentoras de alta tecnologia. Ciências e equipamentos desenvolvidos para suas guerras agora servem para dar lucros a empresários da brutalidade. A máquina de guerra preocupa-se em produzir soldados.
  A violência gera violência. A violência produz ódios. O ódio afasta o amor, a felicidade. Torna as pessoas intolerantes, agressivas, amarguradas.
  Educar os filhos para a tolerância, o amor, a humildade é uma forma de fazê-los mais felizes.
Vale a pena insistir na imagem e efeitos do automóvel. Uma forma grave de violência é induzir os filhos a dirigir em grande velocidade, a não respeitar pedestres, a ter no carro uma forma de competição e agressão. No Brasil ainda não despertamos plenamente para os aspectos negativos do transporte individual, motorizado. Todo ano dezenas de milhares de brasileiros morrem ou ficam aleijados pela imprudência de bandidos camuflados de motoristas. Talvez porque parentes de nossos ministros e legisladores estejam nesta categoria de feras ainda não se fez uma legislação severa para os crimes de trânsito .
  Ensinar os filhos a se beneficiarem dos equipamentos modernos sem deles serem vítimas é uma obrigação dos pais e educadores .
  O processo educacional é complexo e casos especiais exigem posturas, mensagens adequadas, ação especializada. Parece óbvio mas a atitude de muitos é estabelecer um padrão e penalizar aqueles que não se ajustarem ao modelo .
  É comum ouvir-se : “não entendo , todos foram educados da mesma maneira e são tão diferentes”. Esta é uma declaração de ignorância e incompetência. Não existem duas pessoas iguais, logo não tem sentido tratá-las, educá-las exatamente da mesma forma. A personalidade de uma criança já nasce em grande parte definida por seu código genético. Ele dirá a dimensão e ação de suas glândulas, o nível de inteligência, a forma física. Como, portanto, imaginar que um mesmo padrão educacional dará a todos os mesmos efeitos? como penalizar uma criança que tiver outras exigências? a massificação do ensino reduz custos mas segrega muitos que se perdem por falta de pequenos ajustes.
  A simplificação de imagem é conveniente aos juristas e sacerdotes. As leis são feitas partindo-se do princípio de que existe auto determinação. Esta fantasia tão a gosto daqueles que apreciam despachar pessoas para o inferno é prejudicial ao processo educacional. Nas escolas vivemos uma sucessão interminável de provas. Testes e mais testes dão orgasmos a muitos professores. Decidir sobre o futuro de pessoas indefesas é talvez o grande poder dado a mestres nem sempre capazes.
  Não é difícil perceber as características de uma criança. Em sua espontaneidade ela mostrará sua índole com clareza. Tendo-se consciência disto os pais e educadores devem ajustar-se pois do sucesso deles poderemos ter menos violência e sofrimentos. A habilidade e determinação darão como resultados a felicidade e o sucesso da família.
  Basicamente teremos em torno da preocupação “educar” a manifestação de todos os preconceitos e frustrações dos pais e professores assim como, no aspecto positivo, a realização, a afirmação de projetos e ideais mais nobres.
  A visão deste compromisso mostra a dimensão do casamento, da paternidade e da escola. Vivemos uma época de culto à vida lúdica, da competição egoísta, da afirmação de valores negativos . Neste cenário não é fácil administrar um plano pois os pais têm contra si um mundo de vetores contrários, mais interessados em transformar seus filhos em consumidores ou em objeto de perversões .
  O desafio da liberdade é vencer a liberdade dos poderosos. Eles controlam a mídia, o lazer, as religiões ...
  Educar é capacitar o educando a resistir a tudo isso preservando e desenvolvendo os melhores valores morais, éticos, profissionais, sociais e individuais.
Fazer com que os jovens enfrentem a vida sem ilusões de ganhos fáceis e prazeres sem compromisso. Disciplina, honra, dignidade, bondade e energia são absolutamente necessários a uma vida sadia. O grande sucesso será a tranqüilidade moral e filosófica na idade adulta. A consciência livre dos pesadelos de maldades inúteis, da frustração da inutilidade, a certeza de ter dado o máximo de si é o prêmio daqueles que fizeram de sua existência um circuito honesto, produtivo e sério.


  10. Casamento

  O ser humano vive, exige rituais.
  A cerimônia do casamento talvez seja a mais significativa na vida de qualquer pessoa. Assim a celebração ritual do casamento normalmente é um espetáculo social, cheio de pompa e circunstância. O casal afirma o desejo de constituir família, diz publicamente que viverá um para o outro, permite aos pais mostrarem que cumpriram seus deveres...
  A amplitude do compromisso geralmente não é avaliada corretamente. Principalmente em pares jovens a mútua fascinação, a paixão e a própria ignorância  não lhes deixam ver a dimensão de suas decisões. E como haveriam de fazê-lo? falta-lhes experiência, malícia e paciência.
  O namoro que precede ao casamento não mostra muitos aspectos da vida e da personalidade das “vítimas”. Questões fisiológicas, caprichos, disposição para o trabalho, para a luta pela sobrevivência só aparecerão em toda a sua plenitude com o tempo. Muitos casamentos falham porque os casais não se dedicam ao seu sucesso. A vida em comum acaba revelando detalhes eventualmente insuportáveis um do outro .
  O casamento tradicional é falho como instrumento de felicidade. Teve sucesso em uma sociedade machista. A esposa era escrava do homem. Em casa a mulher dedicava-se aos filhos enquanto o homem exercitava seu império sexual até onde seus recursos financeiros e dotes físicos o permitissem. A mulher ignorante desconhecia seus direitos de ser humano. Submetia-se a toda sorte de violências. Ainda hoje vemos que grande parte das prostitutas são mulheres expulsas de casa pelos próprios pais. Famílias incapazes de aceitar erros de suas filhas, vítimas de ambientes onde a mulher ainda é vista como a virgem que servirá ao marido quando casar.
  Na atualidade, em nosso mundo ocidental, em que a mulher é relativamente livre, tem profissão, luta por seus direitos, o casamento exige outras condições
  É comum os velhos falarem mal dos jovens. A inveja salta de seus olhos ao perceberem que as novas gerações tem a coragem e as oportunidades que não ganharam ou conquistaram. Os mais velhos defendem as instituições a que se submeteram. O casamento tradicional é uma delas. À medida que novas formas de relacionamento familiar acontecem, surgem os conflitos. Principalmente em pequenas cidades a dominação cultural é mais sensível e odiosa. Bertrand Russel, no início deste século, falava muito deste padrão de comportamento em sua Inglaterra vitoriana. Livros como “Princípios de Reconstrução Social”, “Ensaios Céticos” e “Ensaios Impopulares” deste grande filósofo merecem ser lidos, estudados, discutidos com atenção. Continuam atuais.
  Como é lindo observar essa juventude mais consciente, dona de si, contrariando todas as gerações anteriores, elas que fizeram a bomba atômica, o nazismo, as grandes guerras. A cultura tradicional, ou seja, aquela dominante há meio século, tinha os vícios da má comunicação. As teses fascistas eram vistas com naturalidade por líderes, educadores e sacerdotes. O marxismo, em oposição, pregava a luta de classes, a revolução armada. Por todos os caminhos chegava-se à violência. A nova geração mostra-se melhor que as anteriores, o que também é natural. Vivemos em um mundo de grande volume de informações, de viagens, turismo como nunca se imaginou possível. Graças a tudo isso adquire-se cultura sobre bases mais realistas. O efeito sobre a família é violento. As afirmações e posturas dos pais são questionadas, comparadas.
  A televisão é uma janela para o Mundo. Por ela vê-se padrões e comportamentos de toda espécie. O principal foi quebrar tabus. O aquário em que se criava os filhos acabou. O desafio dos pais é serem convincentes. O desafio da família é existir dentro dessa realidade. O maior desafio dos casais é continuarem unidos apesar de todos os apelos à infidelidade, à irresponsabilidade e à aventura.
  Não há como negar que o casamento é uma fonte de renda para sacerdotes e advogados. Aos pais também é um momento importante pois acena com promessas de uma descendência e patrimônio administrados e, evidentemente, a realização dos sonhos de felicidade dos filhos. A sociedade tem aí a promessa de mais operários, soldados, intrigas, notícias e tudo o que a multiplicação humana produz.
  O amor, felizmente, é o grande impulsor à união permanente. Os jovens, principalmente, têm vitalidade e pureza para se apaixonarem. A atração pelo ser humano desejado surge com sentimentos de admiração, sensações de prazer e paixão que marcarão suas vidas para sempre. Manter esse espírito é o desafio de quem pretende manter uma relação saudável, gostosa e dignificante.
  Mas nem só o amor gera casamentos. Fugir de casa, a esperança de uma vida melhor financeiramente, uma gravidez precoce, medo da opinião pública, tradição e proteção são talvez fatores mais freqüentes. Assim é muito importante ter-se muita consciência do que se faz para não ser vítima de um processo que trará grandes efeitos sobre a vida futura .
  Em princípio o casamento formal em uma sociedade moderna só teria sentido para dar-se aos filhos ambiente e condições legais, morais, sociais e psicológicas para viverem. Para uma criança é extremamente cruel crescer sem pai e mãe. São frágeis, não pediram para nascer, precisam da segurança de uma família. Um lar constituído e feliz ser-lhes-á infinitamente melhor do que nascerem e crescerem sem uma base sólida, bem definida.
  O pesadelo de uma família desunida, sem amor, em clima de conflito, é um desastre para as crianças e jovens. É visível o trauma causado pelas desavenças do lar. Se em casa não encontram harmonia, inteligência e amor, onde achá-los?
  O ideal seria que os casais passassem por um período de vida em comum antes de confirmarem o desejo de se unirem em cartórios e igrejas.
  Qual o risco que se corre? um e talvez o pior seria o da vulgarização do processo. A mulher, de uma maneira muito especial, ficará sujeita ao perigo da degradação, promiscuidade e rejeição. Ela deverá ter um cuidado maior ao pretender viver com alguém. Até porque o homem tende a procurar outras, deixando para trás aquelas já conquistadas ...
  O grande erro de muitas moças é renunciar a uma profissão, à sua própria independência financeira, em favor de uma união que a destruirá, que poderá torná-la uma simples dependente. Mulheres inteligentes, com grande base cultural, acabam tendo uma vida medíocre, muitas vezes cheia de humilhações, porque se submeteram a um homem. Essa submissão vem da tradição, da tirania dos pais e da própria sociedade. Um fenômeno visível nos países do primeiro mundo é a ascensão das mulheres e a pequeníssima fertilidade dos casais. Uma razão simples é a necessidade de rendimentos maiores, condições habitacionais restritivas e hábitos de consumo maiores e mais sofisticados. O salário da esposa torna-se importante. De qualquer forma, sob o pretexto que for, a dependência deve ser evitada, eliminada. A liberdade é vital à evolução do ser humano.
  A democracia e a civilização exigem lares de pessoas livres e responsáveis.
  Entre as causas de casamentos entre jovens a gravidez precoce deve estar entre as principais. É algo que se abate sobre milhares de jovens a cada mês. Nessas ocasiões surge uma questão moral, ética de extrema gravidade. O dilema entre o aborto e o casamento.
  Se o casamento é uma temeridade, o aborto é um crime covarde.
  É inacreditável ver tanta gente defendê-lo. Pessoas radicalmente contra a pena de morte lutam pela legalização do aborto irrestrito. Sua defesa é uma demonstração da maneira superficial com que muitos de nós raciocinamos.
  Quando a vida começa? Vivendo em uma sociedade egoísta, insensível, competitiva, talvez possamos aceitar o aborto como um crime menor. Afinal milhões são condenados à morte por falta de alimentos, assistência médica, habitação, dignidade.
  Em um mundo em que o individualismo é valorizado ao extremo, nada mais natural que a lei das selvas. A violência é norma. Saber usá-la é virtude.
  Quem chora pelas crianças que não saíram vivas do útero de suas mães? seus pais têm o direito de condená-las à morte? não seremos todos responsáveis?
  O aborto não é solução para uma gravidez indesejada. A família é a principal responsável, cabe-lhe manter esta criança. A criança é responsabilidade de todos e principalmente daqueles que a geraram. Mas não deve ser pretexto para qualquer casamento. Unir-se a um indivíduo idiota, malandro, desonesto e irresponsável só porque dele teve o espermatozóide fatal é um terrível equívoco. Nestes casos é preferível procurar o apoio da família ou amigos pois conviver com alguém sem qualidades mínimas para o desafio do casamento é arriscar-se a agravar a situação. Um erro não justifica outro.
  Graças à AIDS o uso de preservativos é proposto em rádios e televisões. Os meios de comunicação aderiram ($) à educação sexual. Ótimo ! Talvez este seja o grande favor que a AIDS esteja prestando à Humanidade. Saber evitar a concepção é fundamental a uma sociedade que pretenda ser sadia. Programar a gravidez é muito importante à felicidade dos casais e de seus filhos. E o ideal é tê-los na certeza de que encontrarão um lar feliz, saudável, próspero e ansioso pelo novo rebento.
  Outro aspecto sensível é a sintonia social. O casamento une famílias. O que isto significa? a necessidade de convivência com pessoas que irão opinar sobre a vida um do outro, o sucesso profissional, religião, educação etc. Principalmente morando perto de parentes, estes terão influência no sucesso ou insucesso do casal. É impossível ser feliz quando se torna objeto da vontade de outros que não aqueles dentro do próprio lar. A menos que o caráter, a personalidade dos parentes seja não intervencionista, o ideal será morar bem longe deles.
  Compatibilidade de gênios e de cultura é essencial à vida em comum .
  A conversa do dia a dia, o gosto pelos esportes, música, cultura de modo geral será motivo de conflitos e confraternizações na vida familiar. A conversa de um casal enamorado é romântica, em torno de flores e amores. Após algum tempo de vida em comum o diálogo migrará para o mundo real. O sexo, resolvido durante a noite, dará lugar a outros fatores de contato. Assim a afinidade será cobrada com rigor. Um erro de avaliação poderá custar caro.
  Por tudo isso o casamento formal e a geração de filhos merece extremos cuidados. Um casal feliz é uma unidade forte, poderosa. O amor constrói belos edifícios. Saber o que é o amor e tê-lo como base de um relacionamento permanente é ter o paraíso na Terra. Não podemos esquecer, contudo : para que o amor exista e resista muitos pontos de harmonia são necessários.
  O casamento deverá ser o resultado de um longo processo de aproximação. Dele virão os filhos. Eles deverão encontrar pais felizes e capazes de sustentá-los. O futuro da humanidade dependerá mais da paternidade consciente e responsável do que de qualquer outro fator social.
  A formalização de uma união e a geração de outros seres humanos não é brincadeira, espetáculo pirotécnico ou exercício de cartório.
  Toda poesia tem espaço em um relacionamento sem filhos e compromissos. O relacionamento livre e responsável é necessário. Através dele, mais cedo ou tarde o amor consolidar-se-á acusando a conveniência de um casamento do qual virão filhos felizes e saudáveis.


  11. Sexo

  Nada se compara ao sexo como fator de estimulação e ordenamento da vida. Sob todos os aspectos a definição sexual influi na formação física e psíquica de todos os seres humanos. Já nas crianças pequenas os hormônios vão marcando posturas, idéias e formas que explodirão na puberdade.
  O jovem carrega todo o peso e o prazer de sensações e sentimentos que, bem administrados, farão dele um adulto saudável e feliz. Infelizmente muitos preconceitos tornaram o sentimento sexual algo pecaminoso, sujo. O instinto sexual é maravilhoso e essencial à vida. Sua importância transcende a inteligência da grande maioria das pessoas consideradas racionais. Seu caráter animal dá-lhe uma imagem negativa, principalmente diante de pessoas educadas para temê-lo. O desafio da criança, do jovem e adulto é administrar este sentimento com dignidade e responsabilidade sem lhe tirar o imenso potencial de prazer e de estimulação do amor.
  Compreender e aceitar sua sexualidade é vital ao bem estar, à própria saúde.
  Infelizmente temos em torno do sexo muitos tabus, uma história repressiva, preconceitos doentios. Não é difícil compreendê-los. A idade das trevas é recente e persiste em muitos lugares do planeta. Indivíduos frustrados tornam-se censores, críticos daqueles que expressam sua felicidade e liberdade. Religiões construídas em passado distante ainda governam pessoas muito próximas. Tabus e preceitos feitos para florestas e desertos estão presentes à nossa volta.
  Muito da repressão foi estimulada sutilmente para aumentar a agressividade, a disposição para certos trabalhos, para o controle filosófico que explora os mistérios de corpos e mentes em transformação e cheios de atrações compulsivas.
  Soldados lutam melhor se a tensão sexual estiver exacerbada, sacerdotes lucram com o sentimento de culpa do prazer oculto pelas regras puritanas.
  Como viver de forma saudável? quais são os limites? como tirar o máximo de proveito de impulsos tão naturais quanto misteriosos? e suas conseqüências? o que é justo aceitar?
  Basicamente é fundamental que as experiências não sejam forçadas, venham a seu tempo, corpo e mente amadurecendo.
  Atrasar o processo é vantajoso quando lembramos a necessidade de independência financeira, do emprego, do famoso dinheiro. Nas selvas o “homus sapiens sapiens” podia comportar-se como um coletor e predador. Muito cedo este selvagem aprendia a sustentar-se e a procriar. Na selva de pedra há diferenças, em especial a dificuldade de sobreviver e sustentar sua prole. Assim é importante que atenção seja concentrada na prática de esportes, nos estudos, no desenvolvimento profissional e cultural até poder governar-se e responder por seus atos.
  Brasileiros, vivemos em um país mítico em que se arbitrou ser a nação responsável por tudo e por todos, inclusive nossos desmandos sexuais. Para não se ter a infelicidade de se transformar em demonstração dessas utopias, devemos ser cautelosos e compreender que pagaremos caro, nossos filhos muito mais, se não controlarmos nossos impulsos sexuais. A vida sexual exige prudência pois seus efeitos na própria personalidade e todos os riscos inerentes à sua natureza são muito grandes. A vulgarização, sua transformação em simples “esporte” trará conseqüências danosas a pessoas que deveriam ser motivo de carinho, respeito e amor.
  O sexo é dinamite. A estimulação precoce causará  uma infinidade de problemas que o jovem não terá como resolver.
  A prática sexual leva ao relacionamento íntimo com um parceiro(a). A troca de experiências, prazeres e atenções faz do casal uma dupla em que as portas da intimidade estarão mutuamente escancaradas. Nesse momento o espeito recíproco ganha um significado especial. Compreender a importância dos segredos, das confidências, de intimidades tão guardadas é um ato de humanidade, de grandeza moral. À medida que macho e fêmea se respeitarem o relacionamento mais íntimo virá como um ato de amor e com o compromisso de não magoar, não ofender. Um aspecto terrível do sexo é ser instrumento de agressão e de afirmação pessoal. Ninguém precisa provar a estranhos sua postura sexual. No momento certo as oportunidades virão.
  Compreender e amar o próximo é lei divina. No relacionamento sexual teremos a maior prova de compreensão desta lei.
  É óbvio que todos estão sujeitos a erros de avaliação. Nem sempre a boa qualidade de um contato social confirma-se no ato sexual.
  É importante haver experiências antes da consolidação de um casamento. A ignorância torna as pessoas frágeis. Para que um jovem desenvolva sua visão e sentimentos em torno do sexo ele precisará conhecer e vivenciar seus segredos. Muitas armadilhas colocam-se no caminho dos jovens pares amantes. Precisam ter uma boa dose de convicção de seus sentimentos antes de resolverem procurar um cartório, arranjar sogra e sogro, ter filhos.
  Amar não é sinônimo de “transar”. Lamentavelmente usa-se a expressão “fazer amor” para a consumação do ato sexual. Talvez por isso muitos vivam sem saber o que é amar. Infeliz o que não souber distinguir as duas coisas. Devemos sempre ter a intenção de amar. A aproximação sexual exige atenção, afeto para não brutalizar, sujar um ato que no mínimo é o preâmbulo da vida.
  Outro aspecto importante é a relação entre o sexo e uma coleção de doenças. Saber identificá-las, evitá-las e, principalmente, procurar assistência médica ao primeiro sinal é condição de saúde, higiene. Em tempos de AIDS é questão de sobrevivência. Os preconceitos atrapalham. Vencendo esta barreira deve-se procurar instrução em literatura apropriada, educadores e, evidentemente, os próprios pais.
  É importante lembrar que em torno dos hormônios despejados no organismo para construção e operação do padrão sexual do jovem, excessos e deficiências criarão perturbações até graves. Em especial a violência, a agressividade poderá surgir causando conflitos de toda espécie. Por essas e outras a legislação sobre o menor tem a prudência de protegê-lo, de considerá-lo menos responsável. Aos pais cabe o dever da vigilância, da orientação e do acionamento de especialistas. O corpo humano é uma máquina exigente, carente de cuidados permanentes.
  Mas com tudo e por tudo a definição sexual traz a maravilha da mútua atração, de imensas possibilidades de prazer e, acima de tudo, o sentimento do amor mais intenso e gratificante.
 


  12. Amor

  Quantas espécies de amor existem? de quantas maneiras pode-se amar? qual a intensidade máxima? a duração possível? qual é a melhor forma de amar e ser amado?
  Poucas palavras são tão usadas quanto “amor”. Poucos sabem o que é amar.
  O amor é o principal caminho rumo à felicidade. Muitas religiões dizem, mostram, afirmam direta ou indiretamente que o paraíso será atingido por aqueles que souberem amar. Os fundadores dessas seitas, em suas conjecturas a respeito da natureza humana, devem ter percebido quanto é importante encher o coração de ternura, afeição e até paixão pelo ser humano, a vida, a natureza, o universo, pela obra do Grande Arquiteto do Universo. Querer a felicidade de todos, desejar o bem até a nossos inimigos é algo que exige muita capacidade de compreensão da vida. Lembrar que tudo o que vemos é uma conseqüência de fatores diversos e alheios à vontade de todos, que somos o produto de circunstâncias aleatórias e determinadas pelo circuito de eventos naturais é necessário para que saibamos perdoar, querer, ser e , acima de tudo, desejar o sucesso de existências as mais diversas.
  Somos, contudo, animais eventualmente racionais. A lucidez não é nossa grande virtude. Nossos corpos gritam necessidades que imperam sobre nossas inteligências. Escravos dos instintos agimos sem muito pensar. Há, contudo, uma consciência imersa dentro de nossos cérebros. Percebemos quando erramos. Intuitivamente notaremos mensagens dizendo-nos que no excedemos. Talvez seja oportuno falar no plural. Vale um pouco de filosofia. o desafio de questões como : “Quem somos? Realmente puros indivíduos? Não seríamos parte de um todo? De uma grande inteligência?”.
  Vivemos sob o império de ordens genéticas responsáveis pela sobrevivência da vida. Todos os animais têm a determinação da sobrevivência. A atração pelo sexo oposto é dominante. O resultado é sermos movidos por forças alheias à inteligência fria. O pensamento, a análise, a lógica dos fatos visíveis é apenas um pequeno sinal do infinito sob a capa de um grande mistério. A vida, com toda a sua complexidade, ainda não encontrou quem a explicasse razoavelmente. Vemos e ouvimos frases de efeito, simplistas, metafísicas. A verdade pura, entretanto, provavelmente nunca será conhecida.
  No mundo concreto, visível e compreensível por nossa pequeníssima inteligência, sentimos o império do sexo. As relações humanas, impregnadas por nossos instintos, dizem-nos o que fazer. O sentimento do amor, em suas formas mais primárias, é onipresente. Nisso tudo qual é a forma de sua manifestação?
  Os jovens são as principais vítimas das convenções. Entre muitas o que se diz ser amor é a principal armadilha.
  O sentimento de posse, a procura da segurança, a luta pela sobrevivência, os padrões sociais e econômicos fazem do amor instrumento de conquista e afirmação. O verdadeiro ato de amar é ignorado, desprezado até, e por isto mesmo algo literário, poético e pouco freqüente.
  Muitos casais se formam acreditando amar-se o suficiente para enfrentarem juntos os desafios da vida. Mais tarde, ao virem a descobrir grandes amantes, sentirão, então, toda a extensão possível do sentimento de amor, apaixonante, envolvente, gratificante.
  O amor sexual, tendo junto a admiração cultural, gera uniões poderosas. Casais assim formados poderão vencer barreiras inimagináveis. A suprema felicidade será companheira.
  O amor tem sua forma social também. Senti-lo em relação a todos, na satisfação de querer o bem, a felicidade para todo ser humano é algo que torna as pessoas solidárias, positivas. Infelizmente a hipocrisia também existe. Quantos dizem amar o próximo quando realmente só procuram garantir um lugar no Céu ou alguma notoriedade?
  O amor é antes de mais nada um sentimento de ternura, simpatia, bondade e altruísmo. O amor não é egoísta. Querer ter deve ser apenas conseqüência de uma admiração pelo objeto de afeição. O amante verdadeiro, antes de mais nada, quer a felicidade do ente querido. O desejo sexual, natural quando o afeto surge entre pessoas que se atraem fisicamente, fará com que o amor se manifeste em sua forma mais intensa. Quando isto acontece teremos duas pessoas apaixonadas, escravas uma da outra. A felicidade é tão grande que compensa até o risco de perdê-la. A vontade de abraçar, beijar e transar é imperiosa. Perder a oportunidade de viver momentos de amor é renunciar à vida. Um grande amor, ainda que temporário, vale uma vida. Quem sentiu o amor sexual em sua plenitude sabe quanto é válido encontrá-lo, senti-lo mesmo que por pouco tempo. É um sentimento que absorve todas as energias, mobiliza todos os sensores, enche de vida cada centímetro de pele, bloqueia outras preocupações. Qualquer lado que se olha, vê-se o ente amado. Os pensamentos convergem para os momentos de ternura, de carinhos que não param...
  Falar sobre o amor é descrever um conjunto de sentimentos que se manifesta em muitas escalas. A suprema felicidade, ainda que temporária, é o prêmio a quem sentir e viver um grande amor.
  Devemos amar a natureza, a vida, o ser humano. Não seria esse o primeiro mandamento da lei mosaica?
  O amor em todas as suas manifestações também gera tristezas. A perda do ente amado, a infelicidade de ver a violência, os conflitos, as guerras entre tribos e nações são motivos de angústia, infelicidades até brutais. Aceitar o desprezo de quem se ama é terrível assim como é difícil compreender os radicalismos, o fanatismo e a mútua destruição por utopias, fantasias, objetos e espaços que poderiam ser tão bem compartilhados.
  A incapacidade de amar talvez seja a doença mais grave de muitos de uma população que não encontra solução para suas contradições.
  O amor completo, permanente, exige seriedade, responsabilidade e compromisso. Um ser inteligente não pode ignorar as conseqüências dos seus atos. Isto significa compreender os efeitos de uma aproximação, avaliar e responder por suas atitudes. Como exemplo das contradições da vida vale lembrar o comportamento de muitos que lutam pela justiça social, assumem riscos enormes na vida pública e, entretanto, tratam suas namoradas como produtos descartáveis, ignoram filhos ...
  O amor e o sentimento de justiça são as grandes marcas de um indivíduo civilizado.
  Um aspecto empolgante no sentimento de amor é como ele envolve a pessoa quando despertado pela presença de alguém que a fascine. Compreender e dominar a revolução que acontece no corpo e na mente à aproximação do ser amado, desejado, administrando-se para que suas atitudes não sejam uma agressão e sim a manifestação do mais puro sentimento de carinho é uma demonstração de maturidade e autocontrole. A liberação dos instintos deve ser precedida da consciência de todos os possíveis efeitos. Esta é talvez uma postura impossível mas desejada. A pior conseqüência do amor sexual é um filho indesejado, inoportuno. Uma criança é uma grande responsabilidade, a afirmação da vida, um compromisso com o futuro. Por isso um casal deve refletir muito sobre o que faz. E neste ponto vemos muito pouco de orientação nas escolas e na mídia. Ao contrário, romantiza-se o amor e não se mostra seus riscos. As novelas são entre famílias ricas, quando não alguém ganha na loteria e tudo se resolve. Planejamento familiar é assunto praticamente desconhecido .
  E os outros padrões de amor? Percebemos na pele, no peito, nos olhos e ouvidos o prazer de sentir belos quadros, músicas, veludos, frases...Gostamos, queremos, desejamos e amamos. Assim a sociedade se movimenta. Estamos sempre procurando objetos e sensações que amamos. Entramos em sintonia. Corpo e alma vibram em muitas freqüências. Temos um padrão complexo de ressonância. Assim sentimos, gostamos. Esta capacidade extremamente sutil de querer sem pensar, de sentir, de ver sem saber, aproxima-nos de Deus. Nossa metade não aritmética do cérebro atua com seus algoritmos misteriosos, não lineares, probabilísticos e geniais. Desenvolver estes sentimentos é gratificante. A vida ganha colorido, alternativas. Saber amar uma bela paisagem, o barulho de um riacho, da chuva, o cheiro da terra molhada pelas primeiras águas, o perfume de uma orquídea, uma rosa é uma qualidade divina, lúdica, prazeirosa. Enfim a vida nos concede muitos sabores que se transformam em amores tão refinados quanto formos capazes.
  Mas um grande amor é aquele que atingimos quando nosso coração se abre. A capacidade de ver e amar a natureza como um todo é privilégio de alguns em sua mais elevada escala de aprimoramento intelectual e moral. É a perfeição.
  Dominar o ódio, os ressentimentos, integrar-se à natureza deve ser o projeto de todo aquele que realmente quiser entender a vida.
  O amor é nosso objetivo, por ele seremos felizes ao mesmo tempo em que saberemos ser úteis.


                        13. Fidelidade sexual

              Um desafio de um casal, na atualidade, é manter-se unido apesar de todos os desvios do comportamento arbitrado ao decidirem viver juntos. O ambiente hipócrita de até bem pouco acabou. O clima de arbitrariade e intervencionista escondia questões semelhantes às de hoje. A liberalização de costumes mostra aspectos da vida humana com mais clareza e vemos, atualmente, o que sempre existiu. No passado a censura escondia e, nos traumas dos pecados, as perversões talvez fossem maiores.
           No mundo ocidental a abertura política, social e econômica das mulheres assim como a liberação sexual levou-as a participar dos direitos e deveres masculinos, entre eles o de esquecer os padrões morais rígidos de poucas décadas atrás. Esta condição criou conflitos pesados nas propostas de fidelidade entre casais. Os direitos que os maridos julgavam ter agora também atingem suas esposas. Principalmente as mulheres mais lúcidas e cultas insurgem-se contra os privilégios masculinos.
           As aventuras amorosas são perigosas. Os casamentos duram menos, as separações tornam-se rotina. Isso não é bom, os grandes perdedores são as crianças, que acabam desamparadas e sem pais que lhes farão falta em suas fragilíssimas vidas. A sociedade ainda não desenvolveu uma alternativa para lhes dar carinho, proteção e educação.
           Tudo isso contribui para mudanças de planos e vidas. Entre os muitos fatores de dissolução familiar, obedecendo a códigos antigos, está a infidelidade conjugal. Até onde seria aceitável? É motivo para uma separação?
           A promiscuidade sexual sempre foi considerada nociva em qualquer sociedade razoavelmente lúcida. Fatores higiênicos, principalmente, condenam a multiplicação de parceiras(os). A intimidade do contato sexual é muito grande. Fazê-lo sem amor é usar as pessoas para um apetite que as destrói. O principal prejuízo é vulgarizar um ato tão maravilhoso e importante, levando seus atores a uma visão primária do contato entre seres humanos. Nessas condições, pessoas unidas pelos votos do casamento tendem a se perder. O matrimônio terá sido um erro. Filhos, existindo, terão o desprazer de não poderem ver seus pais como um par único. Em cenários onde o modelo clássico é mantido, as crianças poderão ser agredidas pelos prazeres dos pais.
  Entre o extremo da promiscuidade e o da fidelidade absoluta há muitas situações possíveis. É comum ouvir dizerem que seria normal um caso, uma experiência eventual. Curiosidade, paixões momentâneas, vinganças e tentativas de conquistar outra pessoa são motivos freqüentes de aventuras mais ou menos profundas. Qualquer que seja o rótulo, afetará para sempre o comportamento das pessoas envolvidas. As marcas dependerão dos sentimentos que despertarem e do grau de maturidade de cada um dos parceiros nesses jogos sexuais.
  É interessante notar como a vida inteira todos exercitam jogos sexuais em todos os ambientes que freqüentam. A conquista, o flerte, o ensaio é até óbvio em festas e encontros de amigos. Nos locais de trabalho, por exemplo, vemos na maneira de se vestir, no tom da voz, nos maneirismos a sexualidade falando. A sensualidade é muitas vezes suficientemente forte para levar casais eventuais às últimas conseqüências.
  Alguns padrões clássicos contribuem muito para investidas, entre elas um razoavelmente comum é o machismo, o problema de afirmação pessoal. Curiosamente parece que certos indivíduos duvidam de suas qualidades, precisando testá-las permanentemente. Outros simplesmente mostram-se escravos de instintos naturais, importantes em espécies ameaçadas de extinção mas perigosos em uma sociedade contaminada pela AIDS, herpes e outras doenças razoavelmente perigosas.
  A mídia, o culto à moda, o estrelismo levam muitos a fazerem coisas contrárias a tudo o que lhes seria recomendável. O resultado poderá ser a infelicidade, a perda de paradigmas sadios e a frustração após uma vida vazia.
  Os casais estão sujeitos a todo tipo de tentação. Principalmente quando são constituídos por indivíduos atraentes, a probabilidade de se envolverem com outras pessoas é muito grande. Nessas condições é fundamental haver um espírito de tolerância e muito amor. A capacidade de se  respeitarem e compreenderem situações eventuais é essencial ao sucesso de um casamento. Raros são os casais que permanecem unidos por muitos anos sem qualquer acidente. Exceto naqueles realmente sem capacidade de envolvimento, a infidelidade surgirá mais cedo ou tarde. E como reagir quando a(o) companheira(o) souber?
  Talvez no altar o padre devesse fazer esta pergunta aos noivos : continuarão unidos mesmo diante de alguma infidelidade eventual?
  A sobrevivência de uma família depende da capacidade de superar dificuldades. Ela é formada para que se dê um lar a crianças que deverão ser o produto do amor. Os sentimentos mudam. Dormimos com um estado de espírito e acordamos com outro. Por diversas razãoes biológicas e culturais mudamos sempre. Fazer afirmações sobre sentimentos futuros é desconhecer a própria natureza humana. Como diria Vinícius : “O amor é eterno enquanto durar”. Nada justificaria juras de fidelidade, convivência e amor que não fosse para criar os filhos gerados nessa união. A ausência deles dá aos casais a liberdade de qualquer separação, da procura de outros caminhos. Tendo-os haverá o compromisso de criá-los, educá-los, prepará-los para viverem felizes e dignamente. Este aspecto do casamento é muito importante. Não há necessidade de leis nem de sacerdotes para se perceber como a união dos pais é necessária.
  Isso significa conter orgulhos, vaidades e paixões. Pai e mãe deverão sempre pensar nos efeitos de suas decisões na vida de seus filhos. Se um erra, o outro deverá procurar agir de modo a minimizar os efeitos de falhas que todos possuem. Muitas vezes dá-se à questão sexual uma importância muito acima da real. O parceiro ofendido acreditará ter o direito de agir com violência, tumultuando um lar até então feliz e saudável.
  No amor o grande crime é destruí-lo.
  A infidelidade não é, obrigatoriamente, sinal de desamor, até porque pode-se amar muitas pessoas ao mesmo tempo. É um modelo falso apresentar o amor como sentimento exclusivo de um casal. É fácil apaixonar-se por pessoas que admiramos, principalmente se essas pessoas reunirem qualidades físicas e intelectuais sintonizadas às nossas. Os filhos são o fator excludente. Para criá-los há necessidade de concentração de afeto, recursos materiais, atenção. Para termos o direito de gerar descendentes, a fidelidade e a dedicação à família é vital.
  Proíbe-se o histerismo, a imprevidência e a violência. Com serenidade e inteligência e muito amor deve-se julgar situações que abalem um lar, por mais constrangedoras que possam ser. Cuidado com a opinião de estranhos. Ninguém pode avaliar com precisão o que um poderá representar para o outro. Decisões de casais a eles pertencem.





  14. Deus e Vida

  Quando garoto tive a oportunidade de observar uma seqüência que poderia retratar bem o que é a vida. Numa tarde de verão, num daqueles aguaceiros típicos de Blumenau, poças de água se formaram no solo argiloso em frente de casa, na rua. Naquela época o uso de automóveis era um luxo de poucas pessoas. A chuva passou. Brincando na rua notei a formação de um limo no fundo de uma poça d’água. Algumas horas mais tarde aquela camada verde já se apresentava espessa. No dia seguinte ela flutuava sobre a água. À tarde desapareceu com a própria água. Assim em algumas horas toda uma cultura vegetal desenvolveu-se, atingiu sua plenitude e desapareceu. O mistério da vida, seu aparecimento, temporalidade e beleza estavam naqueles litros de água e através deles a imagem de Deus.
  Um grande espetáculo dão as flores. Surgem bem devagar, abrem suas pétalas sem pressa, atingem o ápice de sua maturidade em alguns dias. Algumas produzirão sementes. Durante um tempo encantarão pela beleza, algumas também com perfumes inebriantes. Murcham e caem. O ciclo da vida completou-se para estas demonstrações de arte e beleza, da complexa dinâmica da natureza.
  A vida é a oportunidade que a matéria encontra de apresentar-se com mobilidade própria, capacidade de multiplicação, transformação, agregando-se algo que tem sido motivo de muita polêmica, guerras e religiões, o espírito.
  Aprendemos, infelizmente, a respeitar basicamente apenas a vida humana. Esta cultura fez do ser humano um predador gigantesco. A Terra transforma-se sob suas mãos. Todas as formas de vida sofrem sua presença.
  Mas a vida por si só é algo fantástico. Em todas as suas formas mereceria nosso respeito. O que a Natureza é capaz de produzir? não é a vida o que mais fascina? a vida não é, de acordo com as bíblias, o último ato da Criação?
  Quando falamos de ecologia e ambientalismo costumamos raciocinar com o que nos afeta, com o que põe em risco direto nossa existência. Mas todo o conjunto é importante, fazemos parte de um mundo que era rico em formas de vida, de imagens fantásticas, ricas. Paulatinamente estamos destruindo, matando. Parece até possível existirmos dentro de grandes ampolas, cercados de máquinas e tubos. Seres humanos viveriam felizes confinados em ambientes pasteurizados, sem outras vidas que não as suas?...
  A vida civilizada que pretendemos não é essa, alienante e mecanizada.
  A felicidade, requisito básico na motivação pela vida, exige sentimentos de integração, contato com a natureza em sua forma básica, primitiva e luxuriante.
  Os povos primitivos acreditavam em deuses pelo medo, o pavor da fome, das doenças, da morte. Cerimônias de todo tipo eram feitas para agradá-los. Na ignorância em que viviam denominavam as forças da natureza como deuses coléricos, bondosos, criativos e caprichosos.
  A evolução da inteligência permitiu-nos compreender os raios, as colheitas e doenças mas a vida em si continuou e até aumentou seus mistérios. Não conseguimos ficar sem explicações.
  O que entendemos, qual o conceito de Deus? não seria o conjunto das leis naturais que governam o Universo?
  Como acreditar em Deus? como perceber sua presença?
  Todo o sentimento da existência de Deus vem da observação da natureza e, em especial, da vida. A complexidade de uma simples abelha, o conjunto de detalhes que se completam, sua interação à colmeia, faz-nos duvidar da aleatoriedade de combinações que no tempo e na quantidade de exposições de átomos e moléculas possibilitaria a formação deste inseto. Quando ainda, olhando em volta, vemos milhões de espécies de animais, plantas e insetos compreendemos que as explicações científicas estão longe de convencer. Há muito que estudar, pensar e sentir.
  O amor à natureza e à vida significam atenção a uma vontade que não compreendemos mas percebemos. O raciocínio, a inteligência e a cultura aumentam o mistério. Na cadeia evolutiva, entre os  animais, alguns quase nada pensam, outros raciocinam mais. A natureza parece um grande mosaico, cada planta, animal cada pedaço de pedra parece ajustar-se, um ao lado do outro, formando uma seqüência de seres e objetos que, em si, demonstram uma lógica surpreendente.
  A vida é fascinante, merece todo o nosso respeito e a certeza de que expressa uma demonstração de poder e perfeição ...
  A valorização da vida não deve ser apenas produto de retórica. Precisamos lutar para que evolua para uma condição de respeito e dignidade. O processo político é extremamente importante. Muitas ideologias pregam o individualismo, a segregação de raças, religiões. Lutando por uma melhor distribuição de renda, para a garantia dos direitos básicos do cidadão estaremos no caminho de uma vida mais feliz, decente.
  Se Deus nos criou inteligentes foi, certamente, para que utilizássemos esta qualidade no aprimoramento da vida e da natureza. Não foi para construir armas e venenos que um cérebro foi colocado acima de nossos pescoços.
  A grande responsabilidade da inteligência é que ela é a nossa ligação com Deus. Se pode haver alguma semelhança com o Criador, será nesta característica do ser humano. Respeitando esta condição devemos fazer o melhor uso possível dela. O mau uso da inteligência é uma blasfêmia, é uma ofensa a Deus
  A vida é o resultado do sopro divino sobre a matéria.
  Com inteligência e vontade poderemos transformá-la em uma canção maravilhosa, em uma divina mensagem de paz e amor..


  15. Inteligência

  O que é inteligência? qual a sua importância? somos racionais? de que forma?
  Antes de mais nada é bom lembrar que não escolhemos os pais que tivemos, a saúde, os acidentes, o lugar em que nascemos. Somos o produto de inúmeros processos, a maioria fora de nosso controle. Ninguém poderá ser ridicularizado, agredido por ser menos inteligente ou hábil para qualquer atividade. Pessoas menos dotadas poderão concentrar sua atenção em detalhes que outros mais capazes não teriam interesse. Há espaço para todos e todos merecem respeito enquanto pessoas honestas e trabalhadoras. Os mais brilhantes não deverão esquecer nunca que muitas doenças e acidentes poderão reduzi-los a níveis de imbecilidade...
  Evidentemente nossas limitações criam restrições, frustrações e fracassos.
  A inteligência tem formas bem diferentes de manifestação. Diferentemente da cultura que é ter conhecimentos, a inteligência é a capacidade de raciocinar sob os mais diversos estímulos. A origem destes impulsos caracterizando as formas de existência. A inteligência é a capacidade de deduzir, induzir, memorizar e, assim, compreender e manipular a natureza em suas formas de manifestação..
  A racionalidade é uma característica variável entre os seres humanos. O homem é um animal eventualmente racional, quando o é. Em seu conjunto poderíamos dizer qua a humanidade é levemente racional.
  A intensidade da inteligência varia muito entre as pessoas e em cada uma com o momento, a hora do dia, o metabolismo. A diferença é brutal. Consciente disto deve se ter cuidado com o cenário em grandes decisões. Conhecer-se bem é o primeiro sinal de uma inteligência privilegiada. A influência do metabolismo é vital. O efeito de estimulantes é uma demonstração desta característica do ser humano. O cérebro é uma máquina com muitos detalhes importantes. Uma vida sadia é necessária à maximização da produção mental. Vícios como o alcoolismo e outras drogas destroem o cérebro. Este computador trabalha sempre, acumulando informações, processando-as. Por isso precisa de carinho e respeito.
  Diante disto por quê as pessoas bebem? tomam entorpecentes?
A inteligência por si não traz felicidade, ao contrário, na maioria das vezes torna-a mais difícil. Poderíamos até dizer que a burrice é um dom da natureza à medida que simplifica as exigências intelectuais, que permite a qualquer um embevecer-se diante de uma obra de arte primária, uma conversa idiota, um ambiente grosseiro. O raciocínio cria tensões. O ser mais inteligente não aceitará as explicações comuns. A curiosidade gera ansiedades. A aceitação tranqüila dos dogmas sociais e filosóficos evita conflitos. Acreditar é aceitar o que nos propõem. É identificar-se com a maioria, os mais fortes. Quantos gênios as fogueiras da Inquisição queimaram? Muitos, com certeza, eram  menos inteligentes e mais idealistas, corajosos...
  É normal a ignorância e a mentira imporem-se pela violência.
  Mas a inteligência dá-nos o refinamento de prazeres especiais. Compreender, ver o que ninguém mais vê, saber o que ninguém sabe, ter o poder de decidir sobre bases melhores é um privilégio sensível. Pelo raciocínio chegamos aos segredos do Universo. Compreendemos o que possa ser Deus e a nossa missão.
  Ser ou não ser racional, eis o grande dilema.
  Esta é uma questão vital e que precisa ser colocada em algum momento de nossa vida. Quando? como? quanto? são perguntas complementares. Dependendo da resposta seguiremos à esquerda ou à direita nas muitas esquinas da vida.
  A opção pela irracionalidade é o caminho das paixões. A fascinação dos grandes sentimentos só é acessível a quem não se deixa dominar pela lógica, a quem não se submete ao império da razão.
Por isso a pergunta : quando podemos ser racionalmente irracionais?
  Apesar de todos os riscos a inteligência é fascinante. É uma qualidade divina e que por isto deve ser bem administrada para não transformar o céu em inferno.
  Religiões e partidos políticos exigem fé absoluta. Duvidar é crime, acreditar virtude. Esquecem-se que Cristo tratou São Tomé com deferência especial, não o ignorou. Por quê? A convicção é diretamente proporcional à renúncia à inteligência.
  Todo ser humano pode pensar. Mas pensar dói sob diversas maneiras. Para que o desconforto? O pensamento leva-nos à visão da morte e poucas coisas são tão aterradoras quanto a morte. Paradoxalmente por não pensarem os jovens vão às guerras. Trocam suas vidas por medalhas, que alguns anos depois estarão sendo vendidas por camelôs. O “não pensamento” é a arma dos irresponsáveis.
  O homem medíocre renega a inteligência. Em sua pequenez vive bem com o “não pensar”. O que pretendemos? submergir na multidão? viver uma vida que não existiu? é interessante registrar como a inteligência une-se à loucura para quem quiser marcar sua existência. Seria apenas marcar? quem se lembra de um dia comum? viver não é gravar com força imagens em nossa memória?
  A mediocridade mata muitas inteligências. Quantas pessoas nascem com um potencial gigantesco e morrem na obscuridade porque lhes ensinaram a ter medo de tudo, a supervalorizar estados materiais insignificantes, a não assumirem riscos. Lamentavelmente a freqüência da mediocridade é infinitamente maior do que poderíamos imaginar.       
  A falta de uma visão mais matemática, com mais sensibilidade probabilística, o sentimento de que qualquer risco é inaceitável é próprio dos covardes, seres humanos que perderam a oportunidade de acrescentar algum degrau rumo à civilização.
  Um jovem inteligente no início de sua vida, quando opta por uma carreira estabelece objetivos, metas, desafios. Nesta fase precisa se conhecer, avaliar-se, saber do que é capaz. Quanto se exige de um adolescente...
  Toda profissão tem requisitos próprios, exigências específicas. Saber escolher aquela carreira que melhor se ajustar à própria inteligência é um bom começo de vida, um “handicap” a favor do sucesso. E o sucesso profissional é uma boa base para sentir-se feliz e ter-se a certeza de uma justa compensação à sociedade e à família. Cada profissão tem uma série de sutilezas. Habilidade manual, memória, raciocínio lógico, harmonia musical, paciência, coragem, e assim por diante são parâmetros que variam de atividade a atividade. Veremos em cada profissão um conjunto de características que separarão o medíocre do notável, o sucesso do fracasso.
  E a vida afetiva? quem procurar para uma vida em comum? o gênio respeitará a idiota? o burro submeter-se-á a uma mulher brilhante? os preconceitos? muitos cuidados são necessários até porquê os filhos serão o resultado desta mistura genética. Que padrão genético quereremos transmitir?
  Na profissão, no amor, no esporte, na religião, em todas as atividades a inteligência será cobrada. Para algumas atividades não ter será melhor...
  Um cuidado é necessário. Muitas formas existem para inibir a inteligência ou mesmo destruí-la. Maus hábitos poderão estagnar seu desenvolvimento ou regredi-lo. O cérebro, da mesma forma que o físico, exige exercícios constantes e uma boa alimentação, períodos de descanso, higiene. Deve-se ter o cuidado do aprendizado constante, da curiosidade, disciplina mental. Por mais que estudemos, aprendamos, sempre haverá algo a conhecer, analisar, apreender. Cada momento será significativo à medida que se acrescentar algo ao que soubermos. Aprender sempre. O estímulo ao cérebro, o enriquecimento de nosso arquivo e o aprimoramento do “software” instalado em nossa carcaça será recompensado pela ampliação do nosso poder, do maior refinamento e amplitude de nossos prazeres...
  Muitos se queixam da falta de sucesso profissional mas não contam o quanto desperdiçaram. A vida é uma luta constante onde a vitória estará mais próxima dos melhores, mais preparados. A agilidade mental, a capacidade de reação intelectual dependerá do nível atingido, da capacidade exercitada.
  A história está repleta de exemplos de grandes líderes, cientistas, artistas que atingiram o ápice de suas carreiras porque, entre outras coisas, aplicaram-se com determinação, estudaram exaustivamente, esforçaram-se muito mais que outros em suas atividades.
  A inteligência reflete-se no amor, talvez mais do que em qualquer outra atividade. A capacidade de compreender as razões da companheira, a paciência, a tolerância só existem em mentes privilegiadas. Pessoas primárias reagirão de forma selvagem às dificuldades da vida.
  A capacidade de raciocinar mostrará seus efeitos em todas as nossas atividades. Com ela poderemos ganhar notoriedade, riqueza, sucesso. Bem usada será fator de felicidade. Desperdiçá-la será, pelo menos, um desrespeito à humanidade.
  Os desafios são grandes. A miséria é onipresente. Usar a inteligência para diminuí-la é um compromisso com Deus. A inteligência oculta é egoísta. De que valem os diplomas, as milhares de horas de estudos se tudo isso não se transformar em um benefício à sociedade, à natureza?
  A população cresce, ocupa espaços, derruba florestas, represa rios, polui ares e mares. Por quê não usar a inteligência para as pesquisas de soluções? para a luta pela vida?
  A inteligência aliada à coragem torna-se criativa, empreendedora.
  O medo torna o ser humano medíocre, retrógrado, conservador, egoísta.
  Saber pensar e agir é próprio dos líderes, dos grandes gerentes, daqueles que conquistam.
  A humanidade encontra-se no limiar do século 21. Teremos grandes desafios, questões delicadas que afetarão nossa visão ética da vida. A superpopulação, a poluição, a degradação ambiental exigirão mudanças radicais no processo de desenvolvimento. Por exemplo : qual a nossa visão estratégica da energia, saúde, educação, lavoura, indústria  e tudo o mais?
  Vemos preocupações pontuais. A visão é normalmente de médio e curto prazo, oportunista.
  Precisamos de muita, muita inteligência para garantir aos nossos netos e bisnetos a sobrevivência no século 21 com dignidade, com a felicidade de viverem em mundo melhor.
  Das floresta para as cidades o “homus sapiens sapiens” veio com violência e preservando a maioria dos hábitos selvagens. Das cidades para o futuro precisaremos dominar instintos, estabelecer o império da razão.
  Pelo menos por simples questão de sobrevivência, a humanidade terá que ampliar sua capacidade de pensar e disciplinar-se, dominar-se.
  Preceitos e normas do século passado poderão ser mortais no próximo.
  Graças à inteligência poderemos ter a esperança de sobreviver e de criar um mundo melhor, mais saudável e justo.



  16. Ecologia e ambientalismo

  O mundo transforma-se perigosamente. O aumento da população humana já dá mostras evidentes de excessos. As praias perdem sua fauna na presença de banhistas, a agricultura e pecuária destroem florestas. Fauna e flora viram assunto de livros de história. Pesticidas e adubos poluem rios e mares. As cidades crescem sem parar. O consumo de combustíveis modifica a atmosfera. Caminhamos para a saturação, a destruição de nosso tão necessário ecosistema.
  Infelizmente este tem sido assunto de demagogia, personalismos, exploração maldosa da ignorância popular.
  No Brasil oscilamos entre extremos.
  Nossa legislação é tão severa que se torna inaplicável além de ser instrumento de picaretagens as mais diversas. Os radicalismos levam a impasses prejudiciais a todos. O pior é que os maiores problemas não são discutidos de forma adequada.
  As cidades, centros de consumo, não se submetem a qualquer disciplina. O desperdício cobra a construção de mais barragens, leva à queima excessiva de combustíveis, à utilização de materiais poluentes etc..
  O próximo século será o da mobilização ecológica. Compreender e aplicar corretamente suas propostas será o grande desafio da nossa gente.
  O jovem desde cedo deverá conscientizar-se da importância desta questão pela pura e simples necessidade de sobreviver.
  Não temos escolha. Ou disciplinamos nossa vida de acordo com as restrições naturais de nosso planeta ou estaremos condenando nossos descendentes ao inferno.
  Nossa moral e ética ocidental, nossa cultura não previam a questão ambiental e os valores da preservação da natureza. Diante do homem feito à imagem e semelhança de Deus os animais, as florestas, a natureza não tinham vez. Os bichos não têm alma, tudo existe para ser explorado pelo homem. Explorado? usado? destruído?
  Estamos chegando nos limites de sobrevivência.
  Continentes inteiros perderam suas florestas, a maioria de seus animais e vegetais originais. O pouco que sobrou mal serve como testemunho de um passado luxuriante. Os países do hemisfério norte deveriam com urgência iniciar um grande programa de reflorestamento e recuperação da fauna e flora de um século atrás, pelo menos.
  São povos cínicos. Dificilmente veremos lá o que pregam aqui. Querem que o Hemisfério Sul compense os crimes ecológicos do Norte.
  Criminosamente têm feito e sustentado guerras, estimulado economias consumistas, desenvolvido padrões perdulários.
  Países que tanto falam em ecologia não aceitam restrições à pesca da baleia, à intocabilidade da Antártica, ao desarmamento, à geração e transporte de lixo atômico, à exploração dos povos .
  Apesar, contudo, da forma irresponsável com que agem, não temos desculpas para repetir erros. Cada cidade, estado e a nação deverão desenvolver planos e ações para salvar o país. O Brasil ainda tem espaços preservados e muitos recuperáveis.
  Um grande responsável pela degradação ambiental é a miséria. Uma família sem recursos ocupará espaços de preservação para morar e sustentar-se. A degeneração cultural leva à violência, ao desprezo pelas normas mais elementares de vida. Nosso modelo econômico é concentrador de renda, nossas escolas precárias, não temos um programa de planejamento familiar, vivemos sob o império da demagogia e da irresponsabilidade. Vamos pagar um preço elevado se não mudarmos.
  O ser humano precisa da natureza em sua totalidade. Não existe um pássaro desnecessário, uma árvore feia ou um animal desprezível. Se não sabemos porque existem é porque nossa ignorância e sensibilidade precárias não o permitiram.
  Como é triste notar, ano a ano, a degradação do meio ambiente.
  Quem se lembra das saíras, dos bem te vis, das tatuíras, gaivotas, dunas de areia, matas fechadas e córregos cheios de peixes em águas limpas?
  Quem teve a felicidade de conhecer esse Brasil sente dor no fundo do coração quando percebe que está desaparecendo debaixo de avenidas, plantações, edifícios...
  É óbvio que não se pretende o extermínio da humanidade mas toda a nossa capacidade deverá ser utilizada na conciliação da sua sustentação com a recuperação da vida sobre a Terra.
  O belicismo, a xenofobia, o racismo e o fanatismo têm sido instrumentos de mobilização guerreira. A violência é o padrão de existência de muitos povos. Filosofias que deveriam pregar a paz usam a promessa de outros paraísos como desculpa para a destruição mútua nesse mundo.
  Existe algo mais anti ecológico que a guerra?
  O desastre ambiental é inevitável quando explodem bombas, queimam depósitos de combustíveis, destroem florestas com desfolhantes ...
  A natureza tem mecanismos próprios de regulação. Talvez lentos mas aparecem. No mínimo como um grito de vingança. Doenças, falta de água, excesso de calor, radiações são as formas de reação que já observamos. Após a Primeira Guerra Mundial a “gripe espanhola” matou mais gente que a própria guerra e no mundo todo, não apenas nos campos de batalha.
  Por tudo e para o que mais se deseja, uma vida feliz e decente, deve-se procurar aprender a viver preservando e, se possível, recuperando, preservando e convivendo com a natureza.
  O que isto significa? como fazê-lo? é possível?
  Antes de mais nada combatendo o desperdício. Com o uso criterioso da tecnologia e disciplina na aplicação de planos e projetos inteligentes poderemos economizar energia, diminuir a poluição, consumir menos. Os urbanistas, de uma maneira especial, deverão planejar suas cidades de modo a não se ter desperdícios criando-se parques, cuidando avaramente dos fundos de vale, mananciais, evitando-se adensamento populacionais excessivos, refreando propaganda que estimule a movimentação de populações para os centros urbanos. As cidades deverão ver seus planos de urbanização como instrumentos sagrados de disciplinamento do desenvolvimento.
  No campo a produtividade deverá ser estimulada evitando-se a ampliação das fronteiras agrícolas e pastoris. O uso de agrotóxicos e fertilizantes deverá ser submetido ao máximo de racionalidade e vigilância. Em tempos de satélites, fibra ótica, computadores e radares não é difícil aprimorar padrões. Não fosse a extrema ignorância e miopia de nossos legisladores e governantes poderíamos estar muito melhores. Infelizmente a tecnologia é muito mais instrumento de enriquecimento ilícito do que forma de desenvolvimento harmônico e decente..
  Algumas questões de grande efeito econômico e ambiental deverão ser resolvidas, entre elas o uso de motores térmicos. Automóveis, aviões e caminhões deverão ser substituídos por veículos elétricos e a energia elétrica deverá ser produzida sem poluir a atmosfera ou produzir resíduos radiativos. Detergentes, plásticos e outros produtos terão uso controlado. Instalações sanitárias, aparelhos eletrodomésticos e o projeto de prédios, casas e indústrias deverão respeitar normas conservacionistas...
  O transporte individual terá que ser limitado a casos especiais. Em grandes cidades a metade de seus espaços é dedicada ao transporte com todos os problemas de impermeabilização do solo, poluição sonora, mecânica ( atropelamentos ) e química.
  A tecnologia em boas mãos é uma grande aliada. Meteorologia, sistemas de comunicação e instrução custam infinitamente menos que os prejuízos causados pela atividade aleatória e pouco inteligente de muitos de nossos empresários e trabalhadores.
  A indústria precisa ter um cuidado especial com o uso da energia e o tratamento de poluentes. O crescimento da produção leva ao agigantamento de instalações industriais aumentando exponencialmente os riscos ambientais. Este é um processo não linear. Até certo ponto rios, lagos e mares poderão assimilar venenos e se recuperarem . Além de certos volumes o efeito será irreversível e até, em alguns casos, com possibilidades de se autoalimentar.
  Um grande obstáculo à adoção de medidas é a incapacidade de medir ou a falta de vontade em fazê-lo. É claro que tudo o que se cria muda alguma coisa no meio ambiente. Quanto? esta é uma questão que pretensos cientistas ecológicos não gostam de responder. É, no entanto, vital informar, saber.
  A valorização dos ecologistas e das lutas pela preservação e recuperação do meio ambiente passam pela estruturação científica, metodológica, conceitual e moral.
  Mas a poluição está principalmente no indivíduo, no cidadão. Ele, consumidor, ditará as necessidades, estimulará boas ou más atitudes, empresas, projetos.
  Um bom exemplo, é bom repetir, é o uso de automóveis. Um veículo com um peso em torno de uma tonelada para uma carga eventualmente útil de menos de cem quilos virou status, seu uso é indicador de classe social. É usado extensivamente, sem qualquer critério. Queima combustíveis, exige vias pavimentadas, garagens e estacionamentos, mata e aleija, ensurdece as pessoas, gera gases. Um bom ecologista deveria evitar ao máximo o uso de carros e aviões. Dando exemplo mostraria como respeitar o meio ambiente...
  Até ao tomar banho podemos mostrar nossa consciência ecológica. A água é cada vez mais rara e cara, sob todos os aspectos. A sua obtenção exige barragens, estações de tratamento e, posteriormente, esgotos etc. Um banho demorado é um crime contra a natureza.
  Assim, no dia a dia poderemos aplicar inúmeras regras para evitar desperdícios burros. Além de não degradarmos a natureza estaremos evitando desperdício de dinheiro.
  Sobre a Terra ainda há espaço para mais gente. Não muito mais. Quanto a mais dependerá da inteligência e seriedade que tivermos.
  Nossos descendentes serão nossas principais vítimas se não soubermos desenvolver um padrão de vida coerente com a natureza.
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  17. Jardinagem

  Talvez pareça estranho falar aqui sobre jardinagem. Creio que esta seja uma grande falha de muitos que procuram educar. Não falar sobre atividades que ensinam, distraem, enchem a alma de amor e beleza.
  Deus se manifesta pela vida e nela através da beleza.
  A Natureza espera e procura se comunicar conosco. Fazemos parte dela. Não podemos, não há como substituí-la por paredes, papéis, eletrônica... Precisamos cheirá-la, tocá-la, ouvi-la, vê-la, saboreá-la em todos os sentidos não destrutivos.
  No passado recente nossos pais viviam entre árvores, pássaros. Suas casas eram cercadas de jardins. As cidades com poucos prédios mostravam horizontes desenhados por montanhas, planícies e mares. As ruas, pouco movimentadas, não eram o império de automóveis, caminhões e seus condutores malucos. Acordavam ao som de passarinhos, dormiam vendo a Lua e suas companheiras , as estrelas.
  Atualmente, prisioneiros do asfalto, fechamo-nos em casas cercadas de muros altos ou em apartamentos, arquivos de gente. Precisamos nesses pequenos espaços criar um contato com a natureza.
  A jardinagem é uma forma de trazê-la para perto. A pequena semente colocada à terra produzirá brotos, a planta jovem precisará de cuidados, orientação, carinho. Ela, já adulta, poderá desenvolver flores ou outras expressões de arte e beleza que, como acontece conosco, tem por principal objetivo a reprodução, a perpetuação da espécie.
  Uma planta exige paciência, capacidade de observação. Ela não fala, não grita. Olhando suas cores, seu desenvolvimento, seu ambiente deveremos saber quando aguá-la, podá-la, adubá-la. Em retribuição veremos suas flores, folhas e um conjunto harmonioso, partes de uma floresta em que nossos ancestrais viveram. Iremos criando em torno de nós um ambiente que mostrará harmonia, sensibilidade, amor. É fascinante observar o desabrochar de uma flor, sentir seu perfume, seus caprichos. A delicadeza do desenho de uma rosa, o contraste de suas cores com a base que a sustenta é bem uma analogia de uma família, de um pai embrutecido com sua filha adolescente, graciosa, lúdica, atraente.
  Não devemos esquecer que a vida tem fases. O tempo passa. Saber preenchê-lo com detalhes de beleza, arte, é enriquecer a vida, acrescentar-lhe momentos de poesia.
  Um jardim ou uma simples samambaia são altares para reflexão, meditação. Diante de suas formas e essências pensamos, avaliamos nossas atitudes. São refúgios da máquina, do ritmo frenético das cidades, do trabalho.
  Aprendemos as leis da vida à medida que convivemos, alimentamos, sentimos aqueles que a têm.
  Uma orquídea, um hibisco, uma roseira, hortênsia ou samambaia, cada uma tem seus caprichos. Assim somos pretos, brancos, amarelos, cristão, muçulmanos, judeus, budistas, homens ou mulheres. Todos, como cada planta, cobrando um tipo diferente de atenção e todos, sem exceção, muito amor.
  Um jardim mostra tudo isso e muito mais. É um recanto de lazer. O prazer de ver o sucesso de uma semeadura é sutil, refinado. Somos estimulados a ter sensações intensas. Perceber o detalhe, aquele leve traço de um cheiro exótico, as cores em sua combinações refinadas é algo que só os mais atentos poderão saborear
  É fácil ver gigantes e ouvir gritos mas é um bom desafio sentir a leve mensagem de uma flor.



  18. Música

  À medida que exploramos nossos sentidos, aprimoramos nossas formas de prazer. Tê-los desenvolvidos é uma maneira de maximizarmos a nossa capacidade de compreensão da vida, da natureza. A música junta suas sete notas em frases que poderão dizer tudo o que o artista quiser.
  Nossos instintos, os problemas do dia a dia, a luta pela sobrevivência aquecem corpo e mente. Nada melhor que desligar um pouco e parar para ouvir uma bela composição. Alguma melodia existirá para dizer-nos que há coisas mais importantes ou que o momento vivido foi divino.
  A música, por sua vez, cobra refinamentos, exige cada vez mais. À medida que a ouvimos, evoluímos, aprimoramos nossos sentimentos. Assim, por exemplo, aprenderemos a admirar os clássicos, as melhores vozes, a poesia que o letrista colocou emoldurando notas musicais. Infelizmente isto nos tornará restritivos, seletivos. Não devemos perder o prazer das coisas simples, saber compreender que nos primeiros acordes está a base das grandes sinfonias. Aqui vale o conselho. Cuidado com os modismos, fases, padrões. Na música a beleza é eterna. Principalmente entre os jovens é comum o hábito de rejeitar o que não estiver em sua moda. Assim perdem a oportunidade de estudar, saborear, entender fases de nossa história cultural muito importantes. Compreender a multiplicidade de gostos exige tolerância, compreensão para a diversidade com que a natureza se manifesta.
  Quem pratica um instrumento musical, canta ou compõe aprende a ser paciente. A qualidade vem de exercícios intermináveis, estudos, atenção. Em compensação exercita uma atividade extremamente gratificante. A música passa a ser tema de conversas, reuniões, festas e estudos de equipe. O aprendizado musical é um recurso de sociabilização importante além de desenvolver a sensibilidade. Talvez a maioria das pessoas não possua dons naturais para o exercício da arte mas quem o tiver deverá desenvolvê-lo sob pena de perder um tremendo recurso de satisfação pessoal.
  Um cuidado a tomar é não apaixonar-se pela música a ponto de abandonar suas atividades básicas. Na juventude é comum querer ignorar tudo o que não se aprecia. E na própria música o risco de se desprezar padrões, que não se ama naquele momento. Um cidadão precisa de cultura universal, não pode ignorar outras ciências. O conhecimento precisa de amplitude, profundidade e qualidade para constituir um indivíduo sadio. A preferência musical mostra como andam nossos hormônios, refletem nossa alma. No ritmo do coração ou na pressão do sangue procuramos ressonância com nossos sentimentos. O domínio das artes é a complementação maravilhosa que um ser humano poderia desejar para a sua vida cultural.
  Neste final de século temos a felicidade de dispor de recursos inimagináveis há algumas décadas. O amante da música com algum dinheiro terá acesso a um conjunto de melodias e  músicas que todos os imperadores sobre a terra, juntos, jamais tiveram até há pouco tempo. Esta riqueza precisa ser compreendida, estudada, aceita como um privilégio, entre outros, da época em que vivemos. Nesse privilégio o poder de extrair lições importantes. Que essas lições sejam de amor e esperança.
  O que extrair desta riqueza? aqueles de nós que tiverem nascido com potencial para a música tem o compromisso de extrair desta arte belíssimas jóias.
  Vangelis, Kitaro, Chico Buarque, Piazzolla, Tom Jobin, Vinícius são exemplos de compositores modernos que conquistaram o direito à galeria dos grandes artistas.
  Um cuidado é necessário. A habilidade musical é um dom natural. Quando muito aprimora-se dentro do espaço definido pelos nossos genes. Nascemos com o direito de viver em faixas biológicas. Poderemos chegar ao limite de nosso potencial disponível, ir além só por milagre. Saber qual a nossa capacidade é a chave de um planejamento feliz.
  A atividade artística é muito cruel. Não existe tolerância para o mau artista. Não interessa quanto se aplicou. Não importa se gastou todas as suas energias para apresentar o que fez, o que sabe. É impressionante a violência de muitos críticos. Além disso é impossível convencer alguém a consumir o que não quer, o que não gosta.
  Mas a música é motivo de prazer, excitações. Tudo o que se estuda servirá, pelo menos, para a satisfação pessoal.
  Outro fator importante é o efeito da música sobre o estado de espirito. Ela pode deprimir, excitar, levar a sonhar com anjos ou demônios. Por isso é preciso atenção para as opções que se fizer. Uma escolha errada poderá causar um grande mal.
  A música tem sido instrumento de revoluções, guerras, amores e paixões...
Acima de tudo é um instrumento divino de comunicação e prazer. Saber usá-la é um ato de inteligência e sensibilidade.



  19. Literatura

  Os livros são o principal instrumento de aprendizado e a ponte para qualquer lugar de nosso pequeno mundo.    
  O que pensava Sócrates, Platão, Zoroastro ou Napoleão? em algum livro encontraremos o que procuramos ou, pelo menos, o que for possível aprender. O medo dos ditadores aos livros tem lógica cristalina...
  Cada livro é o resultado de centenas de horas de dedicação, é a manifestação escrita de pensadores, artistas, cientistas, poetas...Ser caçador de livros, rato de livraria, leitor assíduo é valorizar sua própria cultura. A programação é feita pelo leitor e tem o espaço de suas limitações pessoais pois no mundo sempre existirá algo pelo menos próximo do que pretende. Sempre haverá um livro com informações, poemas, descrições que nos farão sonhar, viver muitas outras vidas. Com imaginação e um bom livro poderemos saborear romances e aventuras em terras distantes. Um grande amor? o sentimento guerreiro? a história das nações? profissões? vamos à biblioteca e lá encontraremos o que procuramos.
  O amor pela literatura é ter inteligência para encontrar janelas seletivas através das quais veremos o mundo, conheceremos estrelas e, acima de tudo, quem somos.
  Ler e escrever. Lemos para aprender, para ter prazer e até sofrer. Escrevemos para transmitir, dar, mostrar o que sabemos e queremos.
  A comunicação escrita é perene, resiste ao tempo se tiver valor para alguém.
Tesouro de grandes idéias ou depósito de sujeiras, os livros estão aí, peguem, escolham, selecionem.
  Escrever é lançar sementes que poderão vingar imediatamente, apodrecer ou esperar o melhor momento para fazer nascer aquela planta que sonhamos ver à nossa volta. Escrever é dar de si, é expor-se, é oferecer o que julgamos ser capazes.
  Assim como o cantor sua frio, vence angústias e sobe ao palco para mostrar sua arte, sujeitando-se a aplausos consagradores ou vaias arrasadoras, o candidato a escritor deverá apresentar sua obra na esperança da notoriedade e no risco do fracasso. Até por isto o desafio tem valor. E o principal é o de oferecer a quem quiser um pouco de si, mostrando com histórias ou poesias sua visão da vida. O escritor procura o sucesso da mensagem, a notoriedade, a certeza de ter contribuído com um tijolinho no grande edifício da nossa civilização.
  Ler também é das formas mais discretas de aprender, de encontrar o lazer, de rever imagens e romances distantes. O livro é um companheiro silencioso, leal. Estará onde o deixamos.
  Ler o quê? por quê? cada momento da vida exige um pensamento, uma palavra. A poesia romântica, o texto sensual, a descrição de um grande amor é, e não poderia ser diferente, a forma mais comum e saborosa de literatura. Nós que procuramos paixões, que sonhamos com aquele contato ao mesmo tempo fogoso e afetuoso, nós que vivemos de carinhos, tão importantes quanto a água ou o ar, nós que nos sentimos vazios na ausência daqueles que amamos, teremos nos livros as estórias e histórias que ansiamos.
  A escrita é privilégio do ser humano. Podemos imaginar animais pensando e até falando mas a escrita é a grande conquista exclusiva da humanidade após milhões de anos de evolução. Do humanóide “pitecantropus” ao “homus sapiens sapiens” um longo trajeto foi percorrido até podermos ver o pensamento humano registrado em papéis, pedras e couros. Em épocas já muito distantes mas tão próximas, quando lembramos os milhões de anos do ser humano sobre a terra, surgiu a escrita. Das paredes de pedra dos monumentos egípcios aos nossos livros foi uma longa caminhada. Gutemberg foi nosso grande inventor moderno. Sua obra foi o ponto de partida do grande processo de transformação cultural do mundo ocidental.
  Ler, escrever, aprender, ensinar e fazer, assim caminha a humanidade. Evidentemente poderíamos dizer simplesmente: aprender, fazer, ensinar. Mas falando de literatura, de cultura escrita, devemos destacar sua importância, a necessidade e a essenciabilidade de um processo de formação.
  Como saber se um livro é bom?
  Além da fama conquistada pelos grandes autores, temos a nossa própria sensibilidade, nossas necessidades. Começando a ler, o texto, idéias e propostas deverão ser motivo de prazer. Entra-se em sintonia com um bom livro. Ele nos envolve, emociona e conquista. Este processo também mostra se estamos maduros para lê-lo. Um trabalho que não nos interessa não irá prender-nos.
  Na vida profissional existe no livro a oportunidade de se transmitir o que aprendemos. Infelizmente a literatura técnica não tem grande valor comercial. Nossos estudantes e escolas pouco têm para formarem suas bibliotecas. Vale pela contribuição, teste e consolidação de conceitos.
  O mais deplorável seria não se comunicar, não procurar multiplicar o que se aprendeu de bom. É difícil entender pessoas que estudam a vida toda e não exercitam suas profissões, não lecionam, não escrevem, não produzem. Muitos fazem da ociosidade e da inutilidade uma razão de ser. Que pena!
  O mundo moderno é o mundo da informação. Para ter qualidade deverá ser também e principalmente o da formação. Os escritores têm a responsabilidade de criar paradigmas e consolidar culturas. Nossa esperança está em multiplicar e valorizar os melhores para que a humanidade efetivamente evolua, consolide-se como espécie racional .
  De José Ingenieros, Bertrand Russel, Hermann Hesse, Marcuse, Marx, Engels, Gore Vidal, Joseph Campbell, Jorge Amado, Sartre e tantos outros filósofos, romancistas, cientistas modernos tenho a mais grata admiração pelo que me deram de tão valioso: seus estudos, experiências e, acima de tudo , sonhos.
  Os livros, ferramentas do pensamento livre, são como os amigos. Dentro de uma multidão escolhemos aqueles que gostamos e queremos. Não podemos viver sem os amigos...


  20. Esportes

  O jovem é um adulto em formação, cheio de hormônios, conflitos e energia. A agressividade em um corpo que pede ação exige disputas, desafios e exercícios. Um cérebro precisando de distrações, competições e a necessidade de afirmar-se, de mostrar personalidade. A vitalidade de um ser humano em formação e  saudável torna-o um animal sedento de ação. Instintivamente procura desafios, exercitar seus músculos e neurônios. O futuro de sua vida mental e física dependerá muito dessa fase.
  Neste cenário o esporte, em especial aqueles que mais exigem do corpo, são importantes sob muitos aspectos. O principal nesta sociedade urbana em que vivemos em gavetas denominadas apartamentos é ser uma válvula de escape de energias que, de outra forma, poderiam torná-lo um elemento inconvenientemente agressivo. Canalizar a violência para o esporte onde o jovem de forma disciplinada lutará é o grande desafio dos educadores. A luta sob regras é o padrão natural de qualquer sociedade. Aprender a vencer e perder, eis o que o esporte pode ensinar.
  Os esportes coletivos acrescentam o trabalho de equipe como condição de sucesso. Ótimo! A vida é uma luta constante. Precisamos ensinar a nossos filhos e alunos como sobreviver. Saber competir em times é um treino para a maioria das atividades profissionais. Organização, estratégias, táticas e treinos desenvolvem o raciocínio. Em uma sociedade civilizada estas batalhas estarão sujeitas a regras severas. No caso do Brasil uma boa escola seria o jogo de truco, não exercita o físico mas contém todos os elementos morais de nossa sociedade...
  Aprender a perder. Saber lutar, dar tudo de si, empenhar-se e, diante da derrota ter capacidade de superá-la com dignidade. As crianças são cruéis, os adultos não ficam longe. A prática do esporte mostra deficiências. Eu sempre fui um tremendo “perna de pau” , para jogar tinha que comprar a bola, era a última opção de qualquer escalação. Não é fácil perceber esta situação. Mas a vida é assim. Alguns nascem com muito, outros pouco tem, muitos nem a bola possuem.
  A  natureza nunca foi comunista e o esporte é uma demonstração disto.
  Na prática esportiva sentimos que a vida apresenta-se em um cenário de lutas. Aos melhores é dado o direito de escolher primeiro e a eles tudo é permitido. A natureza aprimora-se em um processo de seleção natural. A competição esportiva é uma amostra deste processo.
  O Universo tem ética? moral? qual é a lei das selvas?
  Assim, ao nos dedicarmos a algum esporte estaremos implicitamente vivendo em um ambiente em que a vida encontra analogias, desenvolve modelos.
  Ganhar a qualquer preço? quanto pagar? como tratar o perdedor? como saborear a vitória? qual o prêmio?
  Vemos nas quadras os instintos humanos em sua plenitude. Nelas percebemos como é recente a saída das florestas. A selvageria aflora com uma facilidade incrível e a troco de símbolos, apenas símbolos.
  Mas, viva! O esporte existe e substitui guerras e conflitos caseiros. Desenvolve o físico, a capacidade de raciocínio, prolonga a vida quando coerente com a saúde e o físico disponíveis.   É importante que a prática esportiva tenha acompanhamento especializado. O jovem não imagina quanto seus anos de esporte lhe afetarão o resto da vida. Até as amizades feitas nas quadras serão valiosas no relacionamento profissional e social. A prática de algum esporte será um hábito saudável para toda a vida.
  Deve-se ter o cuidado de não transformar o esporte em atividade principal a menos, é claro, que esta seja sua proposta profissional. É importante uma autocrítica severa para não se desenvolver ilusões. É muito mais fácil tornar-se um profissional liberal bem sucedido do que um grande atleta. Isto sem contar que a vida de um esportista exige uma disciplina difícil de ser respeitada
  E tendo sucesso? sem uma boa base escolar e emocional o atleta arrisca-se a perder-se em um ambiente em que as relações humanas são perigosamente alienantes. A vida profissional de um esportista é curta. Seu máximo vigor dura pouco. E depois? como sobreviver? como sentir-se respeitado? estes aspectos da carreira deverão ser considerados, se não pelos jovens, por seus responsáveis, os pais. A autoridade dos pais é necessária quando os filhos perdem-se em prazeres danosos à própria formação.
  O fanatismo é uma anomalia freqüente e danosa ao indivíduo e à sociedade. As cores, símbolos, nomes de clubes não valem uma vida, uma inimizade. A paixão violenta por algum clube é no mínimo digna de cuidados médicos ou psiquiátricos pois mostra o nível mental extremamente frágil do torcedor. É fácil imaginar com que facilidade essas pessoas transformar-se-ão em “buchas de canhão” em guerras de qualquer tipo. Bastará um esquema de mídia e lá veremos as filas desses fanáticos marchando para os campos de  batalha. Devemos desenvolver um senso crítico, um refinamento que impeça fanatismos. As cores ou nome de qualquer time valem como diversão, passatempo, nunca como motivo de agressões. Infelizmente temos o hábito de transformar em religião tudo aquilo que se cobre de símbolos, hinos e cores. Devemos aprender a ter controle sobre nossos sentimentos. Nesse aspecto o esporte é um bom treino. A paixão por um clube só fará sentido em seu aspecto lúdico, prazeroso. Nenhum time vale um tapa em quem quer que seja. A confraternização, a gozação e a brincadeira são atos normais em torno do esporte. A violência é um afloramento selvagem de instintos animalescos.
  Um outro aspecto importante é administrar as amizades decorrentes deste ambiente. Em qualquer atividade devemos escolher nossos amigos e companhias. Precisamos saber com quem, quando e como andar com aqueles que nos cercam.
  Uma grande virtude da prática esportiva é que ela é incompatível com os vícios. A natação, por exemplo, denuncia rapidamente quem se atrever a fumar, usar drogas. A vaidade estimulada pelo esporte exigirá disciplina. O exercício constante desenvolverá músculos e inibirá as tão famosas gorduras. Educar o ser humano a ter disciplina é algo sensato, vital ao seu sucesso profissional e social. A preguiça é incompatível com o atleta .
  Talvez no futuro a humanidade acabe com as guerras deixando para as quadras de esporte as competições promotoras de suas vaidades e negócios.
  Finalmente devemos concluir que a prática de um esporte é necessária e saudável. O cuidado a se tomar será com os excessos e o ambiente que se freqüentar. Um corpo saudável terá melhores condições de conter um cérebro capaz. O exercício permanente desenvolverá a inteligência e o físico.


  21. Belas artes

  A capacidade e prática de habilidades que estimulam nossos sentimentos é divina. Deus manifesta-se acima de tudo no sentimento de beleza, de harmonia, de estímulos transcendentes. O prazer sublime transmitido por um belo quadro, uma sinfonia apaixonante, uma poesia bem elaborada é a mensagem de amor e beleza que precisamos sentir. A capacidade de ser mais que um simples animal procurando alimento e segurança é maravilhosa no ser humano. Deus existe? somos feitos à sua imagem e semelhança? se existe, se é verdade, está em nossa capacidade de admirar e fazer “belas artes”.
  E não é tão simples assim. Precisamos aprender a ver, ouvir, tocar. Nascemos com a ordem de sobreviver, apenas. O cérebro, à medida que se desenvolve, acorda para o mundo. O prazer, a capacidade de amar, chorar, rir, ter raiva e amor, de vibrar com o que se aproxima é uma característica de alguns seres humanos. Assim como é virtude dos mais capazes dominar esses sentimentos sem, entretanto, inibi-los. Sentir a plenitude das paixões é maravilhoso. Talvez o coração não suporte tanta pressão mas é vivendo intensamente que realmente poderemos dizer que existimos. Ao contrário de algumas posturas filosóficas que pregam a insensibilização e a visão superior, entendo que a visão humana é nossa e tê-la  com vitalidade é bom, saudável. Devemos apenas ter o cuidado de dominar os sentimentos quando tendem a prejudicar alguém. O crescimento cultural e moral leva-nos a valorizar a sensibilidade artística. Dando-lhes o devido espaço, colocando-as em nossa equação existencial, as “belas artes” tornam-se fonte de prazeres sublimes.
  O que procurar no universo das artes?
  Muitos as cultivam para se sentirem superiores, na preocupação de estarem entre os eleitos a uma casta maior. Outros por compulsão e muitos também pelo simples amor à beleza. De qualquer modo o estudo e admiração das manifestações artísticas da humanidade criam laços, aproximam pessoas e povos assim como mostram suas raízes, suas culturas e personalidades.
  Procuramos sempre imagens de beleza, sentimentos e amor.
  O amor animal, selvagem, é uma das principais formas de motivação. Nem poderia ser diferente. O sexo está no centro do corpo até para declarar sua importância. A paixão por uma mulher leva o homem a ver estrelas, a sentir no corpo todo o prazer de sua imagem, voz, cheiros...O sexo define valores que percebemos e governam nossas decisões, opiniões. Ignorá-lo é idiotice. Tratar os impulsos sexuais como algo ruim e degradante  é sinal de doença mental.
  Com a energia da sensualidade podemos ver as melhores obras artísticas. Somos animais e não aceitar esta condição é rejeitar nossa natureza. Assim, compreendendo esta força criadora, muitos artistas encontraram e acham inspiração para belíssimas composições.
  Precisamos mostrar, ver, sentir a beleza do Universo. Assim fazendo sentimo-nos fortes. Crescemos em nosso átimo de existência. Tão pequenos, tornamo-nos gigantescos, pelo menos perante nossos olhos.
  Que grande felicidade deve sentir um ser humano em poder sentir, ser um grande artista. E como são tristes. Toda a pressão do Universo desaba sobre aqueles que procuram a perfeição. Já não se disse bilhões de vezes que só Deus é perfeito?
  O que sugerir?
  Assim como a prática de algum esporte é saudável e desejável, o exercício artístico também o é. Enquanto o primeiro tem por objetivo maior o desenvolvimento do corpo, o segundo fortalece o espírito.
  Que fazer? que habilidade? sentimento?
  Isto vem escrito dentro de nós. Tudo depende da capacidade que tivermos. É uma das formas natas de inteligência. Faz parte de nosso “hardware”. A habilidade manifesta-se logo, já na infância. Já a capacidade de escrever pode ser desenvolvida a partir de uma base comum, exigindo, contudo, muito esforço. Cada atividade cobra um conjunto de qualidades e o que o candidato a artista precisa verificar é se tem algo de especial, alguma característica básica mais apurada. Todo este cuidado é necessário para se evitar o sofrimento da rejeição, da frustração diante de pessoas que serão tudo, menos condescendentes com aqueles que não atingirem um mínimo de qualidade. Tudo depende da capacidade que tivermos de nos conhecer. Não existem duas pessoas iguais. Cada uma precisa encontrar-se, saber de si. Essa luta, que começa na corrida do espermatozóide vencedor, prosseguirá por todo o sempre. Vale a pena? está nos gametas a determinação de vencer, competir, conhecer e explorar. As artes, as “belas artes”são um desafio. Queremos ter prazer? sobressairmo-nos? conquistar? lutemos , estudemos.
  O artista procura ambientes, cenários. Aprender com os melhores, desenvolver técnicas. Saber e inovar. Rejeitando padrões consagrados, muitos conseguem criar outros sublimes. Um aspecto magnífico das artes é ter em sua base um clima revolucionário. Contrariando a tranqüilidade da tradição vemo-nos surpreendidos por gênios inquietos, insatisfeitos, que a cada dia acrescentam algo de valor à nossa civilização. Gritar pelas cores de um quadro, protestar nos passos de uma dança, mostrar novas harmonias em uma poesia, eis a revolução sutil. A natureza é dinâmica, com leis imutáveis transforma-se sempre.
  O ser humano diviniza-se em suas manifestações artísticas. E como ainda são poucas diante do que é capaz a própria natureza. Procurar a beleza, mostrá-la, socializá-la é fazer da vida uma sucessão de experiências gratificantes. Vamos lutar para criar espaços, oportunidades para nossos talentos. A vida tem momentos difíceis e cruéis. Enriquecê-la com imagens, sons e poesia é ser inteligente, consciente das oportunidades de ser feliz.


  22. Moda

  A vida segue padrões, alguns naturais, outros não. Na luta pela sobrevivência procuramos sinais, artifícios que nos dignifiquem, que melhorem nossa imagem. Empresas e religiões impõem a seus súditos o que vestir, falar e até pensar. Uma maneira de explicar é falar em moda, dizer que aquele padrão o chefe deseja ou Deus mandou.
  Ter modelos, até uniformes pode ser bom. Em uma escola a vestimenta padrão evita a ostentação dos mais ricos. Nos exércitos identifica batalhões e até serve para fins específicos como a própria proteção ao ambiente hostil. Para o cidadão comum é uma forma de integrar-se, ser aceito por uma comunidade.
  Um ato de discrição é não colocar-se como lançador de modas, não ser o primeiro nem o último quando o assunto for o de vestir-se.
  Sob a palavra “moda” também teremos as novidades. O progresso, a evolução tecnológica cria produtos que se transformam em roupas, carros, instrumentos do dia a dia. Não sendo propriamente modas mas aquela última criação tão interessante, aguardada, desperta o nosso interesse. Assim, pela novidade e oportunidade a vemos e ouvimos por toda parte.
  Na política agora a moda é falar em privatização, enxugamento do estado. No Brasil há  um quarto de século a moda era ao contrário. O país sem infraestrutura, com centenas de concessionárias diferentes para cada serviço, não se desenvolvia. A solução foi criar as grandes estatais que em pouco tempo colocaram o Brasil dentro do padrão que conhecemos atualmente. Há setenta anos o fascismo e o comunismo eram modas. O nacionalismo exacerbado gerava partidos radicais. O Mundo caminhava para a Segunda Guerra Mundial.
  A escravatura já foi moda. Há um milênio era normal, lógico, comum escravizar pessoas. Em Roma discutia-se se os índios americanos teriam alma. Assim os modernismos mudam. Pessoas pobres de espírito aceitam as idéias do momento como panacéias. Não são capazes de enxergar um pouco adiante.
  Devemos, portanto, não nos escravizar às modas, aos modelos gerados por pessoas ou grupos muitas vezes distantes de nossa realidade. Sem falar na gravata, invenção de quem não conhece os trópicos, vemos em muitos ambientes a obsessão pelos padrões criados em terras longínquas.
  Liberdade, independência, responsabilidade e respeito, devemos aprender a usar estas bases de uma convivência civilizada. Até onde somos obrigados a atender um padrão? seguir uma moda?
  A submissão gratuita é degradante. A moda em si, colocada como um padrão obrigatório é renunciar à liberdade, à individualidade, à inteligência. Significa a aceitação do comando de gente que, muitas vezes,  têm apenas a preocupação de criar rebanhos, ganhar dinheiro e poder à custa da fragilidade do ser humano.
  Sem a intenção de ofender ou agredir devemos vestir, falar, ser o que achamos de melhor. Devemos acreditar em nós. Ao imitar ter o cuidado de não estar simplesmente e compulsivamente copiando um produto inútil, simplesmente  comercial. Tendo atenção para não estar sendo conduzido, usado, poderemos aproveitar as boas novidades.
  A moda é explicitamente instrumento de grandes indústrias, de formadores de opinião, de dominação ideológica. Não é crime. O erro está em transformá-la em mania, instrumento de agressão, discriminação e exploração.
  Assim como a cor, religião, sobrenome e classe social têm sido usados pelos mais medíocres como instrumento de exaltação, segregação e exploração, os padrões mais simples servem de elementos identificadores dessas ligações. Todo ser humano precisa saber, qualquer que seja a sua fé,  que tem Deus em si e isto basta para amar-se e ser amado.
  Roupas, carros, propriedades e outras exterioridades de poder não diminuem, aumentam a responsabilidade social de quem os tem. À medida que temos sucesso conquistamos poder para ajudar a tornar a Humanidade melhor, mais saudável e feliz. Agredir gratuitamente o próximo, humilhando-o e segregando-o por não ter o que usamos e nem sempre merecemos é imoral e injusto.
  A liberdade deve ser estimulada. Proposta dentro de um espírito de responsabilidade devemos preservá-la em todos os seus aspectos, inclusive em tudo aquilo que se vende sob a mensagem prosaica de ser moda. Devemos exercitar a independência, a liberdade e responsabilidade em todas as oportunidades de manifestação.
  Não podemos aceitar patrulhamentos e vigilâncias gratuitas. São válidos apenas aqueles  padrões a que nos submetemos voluntariamente ou por força dos limites do direito e do dever de cada um. Valorizando-se, o indivíduo afirma-se como líder ou sendo alguém que vive o que acredita por análises próprias.
  Viver com independência significa minimizar fatores de tensão. Seremos presos a tantas cadeias quantas quisermos. Infelizes à medida que estabelecermos metas impossíveis.
  Cuidado, entretanto, com o excesso de independência, poderá ser instrumento de sofrimento. Enfrentar a sociedade poderá levar à própria destruição. As classes dominantes são conscientes de seus poderes e não apreciam insubordinações. Sacerdotes, gerentes, líderes políticos e generais prometem o inferno aos dissidentes, insubordinados, descrentes e os mais próximos, “amigos”, parentes e patrões poderão torná-lo realidade.
  Saber o que queremos e quanto estaremos dispostos a pagar é fundamental a uma vida feliz.



  23. História

  O que somos? de onde viemos? o que nossos antepassados fizeram?
  Tudo na Natureza segue uma certa ordem. Cada momento, imagem e objeto presente tem uma ligação com o objeto, a imagem, o momento anterior. Assim vemos nossa história, nossa vida desenvolvendo-se numa seqüência rica de momentos e cenários de grande valor para nós, pelo menos.
  Qual a importância disto? nossa cultura imediatista e consumista valoriza ações que produzam objetos e riquezas materiais. Fugimos da introspecção, da valorização cultural em direção da monetária. Fenômeno compreensível quando vemos que em qualquer clube, sociedade ou reunião a fortuna material é vista como dignificante e condição necessária e suficiente para acesso a qualquer honraria.
  Mas para alguns interessa saber sua origem, qual foi o comportamento dos povos sobre a Terra, o que transformou nações. Outros compreendem que tudo isto poderá ser base para muitas decisões importantes.
  Muito da rejeição ao estudo da história vem da forma medíocre e primária com que é apresentada e cobrada em muitas escolas. Até nos vestibulares vemos a História transformar-se em um teste de memória e conhecimento de coisas insólitas.
  A verdade é que neste mundo de grandes intercâmbios, conhecer a formação cultural, os vícios e virtudes de cada tribo é necessário para compreendê-las e sermos bem sucedidos nas transações em que nos metemos.
  Na História veremos as origens de nossos mitos, porque somos ricos ou pobres, nossa base racial e cultural. Conhecendo-nos poderemos projetar e construir um futuro com maiores chances de sucesso.
  Seria extremamente importante que nossos líderes e formadores de opinião estudassem e analisassem cuidadosamente a  história econômica das grandes potências. Se o fazem, parece terem esquecido muita coisa. O que é dinheiro? como se forma a riqueza de um país? por que o Brasil ainda não teve uma reforma agrária? e o capitalismo japonês é liberal? por que a Europa ocidental teve tanto apoio dos EUA para seu desenvolvimento econômico e a América Latina suporte para os golpes militares que viveu? Um fato relevante nos países mais ricos é a forma extremamente egoísta, nacionalista com que sempre se conduziram. Só abrem fronteiras quando sentem-se ricos e fortes o suficiente para resistir a qualquer concorrência. E a história da dívida externa brasileira? por que tivemos uma década perdida? por que tanta miséria? o que existe por trás da quebra do monopólio da Petrobrás?
  A História é o antídoto contra os fanatismos, os radicais. Superioridade racial, cultural? é só lembrar a selvageria do nazismo, a morbidez da Guerra do Ópio, as sombrias decisões da Inquisição. Se tudo isto não bastar vale a pena ler o livro “As veias abertas da América Latina” de Eduardo Galeano para compreender porque sabemos tão pouco das civilizações americanas pré colombianas. Nos livros de história também encontraremos descrições da evolução do Direito, da vida privada, das artes e povos que marcaram nossa civilização.
  A História contém as lições que precisamos para a vida política sadia.
  É terrível ver o produto da ignorância. O renascimento de posturas radicais em torno de religiões mostra que muitos esqueceram os horrores de estados inquisitoriais. As ditaduras sempre precisaram de censores e torturadores para se manterem, como defendê-las? só a ignorância dessas épocas poderia levar um cidadão saudável mentalmente (?) a desejá-las de volta.
  Estudar e compreender os grandes movimentos humanos, suas ideologias, costumes e ideais é, na perspectiva do tempo, obter base para posicionamentos importantes e lúcidos. Neste final de milênio precisaremos de muita inteligência para entrarmos no próximo século em condições de melhorar a vida de toda uma sociedade, de fazê-la mais justa e feliz.
  A História que aprendemos em bancos escolares é, normalmente, a de generais e batalhas. Precisamos ir muito além disto. Devemos conhecer a evolução do pensamento humano, da vida familiar, de suas relações burguesas, as grandes utopias, as cidades e seus efeitos. Uma boa leitura para isto é a coleção “História da vida privada” dirigida por Philippe Ariès e Georges Duby. Esta obra, editada em português, oferece análises e imagens extremamente interessantes da cultura européia. Nela saberemos detalhes das favelas francesas, do ambiente familiar da época dos Césares, da lógica urbanística e relações de poder. Principalmente nós brasileiros, que costumamos ver com desprezo nossa cultura, poderemos sentir como o Brasil tem qualidades notáveis, se comparado a maioria das nações, até aquelas ditas desenvolvidas.
  Recentemente a Abril Livros com a Time-Life Books lançou uma série extraordinária para consumo popular : “História em revista”. Sem análises de mérito ou de filosofia, descreve, com muitos detalhes interessantes, as diversas fases da história da humanidade vista pelos estudiosos do Primeiro Mundo. Isso é sensível pela ausência quase total da América do Sul nas páginas desses livros. Da mesma forma com que ignoram a obra de Santos Dumont (por exemplo), a América do Sul inexiste. Nós não passamos de curiosidade exótica para a grande maioria dos cidadãos norte americanos e europeus. Os europeus se esqueceram que o extermínio dos povos americanos aconteceu com as invasões dos “descobridores” e a exploração das riquezas minerais da América Latina foi a grande alavanca econômica durante séculos da Europa clássica. Os belos monumentos, as cidades bem construídas, palácios e teatros europeus tiveram muito do ouro e prata extraídos à exaustão de minas encontradas nas terras de pessoas que até a denominação de “índios” receberam por efeito da ignorância dos colonizadores.
  A nossa própria ignorância de nossa história vem também da carência de livros populares e bem feitos sobre o que foi nosso povo . Não temos obra literária similar às que citamos da história brasileira mas nosso país merece uma grande análise e exposição. Afinal hoje temos uma sociedade multi racial razoavelmente harmônica, apesar de denúncias ridículas de muitos panfletistas mal intencionados. Precisamos, contudo, aprofundar-nos em nossa cultura para entendê-la. Sua origem foi degradante em muitos aspectos. Aqui praticamos o genocídio e o escravagismo. Felizmente evoluímos. Estamos muito melhores que muitos países europeus onde o racismo e guerras religiosas ainda se fazem presentes de forma violenta.
  É impossível conhecer tudo. Mas muito deveria ser estudado com profundidade. Fatos como a Guerra Civil Espanhola e o genocídio americano deveriam ser matéria obrigatória assim como a história das utopias. Todo cidadão inteligente e com poder deveria ter uma base cultural mínima para, quem sabe, não dizer tanta besteira ou, pelo menos, não ter a desculpa da ignorância quando viesse a ser julgado por suas piores decisões.
  Quando nascemos somos simples e maravilhosos bebês. O que faz destes projetos de gente figuras tão díspares? a história de suas vidas poderá mostrar as diferenças, o que levou alguns ao cadafalso e outros à chave dos carrascos.
  Na história das nações veremos o efeito de idéias, filosofias e ambientes. Alguns povos cresceram para depois submergir. O que teria levado o povo de Atenas , há dois e meio milênios, ao fantástico nível de um Sócrates, Platão e Pitágoras? por quê o fenômeno não se repetiu tão cedo? por quê uma nação que gerou um Goethe, Engels ou um Hermann Hesse mergulhou no nazismo? qual o efeito da Primeira Guerra Mundial sobre a nossa vida atual ? é bom sabermos para não repetir erros...
  Os meios de comunicação tornam-se mais poderosos e numerosos. O cidadão atual tem a seu alcance informações que ninguém há um século imaginaria ser possível. Em qualquer livraria especializada encontraremos mais recursos que qualquer cientista disporia há pouco tempo. A falta de informações precisas levou nações a abraçarem as teorias mais absurdas. Assim a humanidade passou por inúmeras guerras. Nossa esperança é que a tecnologia diminua esta fragilidade colocando à disposição de todos imagens e histórias que mostrem o ridículo das posturas radicais.
  A História mostra a importância da liberdade. As grandes guerras foram produto das ditaduras, de imperadores e ditadores megalomaníacos, muitos deles líderes de religiões agressivas. É interessante notar atualmente como em países onde existe liberdade de imprensa há uma preocupação de se evitar escaladas militares. As primeiras lágrimas mostradas na televisão derrubam a popularidade dos gerentes da morte.
  Observamos como a liberdade responsável, a valorização da cultura e a tolerância são importantes. A própria cidade de Atenas, o que tinha de tão frutífero 400 anos antes de Cristo? liberdade, tolerância e democracia. A História da humanidade nos mostra isto. Não é importante sabê-lo? talvez por isso Atenas não se notabilizou como uma potência militar. Essa era a qualidade de Esparta, cidade sem liberdade, com padrões de disciplina e alienação surpreendentes até para a época.
  Infelizmente também a História da humanidade mostra que o interesse individual sempre prevaleceu sobre o coletivo. Não há demonstração mais inequívoca da “Pirâmide de Maslow” do que a política, a vida dos povos. Com todos os seus ideais, apesar da base humanista e dos traumas das grandes guerras, vemos, por exemplo, a Europa retomando caminhos fascistas. Os ideais socialistas não impediram a China de invadir o Tibete.
  A História, íntima da Sociologia, ilustra e serve de demonstração positiva ou negativa de todas as teses políticas. Ela mostra com muita clareza o estágio de desenvolvimento cultural de um povo. A prevalência dos instintos é um fato mais do que evidente em todas as fases da conhecidas até agora. Nenhuma nação atingiu o patamar da racionalidade muitas vezes exibido em momentos fáceis. Basta uma agressão ou risco de sobrevivência e os hinos militares são tocados com violência conclamando todos à guerra.
  O jovem do futuro deverá ser mais que um adulto atual. De alguma forma deverá amadurecer rapidamente pois a evolução tecnológica e as multidões poderão gerar conflitos terríveis. Diversas vezes nessas últimas décadas estivemos à beira de uma guerra atômica. Vemos países super armados comandados por indivíduos sem qualificações morais e até mentais. Ainda não possuímos uma forma de inibir a loucura de líderes carismáticos. A tecnologia, de uma maneira especial, colocou nos dedos de certos indivíduos a capacidade de aniquilar a humanidade. A história mostra-nos quantas vezes nações tidas como extremamente cultas e desenvolvidas caíram nas mãos de lunáticos. Conhecer suas carreiras, métodos e os resultados dessas vidas é muito importante para se evitar repetições. Precisamos encontrar vacinas contra as guerras, a miséria e a tirania.
  Aprender para julgar, saber para comandar, lembrar para não repetir erros. Este é o nosso desafio, nós que nos consideramos racionais.




  24. Psicologia e Sociologia

  Na vida profissional, sentimental e social ter bons conhecimentos de psicologia e sociologia ajuda muito. Essas duas ciências do comportamento humano dão-nos elementos para a compreensão da grande maioria dos processos que nos afetam. 
  Citei, por exemplo, a pirâmide de Maslow ( Abraham H. Maslow ) em alguns capítulos. Por quê? de uma forma simples este cientista mostra que nossas decisões seguem uma seqüência de prioridades da qual dificilmente escapamos. Saber disto é importante ao se avaliar o desempenho de qualquer indivíduo ou comunidade. Ao dizer que um ser humano agirá primeiramente motivado por anseios básicos de sobrevivência poderia parecer óbvio. Mostrar que outras posturas seguem-na em ordem de prioridade, naturalmente, será a explicação para muitas atitudes tomadas por indivíduos e multidões, quando desafiados a agir rapidamente. Na visão de Maslow decidimos dentro de uma seqüência começando pelas necessidades fisiológicas (alimentação, sexo, sobrevivência básica de modo geral ), segurança ( sobreviver com tranqüilidade ), necessidades sociais ( pertencer a grupos, clubes, igrejas, partidos etc.), estima ( ter a simpatia dos amigos, companheiros, gostar de si próprio ) e auto-realização, ter o sentimento de que fez e faz, de que é útil, de que fez o máximo possível dentro de uma visão pública, de que é um campeão. Nessa etapa Maslow diz “o que um homem pode ser, deve sê-lo”. Pessoas e nações agem assim. Nossa esperança é que a Humanidade mostre o lado bom das grandes nações e que suas atitudes apresentem de forma positiva a última escala da pirâmide de Maslow. Nações fortes e ricas venham apoiar o Terceiro Mundo na luta contra a miséria. O que vemos, infelizmente, é muito diferente. O que se gasta em armamentos daria para alimentar e educar cada ser humano sobre a Terra. O que impede a racionalidade? ou é parte de uma grande estratégia de poder manter grande parte da Humanidade nos limites da sobrevivência?
  Uma outra boa contribuição à análise das relações humanas é a análise transacional. Lembrar a necessidade do toque social positivo e demonstrar sua importância é o mérito de Eric Berne em seu livro “Você está ok? Análise Transacional”. Quem nunca sentiu a dor da indiferença, do desinteresse de pessoas que admiramos e estimamos? A falta de correspondência frustra companheiros, amigos e amantes.
  A história da psicologia, de um modo especial, é o relato e a análise da descoberta do ser humano. Muito antes aprendemos a fazer facas e espadas. Custamos a chegar ao conhecimento científico da natureza humana. Os especialistas falarão em psicologia, psiquiatria e psicanálise. As suas três formas têm contribuído para o desenvolvimento de todos nós. Essas ciências aplicam-se perfeitamente à vida profissional. Evidentemente algumas para explicar e corrigir patologias, outras para ajudar-nos a encontrar técnicas de gerência e liderança. Na administração de empresas um bom livro para começar a ver essas questões é “Psicologia para administradores” de Paul Hersey e Kenneth H. Blanchard, traduzido pela equipe do CPB ( Centro de Produtividade do Brasil ).
  Principalmente a partir do início deste século tivemos grandes cientistas do comportamento humano, consolidando as bases destas ciências. Graças a eles chegamos às técnicas de gerência moderna, por exemplo, e também, infelizmente, a refinamentos em processos de tortura e mídia (Goebels) negativa. Mídia? sim, foram extremamente eficazes a serviço de ditaduras, da exploração do homem pelo homem, da criação de hábitos nocivos a todos.
  Ao mostrarem a existência e efeitos de nossos instintos sexuais, da estruturação do raciocínio de uma pessoa e da forma como agimos diante de estímulos os mais diversos, tornaram compreensível traumas e atitudes de nosso dia a dia. A própria Justiça, na sua preocupação de administrar leis que devem ser iguais para todos, ganhou colorido em seus processos. O ser humano não age simplesmente porque é bom ou mal. Uma série de fatores levam-no a atitudes nem sempre desejáveis mas explicáveis. O sentimento de culpa, os traumas e nossas reações tornaram-se compreensíveis com pesquisadores já bastante conhecidos.
  Procurar estudar o trabalho de Freud, Jung, Adler e outros ajudará na compreensão e tolerância de nosso comportamento. Na vida profissional, de um modo especial, teremos aí excelentes ferramentas de análise de nossos times.
  Já a sociologia, aplicando-se aos grupos, tribos e nações leva-nos tanto ao conhecimento de sonhos de nossa espécie até análises de processos recentes como o foram o fim do comunismo na ex URSS e das ditaduras na América Latina.
  É importante procurar conhecer o que representou a sociedade industrial sobre os povos europeus no século passado. A escravidão em torno dos teares deu uma boa base às teorias de Marx. As grandes plantações de algodão na América do Norte e as de cana de açúcar na América do Sul tiveram efeitos consideráveis em nossa história política e social, gerando no norte uma guerra de secessão e no sul toda uma estruturação conservadora, retrógrada. Teorias como as de Auguste Comte foram aplicadas no Brasil. O Positivismo pesou na educação de nossos exércitos republicanos. Sociedades perfeitas eram o objetivo de muitos imigrantes. Gilberto Freyre, Darcy Ribeiro e até nosso presidente Fernando Henrique Cardoso são exemplos de profissionais que muito contribuíram para nossa cultura. Principalmente de nosso presidente esperamos que não esqueça seus discursos e aulas universitárias...
  A compreensão dos processos de decisão individual e coletivo ajuda-nos a ser bons pais, gerentes e companheiros. A ignorância escraviza-nos a dogmas, religiões e partidos, que nem sempre serão instrumentos de progresso, tolerância e amor.
  Um cidadão não terá capacidade de julgar se não tiver uma base mínima sobre as ciências que afetam nosso comportamento. A ausência delas leva-nos a decidir por intuição ou, simplesmente, aceitando uma liderança nem sempre bem intencionada. Vivemos em uma democracia. Isso nos obriga a procurar bases sadias de decisão. Nossos votos valem governos, guerra e paz. Não podemos ser irresponsáveis fugindo à formação básica necessária.
  Infelizmente nossos legisladores agem motivados por fantasias e outros interesses menos publicáveis. A ignorância tem sido valorizada. Ela é manipulável. Antes de combatê-la, dão-lhes prestígio.
  É interessante notar que até para casar os padres exigem um pequeno curso. Dirigir automóvel leva-nos a testes periódicos. Para votar, no Brasil, basta saber esticar o dedão borrado de tinta sobre um papel. Em nosso país o voto é obrigatório para quem souber desenhar o próprio nome. O que pretendiam nossos constituintes em 1988?
  Estudando psicologia e sociologia poderemos encontrar explicações para esses fenômenos. Substituiremos e sentimento de frustração pelo de curiosidade sobre processos políticos e sociais. Teremos como agir de forma mais eficaz.


  25. Ideologias

  A vida política, as relações econômicas, as religiões e seus mitos e o poder sempre seguiram modelos que caracterizaram ideologias. Esses conjuntos de idéias geraram propostas, partidos e muitos conflitos. Neste século vivemos a luta entre capitalistas, socialistas e comunistas. Os monarquistas perderam-se no início, afundando de vez na Primeira Guerra Mundial. Basicamente tivemos, temos e teremos sempre a guerra entre os conservadores, detentores do poder, e os progressistas, ou seja, os futuros conservadores.
  As lutas ideológicas são naturais mas penosas, destrutivas, muitas promovendo retrocessos consideráveis. Os conservadores resistem e com o poder de exércitos convencionais dificultam mudanças que poderiam ser válidas. Por outro lado esta resistência é necessária. Um povo não pode mudar suas relações institucionais com freqüência. As idéias precisam amadurecer, ser testadas e, acima de tudo, devem corresponder a uma vontade popular firme e consciente.
  A radicalização tem sido a rotina da humanidade. Líderes iluminados defendem ardorosamente propostas que mal entendem, militantes deslumbrados dão a vida por soluções muitas vezes contrárias a seus interesses.
  Um velho livro, “Princípios fundamentais de filosofia” de Georges Politzer, Guy Besse e Maurice Caveing, dá uma boa base sobre o que é capitalismo, socialismo e comunismo. Seus autores colocam suas simpatias pessoais com paixão mas a conceituação expressa nesse livro é boa. Percebe-se a necessidade de aprofundamento de teses importantes ao futuro de nossos descendentes. Infelizmente a radicalização selvagem não ajudou em nada a compreensão e aproveitamento de todas estas propostas. Vimos as ideologias mitificando-se e a seus líderes. As liberdades transformando-se em prisões, a democracia perdendo para ditaduras e os povos regredindo às formas mais selvagens de individualismos. Agora é politicamente correto falar em redução de verbas para fins sociais, o povo não deve mais governar-se. O estado existe para garantir o direito dos poderosos e cobrar os deveres dos mais fracos. Entre nações o imperialismo volta com toda a força, mais sutil e muito mais eficaz, colocado nas mãos de janízaros extremamente ágeis na degradação do estado e na promoção do entreguismo.
  Nós, brasileiros, somos sub desenvolvidos politicamente. Nossos líderes perdem-se em questiúnculas. As grandes teses mal são discutidas. No Congresso a maior parte do tempo é gasta em discursos inúteis. As decisões são tomadas no cabresto da ignorância e da preguiça. Para que estudar se fulano ou ciclano entende? ele decide...
  No paradoxo da democracia os mais pobres apoiam teses conservadoras. Abaixam a cabeça sob o peso esmagador da mídia para que em seus pescoços se coloquem as cangas desta imensa carroça que é a estrutura social terceiro mundista, alienante, escravizante na tirania das elites endinheiradas .
  Devemos estudar teorias políticas, direito dos povos, idéias e formas de aprimorar a vida. Com a mesma preocupação com que nos empenhamos em compreender uma religião deveríamos estudar ciências sociais. Queremos votar, participar. Quando depositamos nosso voto em uma urna estamos decidindo sobre o futuro, contribuindo de alguma forma para o aprimoramento ou degradação da sociedade. É comum ouvir as pessoas reclamarem dos políticos mas a qualidade é decisão dos eleitores.
  Mas , e as ideologias? o que existe é o melhor? o que corrigir ou pensar?
  De uma forma ou de outra o grande desafio da Humanidade é encontrar uma forma que viabilize a vida para todos, uma vida decente e justa. A marginalização de grande parte da população é inaceitável em um mundo pretensamente racional.
  É óbvio que muitas questões terão que ser revistas, encaradas com seriedade. O planejamento familiar mais cedo ou mais tarde será questão de estado. A menos que alguma doença, guerra ou catástrofe natural reduza drasticamente a população sobre a Terra, chegaremos  no próximo século a limites perigosos. Talvez ainda possamos ir muito longe sem controles mas um dia o sinal vermelho acenderá.
  Uma análise que podemos fazer de nossa sociedade é a que fazemos dos médicos. Não entendemos de medicina, dizemos que um médico é bom se curar, será ruim se não tiver sucesso. Assim podemos julgar nossas instituições, resolvem? criaram uma sociedade sadia? alguma coisa está errada. As diferenças são brutais. A personalidade das pessoas criadas neste ambiente é deplorável. Será que a humanidade tem capacidade de exercitar uma sociedade altruísta, produtiva e justa?
  Observando-se com atenção o ser humano veremos do mais pobre ao mais rico a imagem do animal selvagem. A semelhança cresce assustadoramente quando atingimos seus interesses.
  O grande desafio de Cristo não foi vencido : amar ao próximo como a si mesmo. Como? quanto? quando? por que? Mesmo na forma mais branda de Zoroastro “não fazer ao próximo o mal que não quiser para si” não é moda, não é padrão em nossa sociedade.
  A humanidade teve muitas utopias. Apesar do final fascista, compensa ler o livro “Os grandes sonhos da humanidade” de René Fülöpp-Miller. Utopias ou não as ideologias confirmam-se ou frustram-se diante dos instintos. A euforia de qualquer povo diante de suas vitórias militares deixa qualquer humanista perplexo, não interessa o mérito da luta, a vitória fascina, empolga.
  Diante de tudo isto tem sentido propor sistemas que contrariem nossa índole? como reagirão as futuras gerações? são questões permanentes que nos obrigam a pensar. E temendo por elas obrigamo-nos a teorizar. Precisamos discutir à exaustão o cenário “século 21”.
  A visão sistêmica da sociedade é necessária, através dela fazemos análises. Estamos longe, contudo, de dominar todos os seus parâmetros.
  Um grande cuidado que o jovem precisa ter é contra líderes guerreiros. A juventude é uma fase ingênua da vida. Com facilidade deixa-se levar pelos pregadores. Em cima de discursos patrióticos, moralistas e redentores centenas de milhões de moços já caminharam para a morte nos campos de batalha, nas lutas fratricidas de revoluções que normalmente terminaram em ditaduras ou, no mínimo, a vidas despedaçadas pelos rancores gerados por perseguições, torturas e prisões degradantes.
  As ideologias servem para o processo político, devem ser a base de partidos em processos democráticos, livres e pacíficos.
  A democracia deve sempre ser a base de decisão. A transformação pacífica  é o único caminho aceitável. A violência é o recurso do desespero absoluto.
  É preferível esperar a provocar guerras que destruirão o principal alvo das mudanças : o povo.
  Finalmente é bom lembrar que o capitalismo, o socialismo e a democracia são compatíveis. A Europa tem países em que administra-se sistemas que são uma mistura das três propostas. Rússia e China sempre tiveram regimes autocráticos, sem liberdade, sem democracia. Era natural apresentarem versões totalitárias e ditatoriais do socialismo. O povo perdeu.
  A Humanidade, recém saída das selvas, tem um longo caminho a percorrer antes de atingir o que poderíamos chamar de estrutura racional, fraterna, justa e decente. Qualquer radicalismo é, no mínimo, insensato e irracional.
  Ter uma opção ideológica é importante pois será base de decisões políticas. Sem esquecer, entretanto, que estamos longe da certeza, de termos base para posições severas.
  Apesar das platéias quererem convicções, devemos ter a ousadia de mostrar-lhes a dúvida e propor-lhes passos inteligentes, sensatos, cautelosos. Um país é como um grande transatlântico: para mudar de rumo precisa de uma longa distância, uma mudança brusca partiria o casco.
  Nós do Terceiro Mundo devemos primeiro vencer a batalha do analfabetismo em todos os seus aspectos. Isto é possível com o que temos. O próximo passo será ditado por este mesmo povo, pacificamente, interagindo com suas melhores lideranças. A violência só interessa aos candidatos a ditador.
  Estudar e trabalhar honestamente, sempre e sob todos os aspectos é o melhor antídoto contra o fanatismo. Procurar estruturar nossas idéias filosóficas sobre a organização do estado é válido para podermos decidir em quem votar, que propostas priorizar. Qualquer solução, contudo, só terá efeitos positivos se coerente com a natureza humana e o estágio cultural em que se encontrar.
  Não existe solução única para todos os povos. O que é bom em um país poderá ser um desastre noutro. Talvez exista um caminho lógico e evolutivo mas o desenvolvimento exige tempo e condições favoráveis.
  Os países mais ricos têm histórias diferentes. Alguns se beneficiaram dos privilégios da natureza, da fartura de seus territórios, outros cresceram principalmente sobre a operosidade e inteligência de seus cidadãos. Todos eles, contudo, dirigiram suas estratégias de forma nacionalista, cautelosa, racional. Não se permitiram excessos de qualquer espécie neste último meio século. Enquanto os de riqueza explosiva desperdiçaram muito dinheiro, isto aconteceu com a valorização temporária do petróleo, os países mais experientes administraram suas oportunidades para se desenvolverem de forma sólida, durável. A grande ideologia tem sido a da prudência e do respeito e competência administrativa. A distribuição de renda e reformas  institucionais conduzidas de forma progressiva, sem milagres ou poesias como as da nossa constituição de 1988. Direitos e deveres bem definidos, benefícios com compromissos claros devem ser a base de propostas estruturais para qualquer nação.
  A Humanidade vem de bases empíricas, belicistas e de filosofias metafísicas. Procurando melhorar deverá encontrar leis e padrões de vida decente para todos e, ao mesmo tempo, desenvolver lógicas de julgamento e valorização pragmáticas, eficazes.
Acima de tudo há necessidade de estabelecer condições de sobrevivência. O desafio do Mundo em futuro próximo será enorme. Metrópoles com dezenas de milhões de pessoas existirão em muitos países. A principal garantia de resistência será o estabelecimento de padrões de convivência saudáveis a todos os cidadãos. A vida e a educação deverão ser as grandes prioridades. A liberdade virá como conseqüência. O senso de responsabilidade deverá estar impregnando cada decisão, atitude, espaço.
  A ideologia do futuro ainda não foi escrita.



  26. O Poder

  O ser humano, como qualquer animal, vive lutando para garantir sua sobrevivência e a de seus descendentes. Esse comportamento é instintivo, natural e onipresente em nossas atitudes. Estamos sempre procurando afirmar nossa superioridade, maior beleza, força e inteligência. O processo de existência é altamente competitivo. Só sobrevivem com dignidade e riqueza os mais fortes. Desde crianças vivemos uma luta constante e violenta pela existência. Nosso universo começa em nós mesmos. Quem se preocupa com a fome dos seres vivos de outro planeta? alguém já rezou pela felicidade de todos os seres do Universo? Assim procuramos o poder como instrumento de afirmação, sobrevivência, conquistas sexuais e outras.
  O que fascina no Poder? por que tantos lutam ardorosamente para conquistá-lo?
  O Poder é afrodisíaco. Homens comuns passam a atrair paixões a partir do instante em que assumem cargos importantes, que desfilam com o carro do ano, mostram possuir grandes riquezas ou, de alguma forma, mostram-se mais fortes que os demais. Esta característica, por motivos que o time do Freud explica bem, é essencialmente masculina. Assim como os homens admiram as mulheres frágeis, carentes e bonitas, as mulheres querem ver seus amores fortes, conquistadores, vencedores.
  Para o ser humano, independente do sexo, o poder é autogratificante pois o simples exercício da autoridade fá-lo sentir-se poderoso, seguro. As pessoas modificam-se, apresentam comportamentos inesperados. Indivíduos humildes tornam-se arrogantes, mestres queridos acreditam-se deuses quando conquistam poderes maiores. É louco, perturba, transtorna, modifica.
  O Poder também decepciona. À medida que crescemos começamos a ver as pessoas em todas as suas fraquezas. E como se mostram frágeis, corruptas e sensíveis a qualquer benefício. Principalmente os mais incompetentes e malandros procuram favores daqueles que estão nos postos mais elevados pois esta é a maneira mais confortável de sobreviverem. A bajulação é constante. O uso em benefício pessoal do Poder é natural para esses indivíduos que não sabem respeitar aqueles que têm a força do comando. Para os parasitas o Mundo é um espaço de exploração predatória em benefício pessoal, até porque não têm capacidade de produzir, de serem úteis. O isolamento dos líderes responsáveis é uma realidade. Arriscam-se a tornarem-se indivíduos solitários, eremitas. Perdendo amigos, rejeitando a hipocrisia, a bajulação e percebendo com muita clareza as fraquezas daqueles que o cercam, deles se afasta por repugnância ou incapacidade de uma convivência gratificante.
  Um grande exemplo do efeito do Poder sobre as pessoas foi a Revolução Francesa. Sob os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade tivemos líderes que lutaram pelo povo, defenderam os ideais revolucionários ardorosamente, com o risco da própria vida e enormes sacrifícios. No topo de suas carreiras fizeram do terror o nível de igualdade e o padrão de amizade era, no gume da guilhotina, a delação. Exercitaram a fraternidade dos cemitérios. Enlouqueceram no prazer sádico de suas palavras. O povo nas galerias de suas assembléias, sedento de vinganças inúteis e dono de verdades que mudavam voluvelmente, induzia seus deputados aos excessos que enterraram a frágil democracia  e muitos franceses.
  O Poder conquistado e sustentado democraticamente é recente. O ser humano ainda não aprendeu a exercê-lo com eficácia e respeitando as regras do jogo que vence ao ser eleito. A transformação de personalidade da maioria dos eleitos é impressionante. Muito pelo efeito dos bajuladores, o chefe assume a postura de novo rei. Cobra vassalagem. Exige honrarias e tratamentos muito acima de seu real valor. Sob o pretexto de exercer autoridade coloca suas vaidades acima da lógica administrativa. Suas decisões têm por finalidade sua segurança pessoal  e não o benefício do povo.
  Ter força, liderança sobre pessoas, põe o homem comum em níveis de autoridade que o fazem sentir-se Deus, realizador, árbitro, coletor e predador da natureza. O seu exercício enlouquece os mais fracos, corrompe os de caráter mais frágil, revela instintos e permite aos melhores mostrar sua capacidade de aprimorar a vida, a empresa, a nação. Essas pessoas sentirão o isolamento a que se submetem por terem a responsabilidade de decisões muitas vezes agressivas, desagradáveis. Administrando empresas, nações ou famílias toma-se decisões que freqüentemente constrastam com os interesses imediatos de pessoas nem sempre preparadas para ouvir um não.
  Na natureza os poucos bons líderes demonstram que alguns exemplares da raça humana são civilizados, sadios, responsáveis, cientes de suas responsabilidades, feitos à imagem e semelhança de Deus...O resto, infelizmente, é prova de nossa imaturidade para o exercício da autoridade conquistada nas urnas, na vida profissional e na família. Tornam-se demonstrações das teorias darwinianas, tão preocupadas em achar elos perdidos...
  Em campanha as promessas são de respeito ao cidadão, à liberdade, à justiça. Nos palácios o discurso muda. Sentados nas poltronas dos chefes, indivíduos, não mais que seres humanos, travestem-se de seres supremos, donos da verdade, exemplos divinos da perfeição. Perfeitos e trágicos carrascos ou palhaços!
  A realidade impõe ver e considerar o que a História mostra. Conquista-se o Poder por hereditariedade, corrupção, política, dinheiro, trabalho, tráfico de influências. Um fato visível na história da humanidade é que mais importante que a forma com que se atinge o Poder é a sua utilização. Grandes reis, presidentes e generais chegaram ao cume do Poder de forma impublicável. Com autoridade foram brilhantes, eficazes. Conquistaram a simpatia e o respeito do povo.
  No Poder a responsabilidade pesa, o ambiente muda, novas relações se estabelecem. Aí teremos um teste de maturidade, da capacidade de filtrar, decidir, selecionar. Com o tempo percebe-se quanto é solitário o Poder e como é difícil que antigos amigos e companheiros compreendam a finalidade do cargo, o que dele se espera, e como poderiam colaborar.
  Infelizmente até nossa educação religiosa leva-nos à bajulação, à hipocrisia.
  Amar a Deus sobre todas as coisas. Como? realmente O amamos? poucos cristãos teriam a coragem de dizer o contrário mas nas blasfêmias e na própria vida mostram que assim não sentem.
  Esta educação cínica e hipócrita acaba mostrando resultados negativos nas relações de Poder. Na vida política vemos uma luta constante pelo Poder e, paradoxalmente, a inconsciência do seu uso, o desperdício de oportunidades que poderiam estar sendo usadas para o bem da Humanidade.
  O povo, os miseráveis, as nações anseiam por competência, resultados.
  Nossa sobrevivência sempre dependeu e sempre dependerá da capacidade positiva de nossos líderes. Acima de pequenas questões está a necessidade de termos bons governos, gerentes e líderes que garantam nossa sobrevivência. Com todos os defeitos que nossos grandes chefes forem capazes de possuir, desejamos, sonhamos, rogamos, pedimos, encarecemos ter deles competência positiva. Principalmente nós do Mundo subdesenvolvido perdoamos falhas de caráter, ignoramos erros e desonestidades mas ansiamos por eficácia. A miséria é muito mais uma conseqüência da incapacidade de se gerar riquezas do que, dentro do discurso esquerdista, efeito da má distribuição de renda. Os países mais miseráveis são aqueles que caíram escravos de filosofias messiânicas, contemplativas, passivas. Observando-se nações com religiões mais desafiadoras, materialistas, mais terrenas veremos que tiveram mais sucesso. A população cresce, e muito. Se antigamente havia espaço para a irresponsabilidade, agora precisamos de mais seriedade e objetividade. Precisamos encontrar soluções para alimentar bilhões de pessoas. A poluição, a destruição da natureza é mais evidente nos países pobres. Lá não têm outra forma de sobreviver que a utilização predatória dos recursos naturais. A tecnologia social, industrial, agrícola precisam ser mobilizadas para o resgate de populações imensas. A humanidade não tem tempo a perder. A consciência coletiva, a percepção da importância de cada ser humano, esteja ele no interior da África ou no centro de Paris é algo moderno, atual, no mundo das infovias, das comunicações. E em todos existe o medo do futuro.
  No passado a humanidade teve riscos elevados. As pestes, a fome eram rotina. A diferença do mundo atual é a capacidade de mobilização, as massas alertas e informadas e a capacidade de destruição total.
  Assim já não se despreza a imagem, a visão que outros povos terão. Neste processo ficamos sabendo se um asteróide irá chocar-se contra a Terra, se alguma epidemia está se desenvolvendo na Índia, se os alemães estão respeitando os imigrantes que eles atraíram para seu país no passado. Se na Ásia, lá no Japão surge um grande líder, aqui o saberemos. Será visto em milhões de lares em todos os continentes. Suas idéias divulgadas. Suas propostas analisadas e cobradas por milhões de pessoas.
  A Civilização foi, é e será marcada pela capacidade de cobrança de resultados, pela eleição de líderes, pela conquista de novos espaços e de uma vida melhor. O Poder diante de pessoas  esclarecidas, informadas, será testado em sua capacidade de transformá-las em multidões de cidadãos em condições de ter uma vida decente, digna e saudável.
  Nós brasileiros temos exemplos de uso do Poder que o povo amou e detestou. Quem contesta a liderança de Don Helder Câmara? Juscelino Kubitchek? Pelé? Jorge Amado? Betinho? para falar apenas dos bons líderes, pessoas de que nos orgulhamos e que enriqueceram nosso país.
  Seus defeitos particulares e até políticos ficaram pequenos diante da  contribuição que deram para a felicidade e dignidade de nosso povo.
  Diante de tudo isso o jovem deverá refletir muito sobre sua possível pretensão política ou gerencial.
  Nas empresas, longe da visão crítica da mídia, este problema é pior, mais medíocre, mais fácil de apresentar perversões de toda ordem. Muitos gerentes e empresários tratam seus subordinados de forma humilhante, agressiva, descarregando neles todas as suas frustrações. Longe da vigilância pública e com poderes enormes muitos criam ambientes com padrões os mais indecentes, doentios.
  Livros, especialistas e escolas alertam constantemente para a necessidade de disciplinar gerentes. O sucesso das empresas depende muito da capacidade delas se organizarem de modo a ter um ambiente sadio e produtivo.
  A luta pelo Poder só tem significado justo quando em benefício daqueles em nome de quem o exercitaremos e para quem ele foi estabelecido.
  O exercício decente e produtivo do Poder é uma demonstração de cultura, educação e caráter.
  Disputar cargos é uma pretensão legítima quando se tem a convicção de poder exercê-los com eficácia. O excesso de humildade atrapalha. Avaliar-se no time, no ambiente em que se procura o gerente, o chefe, é importante para a luta. Sentindo-se em condições de assumir o comando é justo pretendê-lo. Seria um erro ético contra a empresa ceder, sem disputa, para um menos capaz.
  As empresas, a sociedade como um todo, só evoluirão se os mais capazes tiverem interesse e disposição para comandá-las.
  No processo democrático  o Poder conquista-se pelo voto, pela ação política, pela disputa. É um caminho penoso, cheio de armadilhas. O candidato pretende cargos, espaços em que exercitará sua capacidade de legislador ou de executivo. Para isso lutará, enfrentará adversários, negociará, apresentar-se-á em palcos, palanques e auditórios. Mas tudo isso deverá ter por objetivo o povo. Ele é a nação que procura líderes, que pede governo.
  A Democracia precisa desta disposição para a liderança. É um sistema que se baseia na competição. Lamentavelmente tem sido estruturada de modo a depender do poder econômico, o que restringe em muito o acesso ao Poder. Principalmente nos estados menores o império dos grupos econômicos é perfeitamente visível. Jornais, televisões, clubes e ruas lhes pertencem. Apesar das dificuldades, aqueles que tiverem a oportunidade e qualidades para a peleja democrática deverão fazê-lo. É um pedido a que se transformem em mártires da República.
  Lutar pelos cargos de comando e exercitá-los com competência e dignidade é um compromisso com a vida.
  A riqueza material, o dinheiro, é o instrumento de poder mais comum e eficaz. Existimos em uma sociedade em que o dinheiro compra tudo. Tê-lo significa penetrar em todos os lugares, ocupá-los com deferências, respeito. Não importa muito como a riqueza foi conquistada. Se de forma impublicável, dirão que foi produto da ousadia, da esperteza. Ter riqueza material diante de um povo empobrecido, faminto, é ter a oportunidade de “dar esmolas”, fazer “caridade”. O estranho é ver muitos agradecendo receber como esmola o que lhe foi tirado de forma inescrupulosa. A ignorância, o medo e a passividade de muitos contribui para a eternização de estruturas sociais injustas.
  O poder do dinheiro é sentido com grande intensidade em um ambiente em que ele compra a mídia, administra a comunicação. A democracia torna-se uma ficção em uma sociedade em que a censura via patrocinadores existe a ponto de bloquear completamente a manifestação ideológica de grupos contrários aos detentores do poder. Exceto em alguns países de alto nível cultural e grande tradição de liberdade, a democracia é uma ficção. Grandes potências militares e econômicas vivem sob o império das elites mais ricas. A monarquia deu lugar aos grandes proprietários. Eles mandam na opinião pública, ditam as regras políticas e administrativas em seus mínimos detalhes. Se antes as nações eram propriedade de imperadores, agora o são de magnatas.
  O aspecto positivo dessa aristocracia é que ela se estabelece pela competência. Muitos fizeram riqueza pelo trabalho, inteligência e competência. A democracia capitalista é um grande espelho da natureza. Só sobrevivem os mais capazes. Ela é dura e tem dentro de si um processo impiedoso de seleção natural. Até onde isso é válido é uma questão delicada, importante. O futuro da humanidade depende muito de encontrar-se uma alternativa a esse processo “natural” de sobrevivência.



  27. Direito e Justiça

  O que temos como Justiça? o que se pretende nos tribunais? existe Justiça?
  O Direito e a Justiça são a grande marca da civilização, indicando com clareza o grau de desenvolvimento de um povo e da própria humanidade. As diversas formas de aplicação da Justiça mostram a racionalidade, a honestidade e, enfim, a dignidade do ser humano em seu ambiente. O grau de desenvolvimento de um povo poderá ser medido pela qualidade de seu sistema judiciário, no aprimoramento ético de suas leis e no respeito que seu povo tiver por seus tribunais.
  Produto cultural de cada povo mostra as características filosóficas e materiais em que vivem. Assim também em muitos países formalizam violências de toda espécie. Nos países mais atrasados a Justiça é a principal arma dos poderosos. É também uma grande indústria de papéis, emprego para cartorários, bedéis e outros...
  Em países formados por bandidos a Justiça é estruturada para defender criminosos, assassinos. Nestes cenários os direitos do homem só existem a favor dos delinqüentes e poderosos. A Justiça é lenta, confusa, cara, dependente de armações de toda espécie. Nesses ambientes as penas mais severas são temidas pois nada mais são que instrumentos de chantagem, racismo, agressões primárias. A pena de morte, tão necessária nesses países sem recursos para manter penitenciárias, acaba rejeitada pela certeza de se transformar em mais uma arma contra os pobres e rivais políticos, religiosos e econômicos.
  Nações imaturas têm na Justiça um grande problema de solução remota. Os poderosos aproveitam-se do império da impunidade ( dos ricos ) para perpetuarem-se no poder e o fazem até no comando da própria Justiça.
  Um detalhe interessante nestes países é a figura dos juizes. Cultivam um espírito corporativo exacerbado pois dele dependem para manter a pompa e mordomias que tanto apreciam. Sabem que não têm outra defesa a não ser seus órgãos de classe e a elite dominante para protegê-los. Do povo nunca teriam a simpatia, a defesa de seus privilégios.
  Deve ser terrível para um cidadão esclarecido viver num país sem Justiça, corrupto, venal.
  A Justiça, enfim, mostra a qualidade de um povo, de seu nível cultural...
  Roma preserva ruínas que desaparecem aos poucos mas sua contribuição para o Direito é um marco eterno na história da humanidade.
  No mundo moderno, super povoado e intensamente competitivo, a Justiça é base para a construção de todas as transações, relações. Os Estados Unidos da América do Norte são um bom exemplo disto. País de tantos advogados tem no exercício do Direito uma de suas atividades profissionais mais valorizadas. A estabilidade e a forma com que o cidadão norte americano faz valer seus direitos tornam sua pátria um lugar invejado e desejado por milhões de estrangeiros.
  No Brasil já possuímos uma grande tradição jurídica. Ainda recentemente vimos como se aplicam os conceitos do Direito em uma ditadura. Esta cultura extremamente rica espera por constituintes e juristas para ajustes e modernização.
  Para o jovem que inicia sua carreira profissional a serviço da Justiça é bom que reflita sobre a responsabilidade que terá pelo resto de sua vida. Em condição idêntica à do médico, o advogado, promotor ou juiz terá uma vida de sacrifícios e compromissos penosos. É uma atividade apaixonante pelos desafios que contém mas que absorve inteiramente quem a ela se dedicar.
  A responsabilidade de defender, acusar ou julgar alguém deve pesar duramente sobre a consciência do profissional.
  Há muitas maneiras de sobreviver. Antes de se iniciar em uma profissão devemos analisar todos os seus aspectos, positivos e negativos. Optar pelo Direito deve vir de uma paixão sincera e honesta pela Justiça. Nunca como simplesmente uma forma de ganhar dinheiro.
  E o futuro? como será um tribunal? um julgamento? temos uma grande esperança nos computadores e na inteligência humana. Como utilizá-los? evidentemente haverá necessidade de tornar a Justiça mais objetiva, pragmática e menos prolixa. Com facilidade poderemos automatizar muitas análises, economizar muito papel. A simplificação da forma de análise não é fácil mas a genialidade de nosso povo poderá aplicar-se nesse sentido em benefício da Humanidade. Precisamos de leis inteligentes e cobranças eficazes.
  O que esperar da Justiça?
  Primeiro, por pior que seja, é necessária. A justiça faz parte de nossas vidas sob diversas formas, independente da cultura e da condição social. É interessante notar que as pessoas mais humildes costumam ser muito severas. Elas que têm tão pouco, que trabalham duro para sobreviver e sustentar seus filhos, sentem-se agredidas, ofendidas diante de bandidos. Estes, com muita facilidade, destroem aqueles.
  O segundo é o da esperança. A Justiça deverá aprimorar-se, tornar-se mais eficaz e coerente até nos países hoje atrasados. É um processo universal. O interesse das grandes potências passará pela imposição de suas estruturas e conceitos nesta área. Vivemos fases poéticas mas a luta pela sobrevivência trará nossos líderes para a compreensão de que até para eles será bom ter a Justiça funcionando bem. Com o aprimoramento dos meios de comunicação conscientizamo-nos de nossas deficiências e virtudes. Com certeza evoluiremos.
  O terceiro argumento a favor da Justiça é o de que a verdade prevalece. Ela que pretende e deve ser a expressão da verdade, da aplicação correta do Direito, encontrará formas de melhorar. A organização falha satura, denuncia-se. De dentro e de fora surgem pressões. As contradições acabam exigindo soluções. Assim a Justiça enriquece-se de elementos que contribuirão para a sua evolução. Nada é perfeito. A Justiça, pelo que se propõe, estará sempre muito longe da perfeição. É uma tarefa complexa, julgar.
  Finalmente o que se deve esperar da Justiça e de seus profissionais é o empenho no aprimoramento de suas atividades.
  A vida, o ser humano sem Justiça não será, não poderá ser considerado civilizado, racional. Nosso desafio permanente é lutar para que a Justiça evolua, seja uma realidade gratificante.
  Nunca é demais lembrar que a Justiça plena, pura, é incompatível com as ditaduras. Seus famosos tribunais revolucionários constituíram-se em caricaturas terríveis e, infelizmente, continuam existindo em muitos lugares deste planeta.
  Felizmente o Brasil retomou o caminho da democracia e da liberdade. Temos seqüelas deste período mas passo a passo recuperaremos o tempo perdido. Graças à liberdade, à comunicação global, ao próprio turismo nosso povo começa a perceber o que está errado, o que precisa ser corrigido.
  Iniciamos um período de revisão constitucional. Nosso Presidente, premido pela urgência das reformas econômicas deu-lhes prioridade. A inflação gigantesca que suportamos durante tantos anos traumatizou nosso povo. Combatê-la é uma vontade popular e, assim, nada mais democrático que concentrar esforços neste sentido.
  A reforma de nosso judiciário, entretanto, é uma  necessidade urgente. A delinqüência, a criminalidade cresce assustadoramente. A impunidade é um estímulo à sua propagação.
  Problemas sociais são a principal razão deste fenômeno agravado pela cômoda visão de que a nação é responsável pelos desatinos de cada um. Se alguém tem dez filhos logo se coloca a questão de que o estado deve-lhe oferecer escola, saúde e recursos para sustentar sua prole. As crianças não têm culpa mas seus pais não são orientados em direção a atitudes mais responsáveis. O resultado é a miséria, as favelas, a criminalidade crescente e a incapacidade de nosso sistema judiciário atender a todos os desvios dessa multidão.
  Em paralelo à reforma de nosso sistema penal e judiciário devemos desenvolver um trabalho de conscientização em torno de um comportamento mais responsável. Até no esporte vemos nossos comentaristas elogiando a indisciplina, a irresponsabilidade, a molecagem...
  De qualquer modo, independentemente das razões que levam nosso país à crise em que se encontra, o aprimoramento da Justiça é necessário. A modernização de nossa sociedade e a necessidade de vivermos em um estado em que as leis sejam efetivamente respeitadas exigem o aprimoramento de lógicas, processos e instituições, em especial a nossa Justiça.



  28. Crime e castigo

  A incompetência política e administrativa dos nossos líderes mostram seus resultados em nossa sociedade. A criminalidade cresce, os marginalizados somam milhões de pessoas, os mais ricos vivem prisioneiros entre seus muros e cercados de guarda costas. As diferenças são tão grandes que os mais pobres para sobreviverem partem para a delinqüência, a marginalidade. Neste nível os piores crimes acabam acontecendo. Empresários da notícia encontram aí uma boa fonte de renda e prestígio. Indústrias de armas faturam como nunca. Demagogos elegem-se em cima de discursos radicais e inúteis.
  O Brasil é um país que produz meia tonelada de cereais por habitante e por ano. É um dos maiores produtores de carne e um dos lugares de mais  baixa densidade demográfica sobre a Terra ( áreas férteis ). Exportamos para importar carros de luxo. Quinquilharias as mais diversas são adquiridas e pagas com as exportações de alimentos. Nossas instituições não estimulam maior racionalidade. A mídia apresenta a todos os  quadrantes deste país a indolência, a frivolidade e a malandragem como modelo de Brasil. A figura do Zé Carioca é apresentada como do cidadão tipicamente brasileiro. O Carnaval é estimulado. Induz-se populações a aceitar padrões de comportamento distantes daqueles trazidos por seus avós. A padronização cultural por baixo, em paradigmas degradados, é a glória de muitos donos dos sistemas de comunicação brasileiros. E eles mesmos depois se apresentam surpresos com os resultados. Quanto cinismo!
  Neste cenário é natural a altíssima criminalidade, a falta de espaços nas penitenciárias, a insuficiência das forças policiais. Não há polícia no Mundo capaz de enfrentar um povo desesperado num país rico. O pior é que esta nação tem oportunidades incríveis a quem estiver disposto a trabalhar, a enfrentar a vida com um pouco de criatividade e seriedade e for educado para fazê-lo.
  As altíssimas taxas de natalidade estimuladas por líderes irresponsáveis geram o problema da falta de escolas, saúde e assistência para milhões de famílias, que não encontram solução para seus apertos, frutos da ignorância que não vemos acabar, só crescer.
  Nesse cenário ouvimos discussões como a da pena de morte e do aborto.
  Em torno da pena de morte podemos desenvolver um raciocínio importante na avaliação da própria Justiça. O que é lícito, justo, correto? Como tratar os bandidos?
  A Justiça erra quando coloca a questão “é inocente ou culpado”. Basicamente ninguém é culpado e a conseqüência é que um bom advogado consegue provar a inocência ou encontrar atenuantes para qualquer criminoso. Ninguém escolheu os pais que teve, a sociedade em que nasceu ou a saúde que possui. Mas a penalização é necessária para intimidar, inibir futuros criminosos e a reincidência. É a vingança arbitrada, uma compensação às vítimas.
  No Brasil, com a preocupação de evitar injustiças, os processos são lentos. O formalismo e as normas processuais exigem recursos que a maioria dos brasileiros não possui.  O resultado é o aumento da criminalidade e fragilização da vida social. Um dos aspectos tenebrosos da falta da “vingança formal” é o surgimento dos “justiceiros” e dos linchamentos. A falta de fé na Justiça e a desconfiança no policiamento leva muitos a agirem por conta própria, aumentando os riscos de violências absurdas, à margem da Lei.
  Um dos problemas diante do crime crescente é a falta de recursos para combatê-lo. Por que não implantarmos a pena de morte? a penalização financeira? a redução das penas com reclusão?
  Ouvindo debates vemos que muitos defendem a prisão perpétua. Por que a nação deveria gastar tanto dinheiro com um criminoso irrecuperável? para que ele fuja e mate ou estupre mais pessoas inocentes? qual é a prioridade? gastar dinheiro com aqueles que ainda não partiram para a criminalidade ou investir em penitenciárias caríssimas para garantir os direitos de pessoas irrecuperáveis, com altíssima chance de novos crimes?
  Os legisladores brasileiros partem do princípio de que os recursos financeiros são ilimitados. Criam interminavelmente mais e mais obrigações para o governo. Quem paga? é o próprio povo. O brasileiro precisa ter consci6encia de que o governo não faz milagres. Na aplicação da Justiça esta é uma realidade concreta. Qualquer processo tem custos. Todo criminoso custa uma fortuna à nação.
  Precisamos com o máximo de urgência ter o bom senso de encontrar soluções e parar com poesias. Nossa juventude, de uma maneira especial, pode vir a desenvolver propostas melhores do que aquelas que aplicamos, partindo de nossa experiência. As soluções aplicadas no Brasil não têm dado resultado. Não é por falta de recursos para as questões sociais. Para evitarmos a miséria há produção e capacidade de trabalho suficientes. O Brasil é um país suficientemente rico para sustentar seu povo e com gente capacitada a encontrar suas soluções. Não podemos, entretanto, passar a vida com utopias inúteis. A punição de criminosos é uma delas. Os grandes bandidos têm tratamento privilegiado. Com toda a violência de que são capazes, dominam os ambientes em que vivem, inclusive penitenciárias. Nossas cadeias são escolas do crime. Locais em que se organizam e de onde partem para escaladas criminosas cada vez maiores. Menos pela eventual culpa que carreguem do que por suas atitudes e mais pela necessidade urgente de reverter as estatísticas do crime, devemos com urgência implantar a pena de morte e formas mais ágeis de julgar e punir, de modo geral. Eliminando as piores cabeças elas não serão mais instrumento do crime organizado. Atitudes exemplares contra os piores delinqüentes inibirão outros. A redução das penas sobre pessoas  e crimes menores é também muito importante. Abriremos espaços para um maior número de punições. A cadeia não é o lugar para “pagar” crimes mas para inibir sua reincidência. Sempre que possível deverá ser substituída. É que nem hospital. Quase tão perigoso quanto ficar sem internamento é o próprio hospital onde as infecções matam uma boa porcentagem dos pacientes. Assim são as cadeias, destroem as pessoas, as que escapam com saúde física (mental é impossível) terão grande dificuldade em arranjar emprego. Normalmente voltarão ao crime para sobreviverem pois foi isto que aprenderam nas celas e é o espaço que a sociedade lhes terá reservado.
  Evidentemente a solução para o crime não é simplesmente aumentar ou diminuir os castigos formais mas evitar que crianças cresçam em direção à marginalidade. A grande solução é a educação e a criação em ambientes em que o amor, a disciplina e o trabalho sejam a regra.
  Cada família precisa ter dimensões e base para se sustentar. O planejamento familiar, entre outras coisas, é muito importante. Não podemos acreditar que a nação seja a responsável pelas fantasias sexuais de qualquer casal. Os meios de comunicação concessionários deverão pagar o direito adquirido educando positivamente a população. A programação de televisões e rádios não pode ser livre mas objeto de um plano de desenvolvimento material e moral da nação. Falar em liberdade nessas áreas é ignorar a violência com que entram em qualquer lar. São serviços para os quais pede-se concessão, por que não exigir em contrapartida que tenham qualidade? A liberdade de imprensa está ligada à vontade de usá-la, tê-la. A imprensa escrita tem o filtro da decisão de adquiri-la. Há um esforço considerável e necessário para atingi-la. Assim chega-se a uma condição de discernimento e seleção. A imprensa eletrônica, ao contrário, está dentro de casa a partir do momento em que se instala o aparelho. Na ausência dos pais os filhos tem acesso a tudo o que é transmitido. E muito do que se faz nas telinhas e se diz via microfones é oportuno, saudável. O culto à moda associado à mídia de posturas, idéias e propostas indecentes cria padrões de comportamento deploráveis.
  A liberdade existe e é sagrada nas praças, na literatura, nos ambientes de acesso voluntário e seletivo. Os meios de comunicação deveriam, sob lei marcial, serem mobilizados para a reversão dessa cultura estúpida e imoral, que tomou conta do país. Brasil que venera chantagistas porque foram mestres na arte de explorar a pena ou a imagem para conseguir suas porcarias. Nação que assim o faz porque tem sido educada a “levar vantagem sempre”.
  O grande desafio das próximas gerações será encontrar novas formas de inibir a criminalidade. Será aprender a eliminar os criminosos irrecuperáveis. O Mundo superpovoado deverá encontrar padrões de educação mais eficazes sem agredir as liberdades básicas do cidadão decente, trabalhador. Nunca esquecendo os riscos, o câncer do racismo, da xenofobia, do fanatismo religioso, esportivo e outros, estruturando-se para a estruturação de uma sociedade sadia, teremos em futuro próximo problemas monumentais em torno do Direito, da Justiça.
  Nesses cenários provavelmente a “pena de morte” será reconsiderada. Nos EUA isso tem acontecido. Infelizmente constata-se a inutilidade dos tratamentos amenos, tolerantes com os superbandidos. Toda a dinâmica de nossos processos na Justiça deverá ser agilizada e racionalizada. Temos que acabar com a valorização da palavra bela e inútil, inibir o corporativismo de profissionais do crime que, de um lado e de outro, se organizam para tirar o máximo de proveito da fragilidade de nosso povo. O planejamento familiar, o desenvolvimento do espírito de paternidade responsável deverá ser estimulado. A educação será o grande caminho para fugirmos à essa catástrofe social que já vemos em metrópoles como o Rio de Janeiro e São Paulo.
  Sem maniqueísmos deveremos encontrar no culto à responsabilidade, ao trabalho e à seriedade a solução para nosso povo. Direcionando a mídia e os demais processos educacionais no sentido do progresso material e moral encontraremos formas de garantir uma vida decente a todos e a redução do crime ao mínimo suportável.



  29. Felicidade

  O que todo ser humano realmente deseja é ser feliz. Quem se esquece disto acabará concluindo que errou, que terá desperdiçado sua vida. Note-se que a felicidade é algo distinto do sucesso profissional. Os caminhos são diferentes ainda que, eventualmente, próximos.
  A fortuna de ser feliz é algo infinitamente mais sutil do que parece. Por estarmos em uma sociedade consumista estabelecemos metas diárias em que a felicidade coloca-se em conquistar, ter, usar. Esquecemos que a felicidade é produto principalmente de uma disciplina, da capacidade de aliviar tensões, de sentir-se bem e satisfeito consigo próprio.
  A felicidade existe para aqueles que aprendem a ver, sentir, tocar com amor. Existe graça e mistério num simples pedregulho, na folha de um arbusto qualquer, nas asas de um pássaro. O paraíso está neste horizonte. O sentimento de equilíbrio e sintonia com a natureza dá a integração divina com o Grande Arquiteto. Infelizmente embotamos nossos sentidos e sentimentos nas cidades. A violência é tão freqüente que vira estatística. Os compromissos profissionais e sociais governam nossas vidas que passam, consomem-se.
  E quando não atingimos essa capacidade de sentir e de amar viramos máquinas seguindo por trilhas estéreis.
  Nossos sentidos emitem mensagens que precisamos interpretar. Nosso cérebro é programado primariamente para nossas necessidades básicas. Junto ao ambiente que vivemos acrescentamos outros parâmetros, novas equações
  O que somos biologicamente? somos descendentes dos povos mais violentos, do produto de um processo seletivo muito severo. Nossos ancestrais conquistaram a Terra, lutando entre si e contra a natureza. Não é de estranhar, pois, a dificuldade que sentimos para a simples contemplação, para com paciência admirarmos nosso ambiente. Nossos impulsos são violentos, nossos instintos exigem conquistas permanentes. Temos muitos fantasmas em nossas mentes. Isso tudo cria dificuldades na busca da felicidade.
  Mas queremos e devemos ser felizes.
  Devemos conciliar o desejo de progresso, a necessidade de sobrevivência com padrões de comportamento que nos libertem de ansiedades e angústias inúteis.
  Muitos caem nas drogas. A solução química  torna-se um pesadelo.
  Nossos instintos nos governam gerando prazeres que poderão ser base de muita felicidade. Um casal que se ama tem no sexo uma forma divina de satisfação. E deste amor a formação de uma família com grandes chances de ser feliz. O amor pela companheira(o) é extremamente gratificante e natural. Um jovem que inicia sua vida adulta deve refletir muito sobre esta questão. O amor sexual trará felicidade à medida que o jovem for capaz de cativar e manter a seu lado alguém que ame e lhe dê a oportunidade de desenvolver-se como ser humano.
  A vida poderá submeter nos a muitas provações. Nesses períodos precisaremos dominar sentimentos negativos e ter paciência. Com o tempo as cicatrizes fecharão. Até a morte traz a esperança de compensações. Nesses momentos a fé em uma outra vida, acreditar em Deus,  ter uma religião ajuda muito. O conforto da crença em uma vida futura melhor ajuda o ser humano a enfrentar a morte sua e de seus entes queridos.
  De qualquer forma os últimos momentos de vida serão eternos. Sem referências de tempo, o coração parado e o sangue esfriando nas veias, o cérebro mergulhará na inconsciência através do céu ou do inferno. Estas duas alternativas estarão ligadas aos últimos sentimentos. Chegar lá com tranqüilidade, com a certeza do dever cumprido, com amor em volta e na mente será uma forma de estar no paraíso...
  A conquista da felicidade talvez um dia surja como uma preocupação generalizada. Estranhamente fala-se pouco sobre esta questão com objetividade. Insinua-se ser este ou aquele o caminho mas, possivelmente por efeito de crenças mórbidas, a felicidade parece ser pecaminosa, lesiva ao espírito humano. A mídia também se encarrega de criar falsos valores. Instrumento do dinheiro atende os interesses dos patrocinadores, a vítima é o espectador.
  Com ou sem religião o ser humano precisa de uma estrutura filosófica. Ao formá-la devemos ter o cuidado de valorizar o amor, a tolerância, a paciência. Com inteligência e bondade construiremos um edifício lógico em que viveremos com prazer, felizes por termos nascido e estarmos tendo a oportunidade de ter uma vida de alguma forma gratificante.
  Ser feliz é ter capacidade de suportar agressões sem a neurose da vingança, renunciar a luxos fora do alcance pessoal sem angústias ou invejas, saborear com prazer o prato que nos oferecerem, ver com admiração o céu e a terra que nos envolvem.
  A felicidade é o produto da bondade e da sensibilidade positiva que tivermos. Tendo-a seremos saudáveis, amigos, gente.
  A vida é curta, não seria inteligente desperdiçá-la com rancores, frivolidades, preocupações inúteis.
  Amar e ser amado é privilégio da bondade, caridade, delicadeza, sexo e imagens que se cria ao longo da vida. Vamos colhendo o que plantamos. Envolvendo pessoas podemos conquistá-las, apaixoná-las e a nós mesmos. A vida ganha cores, flores e odores. A felicidade cresce à medida que ativamos nossos sentimentos e de forma positiva vemos os aspectos bons de cada situação, pessoa e momento. Ser feliz é uma demonstração de uso adequado de nossa inteligência, tornando-a instrumento de disciplina a nosso favor.
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  30. Responsabilidade

  Sentir-se responsável é uma obrigação de qualquer pessoa consciente do que faz e na medida que percebe sua capacidade de agir.
  O sentimento de responsabilidade além dos limites das necessidades básicas de sobrevivência é uma característica humana superior. Serve como indicador de civilização. Talvez mais importante que qualquer outro parâmetro, este sentimento é a base da grande sociedade humana. Cristo deu-nos o grande exemplo. Fez-se homem e nesta condição transmitiu sua mensagem de paz e amor. Torturado e crucificado, deixou-se morrer na cruz para o perdão dos pecados da Humanidade. Filho do Criador sentiu-se responsável pela obra de seu Pai. Mito ou verdade o  exemplo vale como demonstração do que deve ser nossa grande diretriz. Estranho, entretanto, é ver tantos pregadores propondo o ódio, a segregação, o inferno para os adversários...
  Muitos grandes líderes, políticos e profissionais cresceram exatamente por sentirem-se comprometidos com um processo, com a conquista de resultados além daqueles suficientes à própria sobrevivência. O perceber-se responsável é uma demonstração de compromisso e maturidade. Quando acertarmos e errarmos estaremos fazendo algo com boas ou más intenções. Conscientes acrescentaremos à nossa vida imagens, realizações e sentimentos que caracterizarão nossa personalidade. A tentação para negar a culpa de erros existe sempre, o prazer de assumir a autoria de coisas boas é grande.
  Podemos enganar muita gente mas não conseguiremos esconder de nós o que somos.
  Desenvolver-se fortalecendo-se para assumir responsabilidades e desfrutar da liberdade com o sentimento dos limites naturais e éticos é o desafio de todo jovem.
  Vivemos uma época em que o culto à liberdade colocou esta questão em segundo plano. Um exemplo eloqüente é a defesa do aborto. É mais fácil e comercialmente interessante promover a matança de crianças a estimular o controle da concepção, o planejamento familiar sadio. A televisão, o cinema, a música e a literatura de modo geral promovem e exaltam relacionamentos irresponsáveis. Em nome da liberdade tudo é permitido. A televisão, de uma maneira especial, é um péssimo veículo de comunicação. Os interesses comerciais de seus concessionários são soberanos. As estatísticas governam a programação. Não interessa o efeito . O que importa é o que vende mais.
  É lamentável notar o sucesso de propostas criminosas. É também compreensível o número de pessoas que defendem o aborto. É a lei do menor esforço. É mais agradável ceder aos instintos do que administrá-los. Outro exemplo é a velocidade dos carros nas cidades e estradas deste país. Apesar das dezenas de milhares de vítimas a cada ano, pouco se fez para efetivamente reduzir os riscos desta loucura institucionalizada.
  Precisamos trabalhar para que isto mude. De novo podemos dizer que a sobrevivência da humanidade depende de comportamentos com mais amor, justiça e responsabilidade. Precisamos encarar com mais objetividade, voluntariedade e coragem o papel que nos couber. Ele será tão grande quanto for a nossa capacidade.
  O senso de responsabilidade é a voz da consciência que nos cobra atitudes. Muitos escapam dela rezando, procurando confessionários. As Igrejas fariam um grande favor à humanidade se colocassem a compensação social como única forma de remissão dos pecados. Para que confissões? para rezar pedindo perdão de coisas que serão repetidas? basta o travesseiro, a noite mal dormida para mostrar o quanto erramos. Perdão? vamos a uma “pena de Talião” positiva. Fazer um bem que compense o mal produzido.
  Ter responsabilidade é, antes de tudo, não errar deliberadamente, procurar contribuir positivamente, construtivamente. A vida passa e por onde andamos deixamos marcas. Que sejam sinais de um benfeitor, um lutador pelas boas causas, um bom pai, um grande profissional.
  Vivemos um grande período em que a luta ideológica foi pretexto para muitas violências.
  A década de 60 foi muito rica em lideranças, propostas e utopias. Quem teve a oportunidade de senti-la politicamente tem hoje a satisfação de lembrar movimentos fantásticos. Havia por trás questões ideológicas pesadas. A Guerra do Vietnã mexia com a juventude. No Brasil terminamos a década no início do período militar e seus censores. A década de 70 mostrou o peso das experiências políticas de nossos companheiros, amigos de todos os lados. Alguns mortos, outros neuróticos, viciados e desempregados, outros felizes, empregados , ricos.
  Neste final de século deveremos perceber que a fraternidade será essencial à análise e correção da sociedade humana.
  Nossa esperança é o aumento da capacidade de raciocínio. O desenvolvimento da inteligência fará com que as pessoas tenham mais chances de compreender a importância do respeito mútuo e da necessidade de agir, de contribuir para o sucesso de todos.
  Desenvolver um espírito de compromisso com o aprimoramento da vida é um ato de inteligência, competência e amor ao próximo.



  31. Vencer ou perder

  As batalhas dignificam os soldados. Muitos morrem, outros voltam com a glória da vitória ou a vergonha da derrota. Maior vergonha, contudo, fica para aqueles que fogem da luta, escondem-se, não se expõem deixando para outros a carga da sua própria defesa e sobrevivência.
  O sucesso em qualquer circunstância é o prêmio dos que lutam. Vencer não é para os preguiçosos, medrosos, derrotistas. A luta deixa feridas, machuca, dói. Vencer significa ter um objetivo, perseverar e lutar. A vitória não cai do céu. A vida é uma grande marcha. Poderemos caminhar em círculos, rodeando o berço em que nascemos. Poderemos também marchar para novos horizontes, abrir novos espaços. À medida que avançarmos entraremos em terrenos desconhecidos. Mergulharemos em grossas neblinas na curiosidade de saber o que existe além, mas também arriscando-nos a cair em despenhadeiros. A coragem será a grande ferramenta desta luta. A inteligência o instrumento da vitória.
  Todos querem ser respeitados. É bom merecer a atenção, ser amado por multidões. Tudo isto significa esforço, sacrifícios. O grande político, o atleta famoso, o médico respeitado, o advogado temido são exemplos decorrentes de vidas de dedicação. Muitos dissimulam esse esforço. Até por vaidade poderão dizer que as coisas vieram naturalmente. Não é verdade. Talvez com prazer pelo amor à carreira mas com muita dedicação venceram.
  Ao topo da montanha há muitos caminhos mas o sabor da subida depende das dificuldades encontradas. Vencer significa derrotar. Faz parte de nossos instintos competir. É uma lei natural. Dela veio a evolução, o aprimoramento das espécies. O ajustamento progressivo à natureza em transformação é conseqüência desta compulsão à luta, à conquista. Assim a natureza seleciona os melhores.
  A luta faz parte de nossa vida, vencer ou perder é a rotina de quem vive valorosamente..
  A luta nem sempre é contra outros seres humanos. O alpinista luta contra a montanha, supera barreiras naturais. O aleijado que se exercita para recuperar sua antiga capacidade mostra sua garra de lutador. Procurar superar-se é o maior desafio de qualquer ser vivente. Quem não leu “Fernão Capelo Gaivota”? a ficção exemplificando uma luta esplêndida...Na vida real, em tempos recentes, talvez o maior exemplo seja o de Gandhi. Com toda a sua fragilidade física e material liderou e venceu o poderoso império inglês à época em um grande processo de libertação de um povo.
  Nossa maior guerra é contra nós mesmos. Valorizando nossas limitações perdemos na partida, antes da luta. Há pessoas que ao chegar à idade adulta adquiriram a personalidade do perdedor. Ouvi-los é escutar uma sucessão de expressões tais como : “não tenho sorte”, “sou doente, não posso”, “ninguém me ajuda”, “não tenho tempo”...Serão indivíduos que viverão abaixo de suas capacidades, que desperdiçarão oportunidades, chegarão ao final da vida infelizes, lamentando a falta de sorte, de oportunidades que não quiseram ver.
  Superar-se é o grande desafio. Fazê-lo depende apenas de nós mesmos.
  Outro aspecto importante é o seguinte : um ser humano poderá produzir mais do que consome, menos ou tanto quanto. Óbvio? sim, mas importantíssimo. Todos sentem o que custam e ninguém será realmente feliz na inutilidade. Está em nosso coração esta preocupação. A inutilidade reflete-se em doenças comportamentais e psico somáticas. Vencer na vida é uma expressão de muito significado onde o principal é lutar para ser feliz, para sentir-se realizando. Quantos exemplos poderemos ter em grandes empresários. Do nada construíram grandes empresas gerando milhares de empregos. Estes merecem estátuas, nomes em ruas e praças, enfim, o registro de uma história que não se escreve. Os promotores do trabalho viabilizam a vida, a dignidade. Vencer é conquistar o respeito de todos por um trabalho produtivo, antes de mais nada. No passado, entre selvas e tribos hostis, os grandes guerreiros eram paradigmas de valor. À medida que a Humanidade cresce em sua capacidade de pensar e as guerras perdem significado, percebemos o valor daqueles que usam toda a sua criatividade para produzir alimentos, casas e cidades, aparelhos e empregos para o bem estar e sobrevivência da Humanidade.
  Assim poderíamos dizer que há diversas lutas possíveis. Como utilizaremos o tempo dependerá de nosso caráter, capacidade e visão. Não podemos viver sem desafios mas devemos escolhê-los para não desperdiçarmos um tempo valioso, principalmente quando há tanto a fazer.
  Mas, como vive o lutador? muitas vezes enfrentando a hostilidade de perdedores, a inveja e vinganças. Devemos aprender a andar sobre as nuvens. As tempestades deverão ser superadas com dignidade, coragem, paciência.
  Nada deverá afastar-nos de uma boa luta exceto sua inutilidade.



  32. Mediocridade

  Na natureza admiramos as planícies e montanhas mas chama-nos a atenção aquelas que de alguma forma conseguem ser diferentes. No verde das florestas uma orquídea fascina por sua beleza e por ser uma planta rara. Na multidão algumas pessoas são percebidas por qualidades físicas ou sociais diferentes. Procuramos aquela bebida, aquele programa que trás algo especial. A mesmice incomoda, irrita. Cair na rotina significa morrer antecipadamente. Quem se lembra de um dia comum? é como se  não o tivéssemos vivido. Nossa existência é a somatória de dias e anos especiais, o resto desaparece tão rapidamente quanto custou a passar.
  Tornar a vida rica em imagens, sons e amores é um ato de inteligência e determinação. O casamento é um bom exemplo desta disposição. A falta de inspiração e vontade em torná-lo uma sociedade empreendedora a dois afasta, esfria, apaga, leva o casal à separação.
  Na vida profissional a mediocridade é um câncer muito freqüente. É difícil entender como pessoas que estudaram tantos anos acabam mergulhando em uma atividade sem expressão, porque não assumem riscos, porque se escondem atrás de grupos de trabalho e comissões para não se exporem, não acrescentarem nada. Um problema sério é que esses mesmos indivíduos fazem questão de ganhar, receber benefícios que não conquistaram. Não lhes peçam ousadias, responsabilidades. Conseguem gastar dezenas de horas em reuniões intermináveis para delas saírem como entraram ou até piores porque nelas um convence o outro da importância de suas inutilidades. Dão charme à burrice, pompa às besteiras que escrevem. A mediocridade é irmã gêmea da estupidez e da covardia. O profissional medíocre estuda para confundir, para esconder-se em seu medo de assumir posições. É impressionante a capacidade cínica desses indivíduos. Com uma desfaçatez incrível apresentam “trabalhos” que envergonham suas profissões. Projetos absurdos passam por essas comissões sem qualquer dificuldade. A única preocupação é agradarem seus chefes, não se comprometerem.
  Muitas empresas desaparecem, perdem competitividade, deixam de conquistar mercados por não perceberem a necessidade de evoluir, de se ajustarem a novas exigências, por se submeterem aos pobres de espírito. Uma das razões é a cultura conservadora, inibidora de talentos. Um argumento muito usado em uma empresa desta espécie é : “mudar por quê? sempre funcionou assim...” Outro recurso dos dirigentes dessas empresas são os famosos planos estratégicos, “democráticos”. Qualquer erro poderá ser atribuído à equipe, ou seja, a ninguém. À medida que dependerem de consenso, e o consenso só existirá quando os menos inteligentes do time compreenderem as propostas a serem feitas, a companhia estará se amarrando, perdendo tempo, oportunidades. O fundamental para muitos executivos é o salário, status, não os resultados. Por quê preocupar-se com o sucesso das empresas? ao final terão seus currículos. Boas companhias resistem a maus períodos. Os acionistas podem ser ludibriados, bons relatórios enganam bem...
  Neste final de século a tecnologia impera. Quem não corre fica para trás. Quem não se atualiza, perde espaços. A ciência, de uma forma prodigiosa, enriquece-se em todos os setores. Não há uma área do conhecimento humano que não possa evoluir, aumentar resultados. A informática, de uma forma incrível, oferece recursos espetaculares. No Brasil, graças à estúpida “Lei da Informática”, perdemos oportunidades, tempo. Agora, no processo de abertura que vivemos, temos ao nosso alcance um mundo gigantesco, apenas esperando que o alcancemos. O que surpreende é a mediocridade de muitos de nossos líderes. Falam em progresso e, ao mesmo tempo, impedem o acesso a informações, imagens, lugares onde poderíamos aprender, evoluir. É interessante como esta última e terrível década afetou muitas cabeças. Não gaste, não viaje, não compre ferramentas, computadores, corte despesas. Esquecem-se que para ganhar é preciso gastar, investir. Cortam justamente os recursos para desenvolvimento de culturas, inteligências. Muitos de nossos políticos e seus gerentes vivem um mundo medíocre e tentam fazê-lo nosso.
  Lutar contra a mediocridade é lutar para existir. A vida ganha colorido, sabor e sons quando a desenvolvemos dentro de processos não convencionais. Evidentemente os riscos são maiores mas ao contrário teremos a certeza de uma vida perdida. Estudar sempre, procurar aprender em todas as oportunidades e tudo o que for possível é uma forma de adquirirmos elementos para criar algo. As oportunidades surgem quando menos esperamos, devemos estar preparados para acrescentar qualidade ao que estivermos fazendo.
  Acima de tudo devemos lutar para melhorar a vida nossa e de nossos companheiros. Quantos pararam para pensar em quanto é importante tornar a vida mais bonita? enfeitá-la? colori-la? enchê-la de sons?
  Vemos catedrais, monumentos e grandes jardins sabendo que significaram o sacrifício de grandes populações. Valeria a pena viver sem essas demonstrações de arte? o povo, o maior sacrificado, não se orgulha do que suas cidades possuem? o que se esconde por trás disso tudo? não é a vontade de ser diferente? de ser, estar, possuir, participar de algo especial? no íntimo de todos nós existe uma declaração de guerra à mediocridade.
  A vontade de ser diferente é uma demonstração de criatividade. Ser diferente é ser corajoso, ser desigual porque lutamos para ser melhores. É ter a centelha divina do avanço, do crescimento em direção à luz.
  Aproximando-nos do fogo arriscamo-nos a queimaduras mas, quanto mais perto chegarmos, mais de perto veremos a luz e seremos iluminados..



  33. Humildade, simplicidade

  Na história da humanidade, desde as tribos mais primitivas até hoje entre povos mais atrasados, o comando baseia-se na força física, poder das armas e na exploração de crenças míticas. Caciques, generais, reis e sacerdotes cobrem-se e cercam-se de pompa, símbolos, recursos os mais diversos para mostrar a todos que seus poderes também derivam de uma vontade divina, transcendente. Súditos e crentes querem ver em seus líderes os favores dos deuses. Acima de tudo temem desagradá-los e seus reis e sacerdotes lhes aparecem como testemunhos e interlocutores desta ligação.
  O resultado disto é um grande afastamento destes líderes de seus liderados. A linguagem afetada, as guardas armadas, tudo contribui para uma definição rígida de classes estabelecidas, na visão deles, transcendentemente.
  Felizmente o processo civilizatório, a liberdade e a própria Democracia pouco a pouco transformam estes modelos.
  Estamos chegando ao momento de mostrar que o valor de uma pessoa não está em suas roupas, cargos ou sobrenomes. Valeremos pelo que fizermos, pela nossa capacidade e produção. Pela força de nossas palavras e não pela pomposidade e sofisticação realizaremos algo, mostraremos nosso valor.
  Precisamos resistir à tentação do poder fictício.
  A humildade valoriza o poder. A espontaneidade com que se revela mostra a segurança da autoridade, do domínio de qualquer atividade. O grande líder impõe-se pelo respeito que manifesta na imagem conquistada em batalhas vencidas, obras realizadas. A falta de humildade mostra insegurança, ignorância, medo do contato direto. A competência no exercício de uma profissão faz do profissional uma pessoa respeitada e admirada pelo que realizou e sabe fazer. O poder de determinar ações é inerente ao cargo e ao respeito adquirido. Quem o tem, usando apenas duas pequenas palavras ( sim , não ) transformará seu ambiente, sua empresa e, quem sabe, o Mundo. Do chefe cobrar-se-á apenas competência, seriedade e honestidade.
  A humildade não é ser pusilânime, fraco, transigente.
  O grande líder sabe quando precisa ser duro sem perder a ternura (Che Guevara). O bom gerente comanda sem ofender desnecessariamente. O grande comandante sabe integrar-se à sua tropa, falar, brincar, sentir suas dores e alegrias sem perder o controle da situação.
  A história de Jesus Cristo não nos mostra nenhum momento de soberba, empáfia. Não usava paramentos nem incensos para dizer suas palavras divinas. Sua força estava na verdade, na lógica, na coerência. Infelizmente esta talvez tenha sido a lição mais difícil e tão poucos a aprenderam.
  As inutilidades do poder desviam a atenção para o que é importante. Valorizá-las significa desperdiçar tempo e energia com detalhes sem valor. O Poder é precioso. Cada minuto poderá ser gasto em algo produtivo. Não é preciso ser muito inteligente para descobrir o que fazer. As deficiências de qualquer empresa ou governo são tão grandes que qualquer pessoa medianamente racional poderá contribuir muito. Basta ser honesto, corajoso e prático.
  Quanto ganhamos trabalhando com simplicidade e objetividade...
  Evidentemente existe o ritual do poder, mínimo necessário. Dependendo do momento devemos respeitar formalidades e cerimônias em torno dos líderes. Ainda temos necessidade dessas fantasias. Suas dimensões, contudo, dependem da inteligência e cultura dos liderados.
  A humildade é saudável. A arrogância cobra seu preço. Gera inimigos que mais cedo ou tarde cobrarão as ofensas recebidas. A ostentação custa caro também em trabalho. Gasta-se para mostrar o que outros não precisam ver.
  Agredir gratuitamente é procurar inimigos sem necessidade. Qual a felicidade em tê-los? Podemos nos avaliar pelo tamanho dos inimigos que conquistamos. Não os queremos mas aparecerão à medida que existirmos. Estes são inevitáveis, por quê ter mais? A humildade pacifica. Exercida com inteligência, aproxima pessoas, permite-nos desarmá-las, mostrar-lhes que não lhes queremos mal, que não é nosso propósito destruí-las e sim, quando muito, corrigi-las ou até segui-las. Afinal, quem é dono da verdade?
  Ninguém é tão ruim quanto nos parece ou tão bom quanto queríamos que fosse. Este é um dito popular com toda a sabedoria da vida. A tolerância vem da compreensão de nossa fragilidade.
  A Bíblia tem um bom exemplo no episódio do apedrejamento de uma mulher pecadora. Quando Cristo desafia os presentes a que a primeira pedra só fosse atirada por quem não tivesse pecado, ninguém estava naquela condição de pureza e ela saiu viva daquele episódio....
  A humildade vem principalmente da compreensão da natureza humana e de nossa própria vida. Nossos méritos são muito menos nossos e muito mais o produto de uma série enorme de fatores alheios à nossa vontade.
  Ter a humildade em nosso coração é fazê-lo saudável, bom e feliz.
  Ser humilde é mostrar pelas nossas atitudes o respeito e o amor que temos pelo próximo.



  34. Paciência

  Virtude dos sábios, a paciência torna-se uma qualidade de grande valor nos momentos difíceis, durante uma vida em que estamos sujeitos a períodos de glória e de derrota. A consciência de que o tempo passa e que com ele vem soluções para a maioria dos problemas ajuda a superar questões delicadas. Lembrar que sempre haveria uma hipótese pior ajuda a suportar fases ruins da vida.
  A paciência leva à tolerância diante de atitudes desagradáveis, pouco inteligentes. A consciência de que cada animal emite sons característicos de sua espécie leva-nos a não nos revoltarmos contra os latidos dos cachorros, os miados dos gatos e os grunhidos dos porcos. Afinal esses são os sons que podem fazer...
  Saber esperar é ter capacidade de pensar e aguardar o melhor momento para agir. Pensando mais encontraremos soluções melhores. O momento adequado para cada decisão vem com o tempo; é preciso esperá-lo e agir com firmeza quando surgir a oportunidade.
  O jovem, principalmente, precisa educar-se a ter paciência. Naturalmente agressivo, ousado e impaciente expõe-se a muitos acidentes que poderiam ser evitados. Os pais e educadores devem treinar seus dependentes a ter calma, a refletir mais antes de cada aventura. A prudência é conseqüência da capacidade que tiver de esperar a melhor oportunidade, melhores condições.
  Há um momento certo para cada processo. A vida sucede-se em fases que exigem amadurecimento, preparo. Querer antecipar experiências, atitudes e compromissos é perder a chance de um melhor desempenho, uma vida mais feliz e saudável.
  Na vida profissional ter calma e capacidade de agir apenas quando necessário ou desejado é uma qualidade importante, muito útil ao profissional e à empresa. Desafios e agressões são freqüentes, enfrentá-los com domínio da situação é um grande “handicap”. Perder a calma, o autocontrole, é uma falha imperdoável em muitos cargos de comando. O “sangue frio” é necessário para suportar pressões que muitas vezes têm como único objetivo desestabilizar-nos.
  Um empresário ao iniciar sua empresa deverá ter disposição para esperar sua consolidação. O início de qualquer indústria, atividade comercial ou de serviços exige tempo para se firmar. Se a semente for boa ela germinará mas precisará de tempo, ambiente e cuidados adequados. Tendo-se competência e disposição para o trabalho as oportunidades virão e o pequeno empreendedor poderá mostrar a que veio. O empresário impaciente não saberá aguentar os períodos difíceis, apertar o cinto, garimpar serviços.
  É fácil imaginar quanta paciência é necessária ao alpinista que deseja escalar altas montanhas. Um grande cirurgião depende dela para dominar-se e concluir com êxito as operações mais demoradas. Um arquiteto não poderá concluir com sucesso sua obra se não tiver disposição para a cada dia discutir com engenheiros e operários o projeto que desenvolveu. O estudante não será bem sucedido nas provas se não tiver paciência para estudar horas e horas, dias e dias até as provas. Provas que se repetirão monotonamente até concluir seu curso. E terminados os estudos o jovem profissional ainda precisará de muitos anos até gozar do prestígio dos bons.
  A paciência é uma qualidade extremamente afetada pelo estado emocional de uma pessoa. Suas glândulas também contribuem muito para as reações que tiver. Sabendo disto um indivíduo inteligente administra seus riscos, exposições, evitando colocar-se em situações perigosas quando não estiver em condições de fazê-lo. É o caso de andar armado ou não. Uma pessoa agressiva arrisca-se muito e também aos outros se usar armas regularmente. Por motivos fúteis poderá desencadear uma tragédia que lhe destruirá a às pessoas que o provocarem.
  Métodos existem para suportar pressões sem violências. Um deles é a prática de esportes físicos. Ao enrijecer os músculos tornamos o cérebro mais elástico, ao exercitá-los atenuamos tensões. Os povos orientais têm técnicas milenares para o desenvolvimento mental e pacificação do espírito. Conscientes da necessidade de suportar grandes pressões e tristezas aplicaram-se no desenvolvimento de exercícios e processos de meditação, que preparam a pessoa para as dificuldades da vida. Outro recurso é a minimização da agressão. Simplesmente não valorizando uma ofensa, ignorando uma atitude descortês, além de inibir uma reincidência, ela passará sem os efeitos que pretendia seu autor.
  A paciência aproxima-se do estoicismo na capacidade de resistir a sofrimentos pesados, quando a praticamos diante de doenças graves, nossas ou em alguma pessoa querida. Mantendo a serenidade podemos facilitar e até encontrar soluções. Há momentos que todos passarão e que poderão ser extremamente agravados se as pessoas não tiverem preparo psicológico para enfrentá-los. Nessas ocasiões a fé em Deus e uma religião também ajudam muito.
  A história da Humanidade têm inúmeros casos de pessoas que só sobreviveram porque tiveram paciência e autocontrole. Diante de desafios aparentemente intransponíveis conseguiram superá-los por terem tido capacidade de resistir a todas as dores, ameaças e mensagens negativas.
  O otimismo é uma grande virtude. Uma pessoa paciente normalmente conscientiza-se que o final será melhor do que o momento que estiver passando. Pensamento Positivo e confiança no futuro são armas poderosas, tornando aqueles que as possuem fortes o suficiente para resistir a muita pressão...Muitos livros têm sido escritos a respeito, merecendo uma leitura atenta, principalmente por aqueles que estiverem passando dificuldades. A literatura em torno do Pensamento Positivo tem orientações diversas. Com certeza existirá alguma obra que não ofenderá a convicção filosófica de quem dela estiver carente.
  Finalmente é bom repetir, insistir: a paciência é uma sábia qualidade. Desenvolvê-la é um ato inteligente, útil àquele que pretender ser bem sucedido e feliz.




  35. Determinação, disciplina

  A disciplina e a determinação de espírito são condições essenciais a quem pretende atingir um objetivo difícil.
  A falta de respeito a padrões de comportamento sadios termina por destruir muitos jovens que teriam, não fosse a falta de atenção com seu próprio corpo e espírito, condições de desenvolver-se de forma brilhante.
  Em casa, no trabalho, nas escolas e no amor há necessidade de respeito e obediência a uma série de normas, regras importantes ao sucesso, à obtenção de bons resultados.
  Na década de 60 e início dos anos 70 era até moda a indisciplina total. A juventude, em protesto contra a geração de seus pais, a educação recebida, a guerra do Vietnã e, muitas vezes, sob o efeito de drogas das quais o LSD era a mais famosa, entregava-se apaixonadamente a posturas anárquicas. Valeu como protesto mas destruiu muita gente boa. O pior efeito foi o início de uma cultura de uso de drogas que fugiu ao controle. Hoje o comércio da cocaína, maconha, heroína  e outras porcarias é uma grande indústria a nível mundial. Na clandestinidade a corrupção e a depravação das drogas causam um desastre social.
  A competição é a base de sobrevivência. Todos precisam conquistar um lugar ao Sol. Não há tolerância a quem não for bom. Para os fracos resta a piedade, a caridade e os lugares indesejáveis.
  Assim o jovem precisa conscientizar-se da necessidade de preparar-se para a luta pela sobrevivência. E esta luta é dura, exigente.
  Neste quadro o ideal é começar cedo o treinamento, o disciplinamento do corpo e da mente. O autocontrole não é fácil, não é tarefa para os fracos.
  Não entregar-se ao sono, à dor, à preguiça, a doenças para fugir a compromissos. É comum ouvir certas pessoas dizerem com freqüência não poderem fazer algo por estarem com dor de cabeça, cansados, indispostos. Normalmente são indivíduos frágeis, medíocres, incapazes de liderar, vencer. Usam suas deficiências como argumento para fugir a qualquer responsabilidade. Devemos resistir a esses impulsos negativos, não nos ajudarão em nada. Lair Ribeiro tem um livro genial a respeito: “O Sucesso” . Nele o autor destaca que a diferença entre um potencial perdedor e um vencedor é pequena em suas condições físicas e mentais, a diferença está na cultura, na vontade de  vencer, de lutar e de superar as dificuldades do caminho.
  Existe alguém que não sinta nada? os vencedores, os campeões são pessoas perfeitas? uma imagem esplendorosa foi a daquela corredora de maratona chegando ao final da corrida tropegamente. Pela determinação transformou-se, ainda que não chegando à frente, na grande vitoriosa, a imagem símbolo daquela olimpíada. No Brasil temos, entre nossos grandes personagens, o exemplo de Amyr Klink. Com determinação, disciplina, inteligência e coragem tornou-se um modelo a ser seguido por todos nós.
  A disciplina sadia educa o corpo e o espírito.
  A disciplina, pelo que exige nas manhãs frias, no estudo prolongado, no trabalho interminável, é a têmpera do caráter quando nos coloca desafios prosaicos mas decisivos como esses. Vencer o sono, as dores musculares, a fadiga mental é um bom exercício. Em muitos momentos isto será apenas um aperitivo do que teremos de suportar.
  Precisamos de disciplina até para podermos nos rebelar objetivamente contra algo que discordemos. Obter resultados implica na necessidade de planejamento inteligente, execução organizada, paciência e determinação.
  Na história da Humanidade não encontraremos um grande líder que não tivesse entre suas características a disciplina e a determinação de atingir seus propósitos. E muitos sofreram estupidamente antes de conquistar seus objetivos.
  Se a disciplina é necessária ao desenvolvimento, a determinação em atingir resultados é essencial ao espírito empreendedor.
  O “descobrimento” da América é um bom exemplo de determinação de um líder, Cristóvão Colombo. Sua teimosia, insistência e arrojo levaram-no a vencer todas as barreiras na Espanha e rumo ao mar aberto, superando um oceano cheio de lendas e terrores, atingiu em frágeis embarcações a futura e ingrata e maldosamente denominada América.
  Cientistas houveram que passaram a vida pesquisando, procurando provas de suas teorias, resultados nem sempre atingidos mas que deram a alguns deles um lugar eterno na história da Ciência. Os alquimistas da Idade Média não conseguiram chegar à pedra filosofal mas, perseguindo-a, encontraram muitas substâncias de interesse para a humanidade.
  A disciplina deve ser parte de um processo de educação para a vida . A determinação, a qualidade de quem tiver um projeto, um objetivo para atingir
  Ter um espaço, ser um vencedor, um campeão é para os que conseguirem dominar seus instintos, suas falhas. Ocuparão um lugar de destaque aqueles que tiverem capacidade para se desenvolver e com firmeza lutar para realizarem seus sonhos, torná-los realidade, vencerem...


  36. Coragem

  Caldas Aulete define : “coragem, força ou energia moral que leva a afrontar os perigos; valor; ânimo, intrepidez, bravura, denodo “.
  Coragem não é ausência de medo, é vencê-lo, dominá-lo .
  A vida exige coragem, sobre aqueles que não a tem vinga-se impondo-lhes uma existência medíocre. É essencial a quem pretende viver dignamente. Nos momentos de derrota, de uma maneira especial, sua ausência conduz o miserável à atitudes vergonhosas, a desesperos e choros indecentes.
  Coragem não é sinônimo de loucura pois esta é inconseqüente. A vida é a oportunidade que um pouco da matéria deste Universo tem de acrescentar-lhe algo. Este conjunto material não deve desperdiçar sua fração de existência...Nós, parte material que tem poder de se transformar temos durante nossa vida a chance de sermos úteis mas para isso o caminho é longo e penoso. Tendo-se metas e grandes objetivos precisaremos vestir-nos de coragem para atingi-los. Na vida profissional, política e sentimental ela é a qualidade que fará a diferença entre o sucesso e a mediocridade.
  A bravura de Napoleão no cerco de Lion, no início de sua carreira, permitiu-lhe mostrar sua competência. O ânimo, a determinação de um operário deu ao Brasil um Lula, um humilde retirante nordestino ontem, hoje um grande líder político. A ousadia, a intrepidez de Tiradentes transformou-o em mártir de nossa pátria, símbolo de um Brasil que nascia. Vencer o medo teve efeitos diferentes sobre essas três personalidades mas foi, com certeza, essencial ao espaço conquistado em nossa história.
  A biografia de Abrahan Lincoln é um bom exemplo de coragem e lutas. Faliu no comércio duas vezes, aos 31 e 34 anos. Aos 35 anos perdeu sua primeira esposa. Perdeu 8 eleições sucessivas a partir dos 32 anos e foi ganhar aos 60 anos a presidência dos EUA. Entrou para a história da humanidade por suas decisões corajosas e progressistas. Teve em sua pátria oposição feroz que culminou com seu assassinato...
  A coragem é também necessária para enfrentar a inveja daqueles que não a possuem. Talvez o maior obstáculo a quem ousa lutar seja a animosidade e o veneno daqueles que não se dispuseram a fazê-lo. A intriga e a calúnia costumam ser as armas deles. É interessante notar como informações negativas prevalecem sobre as positivas. O indivíduo mesquinho, incompetente, medíocre, não sabendo fazer envenena, atrapalha, destrói.
  Em família, a preocupação que os pais têm com a saúde dos filhos produz um padrão de cuidados muitas vezes excessivo. Por diversos motivos poderemos transformá-los, nossos filhos, em pessoas medrosas, covardes. Vivemos em cidades selvagens, sem segurança, expostas a todo tipo de violência. É natural que os pais queiram superproteger sua prole. O reverso da medalha é inibi-los, amedrontá-los e desarmá-los. Precisamos criar um ambiente em que a coragem inteligente seja valorizada, desejada e transformada em qualidade natural.
  Uma das razões de constrangimento são as fobias. Pavores ridículos criam restrições infantis a atividades muitas vezes essenciais. Um adulto tem por obrigação dominar-se sob pena de agravar problemas e até criá-los desnecessariamente.
  O medo dominando um indivíduo transforma-o em um ser frustrado, medíocre, chato.
  Dominar-se e administrar-se dentro de um grande plano de vida exige determinação, inteligência e coragem. Enfrentar inimigos, barreiras, superar obstáculos eventualmente perigosos exige capacidade para dominar entre outras fobias o medo da morte. Esta é uma preocupação natural, própria de quem vive, existe. Arriscar a própria vida é uma demonstração inequívoca de coragem mas, pela sua dimensão, exige inteligência para que não o façamos gratuitamente.
  A coragem, acima de tudo, é uma qualidade importante para que se fuja a uma vida medíocre. Tendo-a estaremos dispostos a viver com intensidade.
  O apego excessivo à vida, o medo exagerado a doenças e acidentes impede que um indivíduo se desenvolva, participando de atividades as mais comuns. Não há como viver sem se expor. O perigo, o risco de acidentes é onipresente e a probabilidade de se acidentar aumenta à medida que perdermos sensibilidade, agilidade. A exposição contínua estimula nossos sentidos a ficarem mais alertas. Vale notar o que acontece quando nos afastamos muito tempo das cidades. Ao voltar cometeremos erros pela falta de atenção. Atravessando uma rua, dirigindo um carro com mais facilidade esqueceremos algum padrão de segurança após um período longo de afastamento da confusão das áreas urbanas. Nem por isto deixaremos de retornar, de recomeçar a vida urbana. Assim devemos ter noção de risco relativo. Recusamo-nos a fazer algo pelo receio de algum problema e nos colocamos  às vezes, inconscientemente, em outros muito piores. Desenvolvendo lógica a respeito evitaremos o ridículo de recusar serviços ou prazeres que nos seriam convenientes.
 


  37. Verdade , realidade

  Verdade ou mentira, realidade ou fantasia. Na vida estaremos sempre diante destes dilemas. O que queremos? viver sonhando ou procurando utopias? são questões básicas que nem percebemos. Traumas, acidentes, grandes problemas levam-nos a sublimar, a criar alternativas fictícias.
  Em nossa vida sentimental, de uma maneira especial, geramos paradigmas muitas vezes impossíveis de serem atingidos. Sonhamos ter como parceiros grandes personagens televisivas, esculturais. De repente apaixonamo-nos por alguém próximo, uma pessoa muito mais simples...Precisamos ter visão realista, sincera e honesta a nosso respeito. A capacidade de uma autocrítica honesta permite-nos fazer uma análise importante ao sucesso de nossos projetos pessoais. Conscientes de nossas limitações e potenciais poderemos elaborar planos, metas e objetivos realizáveis.
  Durante a vida seremos sempre colocados diante de desafios que deveremos avaliar com razoável precisão. Qual o custo de um erro de cálculo? frustrações, desamor. Quantas separações, quantos casais desfeitos porque casaram-se sob o manto das ilusões. Quantos profissionais fracassados porque calcularam mal seus recursos.
  Um grande desafio é ser realista sem se deixar dominar pelo  perfeccionismo, pessimismo e mediocridade. É querer a verdade sem se abater pela possibilidade de más conseqüências. Dominar a vida com todos os seus percalços e desafios. Decidir tendo ciência dos custos e benefícios. Avaliando riscos.
  Uma prova de maturidade e coragem é enfrentar as situações mais difíceis com serenidade, determinação e inteligência.
  A vida tende a colocar-nos grandes desafios. Há casos extremos de resistência e heroísmo. Como devem os vietnamitas ter suportado o Napalm, os exércitos inimigos destruindo sistematicamente suas casas? os poloneses sendo bombardeados pelos nazistas? os judeus assistindo indefesos seus irmãos, pais e filhos caminhando para as câmaras de gás?
  Mesmo diante de todas as tragédias do mundo teremos sempre o compromisso da sobrevivência.
  É comum notar o desespero na iminência da morte de um ente querido, de um pai ou mãe. Pudéssemos ler os pensamentos deles, agonizantes, nesta hora de sofrimento veríamos o pedido de aceitação, de força. Acima de tudo os pais anseiam pela sobrevivência dos filhos. Para eles a vida teve sentido criando e educando suas eternas crianças. O que menos desejariam seria a infelicidade ou, pior ainda, a destruição dos filhos.
  Quem sobrevive a uma tragédia tem que rapidamente esquecê-la, trabalhando para recuperar as perdas materiais e a reconstrução do que for possível. A realidade que interessa é a necessidade de sobreviver, de recomeçar. Sempre haverá alguém que precisará do nosso trabalho, carinho, atenção. O passado é caso resolvido. O futuro depende da gente, poderá ser modificado, melhorado. A capacidade de se reprogramar é vital. Não podemos, em hipótese alguma, entregar-nos a tragédias passadas. A realidade está no rosto de uma criança esperando que lhe ajudemos a crescer, a alimentar-se, a ser feliz.
  Não temos o direito de fugir à grande missão : sustentar, manter a vida.
  Todos os psicólogos, psiquiatras e psicanalistas mostrarão mil formas que o ser humano adota freqüentemente para fugir à realidade. Todo este arsenal de artifícios comportamentais explica porque as soluções eventualmente não são encontradas. É lamentável ver tanta gente boa entregar-se à auto comiseração. Resistir, lutar para enfrentar a vida com dignidade é imperativo. A vida digna será o resultado de aprendermos a encarar a realidade com resignação e disposição de luta.
  Atitudes depressivas poderão ser patológicas e curáveis. Procurar solução é a atitude correta. Entregar-se passivamente é mergulhar de cabeça em um precipício difícil de sair. Enfrentar a vida e em especial nossas próprias deficiências é essencial ao seu sucesso. As derrotas também são algo a ser assimilado com dignidade. Só perde quem luta.
  Na política e na gerência é facilmente perceptível entre muitos perdedores as maneiras com que as pessoas fogem à responsabilidade, às decisões mais difíceis. A mediocridade é o principal resultado deste cenário. Gerentes criam fantasias, inimigos fictícios, preconceitos para explicar porque não produzem. Políticos começam a ver adversários por toda parte. Só não são capazes de aceitar a própria incompetência. A verdade dói, incomoda.
  A verdade e a realidade são as armas dos fortes. Dominando-as poderemos enfrentar exércitos. O conhecimento do que nos cerca e de nós mesmos será um recurso valioso, que precisaremos para conquistar a vida.
  Devemos desde cedo preservar algo que as crianças têm com naturalidade: a sinceridade, a capacidade de ver as coisas como elas lhes aparecem. O adultos costumam racionalizar, criar imagens já programadas para cada cenário. Tornam-se, muitas  vezes, preconceituosos, sectários.
  Precisamos criar um mundo honesto, inteligente, em condições de ver de frente nossas oportunidades e limitações e nelas trabalhar para melhorar a vida de todos.
  Evidentemente não deveremos partir para posturas de máxima segurança, exigir informações plenas como condição para tomada de atitudes. A certeza absoluta é impossível. Só os ingênuos a têm. A mediocridade é o custo de quem quer se preservar, não quer se expor.
  A realidade e a verdade devem ser instrumentos da ação consciente, honesta e corajosa.
  Enfrentando a vida com toda a clareza que nossa cultura e nossos mais modernos sistemas de informação possibilitam, conquistaremos a oportunidade de sobreviver com dignidade, eficácia e felicidade no futuro.
  A Terra, saturada de tantos “homus sapiens sapiens”, precisará de toda a nossa competência para não mergulhar em guerras ou catástrofes ciclópicas.




  38. Liberdade

  O grande sonho de muitos povos que viveram sem possuí-la, a liberdade é um grande desafio da Humanidade.
  Revoluções e guerras foram feitas em nome da liberdade. Que liberdade? de morrer de fome? de mendigar trabalho? saúde? ou a liberdade de viver em um ambiente saudável? questões desta espécie tem consumido muita cerveja em mesas de bares, em reuniões de estudantes e militantes políticos.
  Grande sonho da Humanidade, a liberdade de expressão, locomoção, religião e outras é base de muitos movimentos e ideologias.
  E o frágil ser humano, simples, bípede, pensante? como este ser entende a liberdade? o que espera conquistar com ela?
  Imerso na multidão qualquer indivíduo tem o direito de escolher seu caminho, decidir sobre muitos detalhes que o farão uma pessoa respeitada, bem sucedida ou mais um indigente, um desconhecido. O uso da liberdade identifica-nos como seres desenvolvidos, civilizados ou não.
  No processo político temos a Democracia como a única forma institucional de dar a qualquer indivíduo a capacidade de participar do processo decisório em sua administração pública. Isto faz dela algo extremamente valioso, imperdível. O cidadão atual, graças às inúmeras formas de comunicação existentes, tem acesso a imagens, sons e notícias que lhe permitem desenvolver espírito crítico do governo e leis. A liberdade se consolida à medida que sentimos sua importância. O nazismo e o comunismo soviético são dois exemplos de renúncia à liberdade que custaram caro à Humanidade.
  A liberdade indissocia-se à responsabilidade quando a exercitamos no meio de uma sociedade, na administração de empresas e na condução de uma família. Em cargos de comando colocamo-nos à serviço de um ideal, um discurso, uma política. Infelizmente a origem histórica do Poder deu-lhe o sentimento do uso imperial, da propriedade do posto e seu uso em benefício próprio. Os estados e nações pertenciam a famílias, reis e generais. O povo, vassalo, era instrumento da glória do soberano que dele dispunha como bem entendia. As religiões, no aconchego dos palácios, davam-lhes autoridade transcendente, mística. Essa imagem ainda perdura. No Brasil o ex-presidente Fernando Collor de Mello foi em nossa história recente quem mais a materializou. Em muitas empresas vemos a mesma postura, o Poder a serviço do chefe e não dos acionistas, dos seus proprietários. Vale a pena observar o comportamento de alguns grandes empresários que se metem na política. Respaldados no sucesso de suas atividades profissionais e acostumados a dar ordens, agem como se fossem donos da verdade, não toleram divergências, agridem gratuitamente quem deles discordar. Se pudessem revogariam todas as leis que soltam a imprensa, o povo. Exemplos não faltam no cenário brasileiro atual. Tudo isto faz com que a liberdade e o Poder tenham diferentes efeitos e compreensões. Para quem está no comando o direito de usá-lo em benefício pessoal, para o povo a esperança do protesto, da luta pela sua evolução. A liberdade é instrumento diferente para muitas pessoas.
  Dentro das novas regras econômicas e da fobia consumista criou-se um cenário em que o trabalhador assalariado vive sob o risco de uma escravidão sutil. A  abertura de fronteiras permitiu que bolsões de trabalho escravo produzam e venham competir em sociedades mais desenvolvidas. Países que contavam com estruturas sociais sólidas estão sob o risco de se degradarem sob o peso dessa nova ordem. O aviltamento de salários e o desemprego é o resultado diante de uma competição que não conseguem vencer. É surpreendente ver pessoas dormindo nas estações de metrô de Tóquio, capital de um dos países mais ricos do Mundo. Em Londres aumenta o número dos que dormem em praças por não poderem pagar um aluguel. Nos EUA  a miséria domina bairros até famosos por suas histórias. Que riqueza é esta que obriga operários a trabalharem sem parar, sem tempo para o lazer, estudos? que não considera as diferenças natas de capacidade, penalizando aqueles infelizes que não tiveram saúde e o amparo de famílias bem constituídas? que não garante a sobrevivência primária dos menos favorecidos? que prende seus trabalhadores a padrões comportamentais severos impedindo-os de serem eles próprios? Talvez esta seja a grande arma dos poderosos, não dar ao povo a oportunidade de estudarem e refletirem sobre suas realidades. Sobrecarregando os mais humildes eles não poderão contestar as instituições que os condenaram à marginalidade. Possuem uma liberdade relativa, a de serem escravos, de trabalharem incessantemente para o deleite de alguns.
  Há alguns anos os países mais desenvolvidos discutiam a redução das horas de trabalho. O Mundo ocidental, pelo menos, caminhava para a consolidação de conceitos de convivência  saudáveis, de maior dignidade. O impacto das crises econômicas, do petróleo e, principalmente, a abertura de fronteiras enfraqueceu sindicatos, partidos progressistas, idéias de maior respeito pelo ser humano. Hoje vemos a pobreza crescendo, o desemprego e a criminalidade  como realidades crescentes nestes antigos e belos países. Nações inteiras renunciaram à liberdade de se administrarem, entregaram-se a poderes supranacionais que não percebem ou não querem ver suas anomalias. O resultado é a volta do racismo, da xenofobia, das lutas religiosas. Tudo vira explicação  para os menos  inteligentes. As dificuldades por que passam torna-se culpa de outros e não de suas decisões políticas.
  A liberdade é valiosa. Precisamos dela para podermos pensar, viver. Tendo-a com tempo para o lazer, a vida em família, para o exercício de nossas filosofias e religiões, estaremos evoluindo, acrescentando informações que serão necessárias à evolução política, cultural e afetiva. É essencial tê-la de forma real. Isto significa possuí-la administrando nossas atividades de modo a podermos pensar em coisas além daquelas exigidas por nossas necessidades básicas. A responsabilidade do exercício democrático é muito grande. Nossas obrigações familiares, como educadores, exigem que aprimoremos  nossa formação de modo a podermos transmitir a nossos filhos idéias, instruções e culturas decentes.
  Ter liberdade é algo que poucos percebem. Na juventude ela parece natural mas, sem perceber, gradativamente arriscamo-nos a perdê-la. Escola, casamento, emprego, filhos e vícios transformam muitos seres humanos em autômatos e em cidadãos alienados.  Precisamos conciliar a vida a nossas obrigações básicas de modo a poder desenvolvê-la com dignidade. Quando novos lutamos pelos direitos dos adultos, lá chegando deixamo-nos prender por diversos  compromissos que poderão  levar-nos à mediocridade, a prisões insidiosas.
  O exercício da liberdade de lutar por sua subsistência, do direito de formar sua família e de trabalhar, própria do adulto, é o espaço que o jovem conquista gradativamente. Se os pais têm uma missão na vida é educar seus filhos para explorar seus espaços com eficácia e responsabilidade. Os pais são os pássaros que olham anciosos seus filhotes baterem asas, treinarem saltos, planarem e finalmente voarem para suas vidas e seus amores. A cada movimento o receio de um tombo. O medo de alguma armadilha que destrua seus filhotes...Voando vêem a vastidão do Mundo, os grandes espaços e também seus predadores. Os mais experientes sabem quanto de sorte e luta foi necessário para sobreviverem.
  A mente humana rejeita limites. Seu desenvolvimento é produto de um instinto aventureiro, pesquisador, questionador. A curiosidade do ser humano levou-o a cruzar oceanos, a voar pelo espaço e procurar em desertos tesouros que ficaram depositados nos cofres de nossa cultura. Graças à vontade de ser independente as tiranias caíram, os ditadores tremeram.
  Lutar pela liberdade é não aceitar o império do dinheiro. Todo indivíduo tem direito a uma vida digna desde que honestamente dê sua contribuição à sociedade. Lutar pela liberdade é não aceitar patrulhamentos, censuras ideológicas, restrições religiosas e raciais.
  Ser livre é querer pensar e colocar como diretriz suas próprias convicções, não renunciar ao direito de raciocinar. Ser livre é ter disposição para a luta. Estar disposto a pagar o preço da independência, resistindo às pressões econômicas e sociais em contrário.
  Ser livre é ser solidário com a Humanidade.
  Ser livre é enfrentar a tirania.
  Ser livre é ser gente.
  Ser livre é ser.
 


  39. Sucesso

  O que sentimos quando vencemos, a glória de chegar à frente em uma competição, ver um filho recebendo seu diploma, o resultado de um trabalho de feito, é o sucesso, o prazer de sentir-se um vitorioso.
  Procurando o sucesso fazemos exercícios para sermos campeões assim como trabalhamos, estudamos e procuramos a melhor namorada.
  Para algumas religiões o sucesso é o sinal da simpatia divina, acrescentando à luta para obtê-lo o fervor religioso, as justificativas para muitas maldades. Povos que aceitam essa visão têm sido bem sucedidos. O culto à pobreza teria sentido diante do Apocalipse, do fim do Mundo. Pregar a renúncia é pretender a miséria. O sucesso, fruto de muito trabalho, é válido, justo, desejável. De qualquer forma é reconfortante e saudável sentir-se vitorioso.
  O vencedor passa a ser paradigma para muitas pessoas, ganha a responsabilidade de ser modelo para muitos que começam suas vidas, principalmente os jovens sempre anciosos para firmar suas posições. A responsabilidade de um campeão é algo que talvez passe despercebido a muitos publicitários e jornalistas. Vemos com apreensão a divulgação de aspectos negativos de grandes ídolos do esporte, por exemplo. O que estará passando na cabeça de milhões de crianças? que será preciso imitá-los para conquistar a mesma glória? com certeza muitos, não poucos, tomarão aqueles detalhes como parte de um conjunto de atributos para serem vencedores.
  Ser um vencedor é uma meta de qualquer indivíduo.
  Como administrar esta vontade sadia de pessoas que iniciam sua vida adulta? ter o que como referência de sucesso?
  Antes de mais nada não devemos nos esquecer que a vida passa. Aqueles que tiverem saúde chegarão a quase um século de vida. Em algum momento desta trajetória deixarão de ser os primeiros, os campeões. Como planejar esta carreira?
  O sucesso é uma condição passageira. Conquistamos em determinada atividade, ela termina, consagra-se o campeão. E depois ? devemos sempre estar preparados para compreender as oscilações da vida. Precisamos aprender a aceitá-las para não sermos destruídos nos momentos piores. As oportunidades se sucedem. Podem mudar de campo mas sempre estarão aí para quem tiver competência, capacidade de trabalho e vontade de lutar. Empresas passam mas o espetáculo continua. No circo da vida há muitos papéis disponíveis. O público das arquibancadas aprecia variedades.
  O importante é entender que outras situações acontecerão. Não tem sentido incomodar-se além do mínimo necessário com qualquer coisa da vida. Nem futebol, nem profissão nem a própria vida deverão perturbar-nos além da nossa capacidade de ação. Problemas sem solução resolvidos estarão.
  É terrível observar companheiros lamentando a falta de sorte, o leite derramado. O resultado de qualquer luta é a vitória ou a derrota. Nas disputas crescemos ou desaparecemos mas nelas poderemos mostrar nosso valor. É a têmpera que dá a dureza do aço, do ser humano. Enfrentar a própria sorte é atributo dos fortes. Resistir, crescer nos momentos difíceis, aprimorar-se é o desafio que nos propomos vencer para merecermos, mais adiante, ter sucesso pelo qual batalhamos.
  Há muitas maneiras de sentir o sucesso. Tudo depende de nossa cultura, índole e oportunidades. O maior será sentir-se feliz. A felicidade é um estado de espírito fantástico. Genial é ver como as pessoas mais simples conseguem conquistá-la em meio a tantas adversidades. Ela marca a ingenuidade dos menos inteligentes e a extrema inteligência dos mais sábios. Nesses dois limites veremos como se conquista a felicidade em coisas simples, naturais, tão próximas.
  A inteligência mediana é suficientemente grande para perceber os grandes desafios da natureza e assim pretender enfrentá-los. Infelizmente, ainda pequena para vencê-los, com freqüência é derrotada. O resultado é a frustração, a infelicidade.
  O sucesso é um momento de grande prazer. Saboreá-lo embriaga, inebria.
  A preocupação com o sucesso tem base em nossos instintos mais elementares. A conquista da parceira(o), do espaço vital, do alimento é uma disposição  natural em todos os animais. O espírito competitivo é uma conseqüência disso tudo. O sucesso será também a conclusão com êxito de todos esses processos, desafios. Simples mas naturais, são importantes e até necessários por serem instintivos.
  À medida que mostramos resultados crescemos na admiração de muitos e na inveja de outros. O pior aspecto da frustração dos derrotados é o poder de calúnia e difamação. Em nosso país, onde a liberdade de imprensa confunde-se com o direito que jornais e jornalistas têm de dizer o que bem entenderem de qualquer pessoa ou empresa, os riscos são enormes. A nossa Justiça é cara, lenta e pouco eficaz. Pessoas que se destacam devem acostumar-se à idéia de serem objeto de atenções pouco lisonjeiras de pessoas frustradas.
  O importante para um cidadão civilizado, decente, é fazer bom uso do sucesso. O crédito conquistado deverá ser usado para melhorar a sociedade, o povo. Sabemos quanto falta fazer para que mereçamos o crédito de nação responsável, evoluída humanisticamente. Um simples passeio por qualquer cidade brasileira mostrará quanto falta corrigir. Desde a questão habitacional, a criança de rua até o simples problema da inexistência de calçadas  (quando existem são  impraticáveis), mostra o quanto estamos atrasados. No exercício da cidadania agradeceremos ao Criador ter-nos permitido ser vencedores, campeões. Devolvendo em ações positivas mostraremos ter merecido as glórias recebidas.
  O sucesso é pois uma grande responsabilidade. Tendo-o teremos o compromisso de maximizarmos os benefícios da autoridade conquistada.
  Sem respeito pela Humanidade, sem a extensão do sucesso a outros, ele terá sido estéril, limitado ao que o motivou.


  40. Sonhos

  Dizem os especialistas que sonhar é necessário e saudável. Acordamos sabendo que dormíamos, que aquelas imagens e sons eram imaginação nossa. Logo as esquecemos. Na maioria das vezes não as lembraremos ao acordar. Foram, contudo, importantes para o equilíbrio emocional da pessoa. De tão importantes fazem parte de nosso “hardware”...
  Livros e livros já foram escritos querendo decifrar essas estórias noturnas. Muitos povos lhes deram grande significado. Os sonhos de reis e sacerdotes governaram guerras, casamentos, disputas.
  E acordados continuamos tendo nossa imaginação funcionando. Nossos pensamentos ficam vendo paisagens, debates e amores fictícios. Rostos queridos ficam perto de nossos beijos, seus corpos juntos aos nossos, suas palavras em nossos ouvidos, seus perfumes nos envolvendo em doces ilusões...
  Em matemática denominamos a isso simulações. Experimentamos idéias mentalmente. Verificamos se teriam chances de darem certo, de funcionarem.
  Não podemos perder esta capacidade, precisamos estimulá-la. A criatividade é conseqüência da capacidade de sonhar. Sonhando construímos catedrais, fomos à lua, atravessamos oceanos. As primeiras idéias e propostas mais pareciam obra de loucos. A persistência de muitos aventureiros, cientistas e engenheiros fez acontecer tantas aventuras  maravilhosas. 
  Podemos perder pontos quando os sonhos fogem ao nosso controle. Perdemos capacidade de concentração. As aulas ganham imagens distantes do programa, da fala do professor. Vemos e ouvimos o que sonhamos, não o que o mestre apresenta. Transportamo-nos para mundos distantes perdendo contato com o presente. Arriscamo-nos a perder aqui, sonhando lá. Mas sonhar, imaginar é parte essencial do empreendedor, do cientista, do filósofo, do artista e do amante...
  A vida é dura por si só. Atenuá-la com pensamentos agradáveis em torno de uma música romântica, passeando por um jardim, observando uma flor é saber entorpecer sem vícios, é “viajar” sem drogas.
  Desde pequenos deveremos estimular nossa capacidade de sonhar. A leitura de livros é um excelente exercício neste sentido. A falta de imagens concretas, a comunicação restrita a palavras permite-nos imaginar cenários, personagens. Desenvolvendo-os ativamos nossa capacidade geradora, inventiva. A música instrumental, de uma forma ainda mais profunda, exige concentração e capacidade de sonhar, produzir estórias.
  Um dos erros de muitas escolas é a famosa apostilha. “Mastigam“ as questões para os alunos. O estudante deixa de pesquisar, de ler livros e neles encontrar as respostas que procura. Não usa sua imaginação para encontrar soluções. Afinal o vestibular é um teste de memória, pouco de raciocínio. Compensa orientar o aluno ao processo pavloviano de ação e reação programadas. A introjeção deste processo e sua consolidação poderá custar caro ao futuro profissional. A mediocridade será o preço pelo vestibular fácil.
  As escolas, de uma maneira especial, deveriam ensinar seus alunos a sonhar. Eles deveriam ser desafiados a sonhar acordados em quadros, danças, músicas e poesias.
  O grande sonho da humanidade é viver em mundo rico, feliz, saudável.
  Não podemos perder estes objetivos, esta vontade que John Lennon imortalizou em sua canção “Imagine”.
  Sonhar com a vida significa estimular nosso cérebro à luta. Sentimos nossos impulsos rumo ao desconhecido, à aventura. Procuramos soluções para problemas que nos afligem, vencemos tabus, superamos  barreiras.
  Muitos povos talvez não tenham progredido por sonharem pouco, por não virem forças para dominar demônios, pajés e ambientes hostis.
  Sonhando poderemos encontrar caminhos desconhecidos que nos levarão a uma vida melhor.
  Sonhar não é iludir-se. Não é fugir à verdade. É procurá-la de uma forma otimista, positiva.
  A verdade é o fermento dos sonhos à medida que a procuramos corrigir. Revoltando-nos contra situações que entendemos serem negativas, começamos a imaginar alternativas, soluções. Nossos revolucionários devem ter sido grandes sonhadores. Em seus pensamentos viam a possibilidade de conquistarem um Mundo melhor. Puseram em prática as teorias desenvolvidas em horas de devaneios, simulações. Transformaram suas nações a partir de imagens criadas em seus cérebros.
  A Humanidade deve muito a sonhadores que tiveram a coragem de por em prática seus melhores pensamentos.


  41. Uma proposta de vida
 
  O grande desafio da vida é conciliar o sucesso com a felicidade. Ser bem sucedido na vida profissional ou política exige grande dedicação, disciplina e competência. O trabalho duro é a melhor receita para quem quizer a vitória. A menos que tenha nascido em berço de ouro ou privilegiado por qualidades excepcionais, o sucesso só virá como efeito de uma vida dedicada e de grandes lutas. Já a felicidade está no caminho de uma vida mais lúdica, sensual, instintiva. Atendendo a ordens do coração poderemos ter grandes paixões, amores inesquecíveis. Fugindo a responsabilidades teremos a liberdade de rejeitar famílias, amigos e companheiros para seguir caminhos de muitos prazeres. O risco será chegar a um momento de frustração. A felicidade assim conquistada consome-se rapidamente. A alegria de viver é como ver a diferença das cores fortes e a harmonia das imagens suaves. A harmonia gera prazeres sutis, menos cansativos e mais duradouros.
  Viver pouco tempo no máximo do prazer ou em um  ritmo frenético de trabalho é possível, o preço é o resto da existência comprometida com seqüelas nem sempre suportáveis.
  Se existe algo difícil a um jovem é estabelecer limites a si próprio. Aprender a fazê-lo é amadurecer. Saber aceitar desafios inteligentes é privilégio dos melhores. Lutar pela vida produtiva é obrigação de todo aquele consciente de sua cidadania e missão. O Grande Arquiteto do Universo colocou em cada um a missão de aprimorar a vida e mantê-la com dignidade. A inconsciência deste propósito leva inexoravelmente ao esvaziamento de propósitos, à ausência de objetivos decentes. Viver para o prazer é perder a capacidade de tê-lo nos momentos oportunos.
  Na vida política e social é fundamental não se deixar dominar pelas banalidades do processo. A coerência ideológica e filosófica é importante para os ajustes de trajeto quando necessários. Quem não têm rumo não terá correções pois estará perdido por princípio.
  Em tudo é fundamental não ignorar a  natureza humana, sedenta de direitos e omissa em seus deveres. Em especial nós brasileiros vivemos uma cultura em que tornou-se hábito jogar no governo a culpa de todos os males que vivemos. É confortável fugir à responsabilidade. Coitadinho  do miserável, do  bandido, do desempregado. Poucos têm coragem de falar nas causas reais de tanta pobreza. Talvez por efeito de séculos de escravatura e de elites selvagens, temos hoje a visão negativa dos mais ricos e empreendedores, olhando com misericórdia os menos  favorecidos. Está na hora de falarmos em maior responsabilidade familiar, planejamento, educação em casa, iniciativa, voluntariedade, disciplina e seriedade acima de tudo. Precisamos mudar a visão que fazemos de todos nós. Cobrando-nos resultados veremos  um Brasil melhor.
  Sem piedade precisamos ser duros em nossa própria visão. Estabelecendo-nos desafios e trabalhando com firmeza só ganharemos. Na juventude, os primeiros anos de vida adulta são plenos de saúde, de vitalidade que precisa ser bem usada. O desperdício pesará duramente no futuro. É fantástico chegar à meia idade com a sensação do dever cumprido, sabendo que se fez o possível.
  Na vida religiosa e política ter cuidado com o fanatismo, as convicções, as certezas odiosas. Qualquer idéia que leve à violência deve ser tratada com muito  cuidado. Devemos pensar dez vezes mais antes de qualquer agressão. Cuidado com o pensamento rápido, a expressão fácil. Ficar calado é uma virtude se o silêncio for gasto para pensar, ponderar e, adiante, agir com firmeza, objetividade e justiça.
  A família, os filhos são nossa principal responsabilidade. Quem não souber educar e sustentar seus dependentes pouco direito terá a qualquer manifestação. A grande demonstração da felicidade e do sucesso inteligente está em casa. Deve-se duvidar dos projetos daqueles que não criam uma família  feliz e harmônica. No  mínimo poderão ter falhas muito graves de estruturação filosófica. É sintomático que muitas religiões têm sido causa de enormes sofrimentos. Conduzidas por pessoas que se impediram a ter famílias,  têm em seus líderes indivíduos distantes da realidade.
  O amor é a principal base da felicidade. O sentimento egoísta, obsessivo e alienante não é amor. Precisamos aprender a amar em todas as suas formas. A vida sexual, a caridade, a responsabilidade social e política geram formas de amor importantes. Tê-los é enriquecer a vida em todos os seus aspectos.
  A liberdade com responsabilidade é essencial a uma vida digna. Saber respeitar o direito do próximo é imperativo em uma sociedade civilizada. O Brasil, infelizmente, está longe desse ideal. Em qualquer lugar podemos notar selvagens exibindo sua ignorância. Mudar esses padrões é um compromisso de cidadania que devemos ter em nossas mentes e atitudes.
  Preservar a liberdade é um compromisso do ser humano racional. Só quem viveu sob censura, patrulhamentos ideológicos e morais sabe como é odioso suportá-los. A arrogância e estupidez dos censores não têm limites. O poder na mão de pessoas medíocres é estúpido, inaceitável. Preservar o direito de falar, pensar e de decidir sobre sua própria vida é um direito sagrado. Respeitar esse direito  em todos que nos cercam é sinal de senso de justiça.
  Viver produtivamente é um compromisso com a vida. A ociosidade é criminosa em um Mundo que precisa de tanto para oferecer a todos um padrão minimamente suportável, digno. A cultura, a formação profissional e a saúde só têm sentido se forem base para a ação positiva, produtiva.




  42. Conclusões

  O que reafirmar? o que dizer? basicamente que a vida exige responsabilidade, seriedade e amor.
  Em tudo que realizarmos deveremos fazê-lo com estas preocupações.
  O desafio de existir, produzir e ser feliz exige uma avaliação objetiva de riscos e benefícios, da qualidade de vida necessária e suficiente. Sonhamos com o sucesso e testamos idéias. O perfeccionismo não é prático, inibe a ação. Lutamos contra o medo e a insegurança. Assumimos riscos. Administramos paixões.
  A mediocridade e o medo são os grandes inimigos do ser humano.
  Devemos ter consciência das sutilezas da sociedade em que vivemos, sonhamos e trabalhamos. Saber respeitá-la sem submissão é uma arte que precisamos desenvolver. Não esquecendo a força dos mitos, a inteligência exige uma disciplina crítica e consciente.
  As imperfeições são grandes em nossas estruturas de poder, religião e família. É natural que assim seja pois nossa Civilização é recente, trazemos ainda muito forte os instintos das selvas de que nossos ancestrais saíram. Sendo pessoas imperfeitas naturalmente agiremos de maneira a contrariar os grandes paradigmas, apresentados de forma a não mostrarem suas falhas. Conscientes de nossas limitações teremos nos modelos perfeitos horizontes talvez distantes mas, onde nasce o Sol, o caminho a seguir. Procurando a luz teremos a oportunidade de conhecer a verdade, a lógica da vida. Lembrando sempre que a felicidade e a saúde contribuem para as melhores decisões, não deveremos desperdiçá-las gratuitamente.
  A profissão, o lazer e nossas crenças formam um conjunto que será decisivo em nossa capacidade de sermos felizes. Montar esta base é o desafio dos jovens. Decisões erradas pesarão sobre toda a expectativa de uma vida decente, produtiva e feliz.
  Liberdade sempre com responsabilidade é a principal condição para uma cidadania saudável e essencial ao processo democrático. A educação é responsabilidade sagrada que adquirimos sobre nossos dependentes. Administrá-la de forma consciente e com propósitos de preparação para uma vida séria e produtiva é a principal obrigação de um pai de família, além, é claro, de sustentá-la e protegê-la. Educar para a liberdade, para o exercício da criatividade e independência é algo de grande valor em uma sociedade tão cheia de dogmas. O ensaio de ideologias sem fanatismos é obrigação de indivíduo que deseja participar do processo político. Não podemos esquecer que ninguém é dono da verdade. Por mais evidentes que sejam as imagens, poderão estar iludindo, criando falsos paradigmas, modelos errados. Precisamos de  religiões sem inquisições. O patrulhamento ideológico e filosófico de modo geral é intolerável. A liberdade é um direito sagrado só limitado pela mesmo direito dos outros seres humanos. A consciência e o exercício sadio de nossos deveres e direitos, este é o desafio do jovem, dos pais, da sociedade e humanidade.
  A família é nossa base. Constituí-la de forma sadia e mantê-la com dignidade e amor é o compromisso sagrado de todo ser humano.
  O planejamento familiar, o controle da natalidade, o dimensionamento do time de acordo com suas possibilidades financeiras é um compromisso que se deve cobrar dos jovens. O futuro deles dependerá muito de como administrarem seus hormônios. Se os pais erraram, os filhos não precisarão repeti-los.
  A felicidade conquista-se e mantém-se à medida que se é coerente com a Natureza e suas leis. Grande parte delas ligadas ao espírito e ao comportamento que só os seres inteligentes e sensíveis percebem. A vida nesse universo de tantas maravilhas é um privilégio que recebemos por decisão do Grande Arquiteto do Universo. O pouco de matéria que nos constitui fisicamente tem a capacidade de ver, ouvir, sentir a imensidão de estrelas e areias, do verde das florestas ao azul do céu, de partilhar espaços com animais, plantas e imagens divinas. Somos parte de um todo maior. Nesse conjunto deveremos acrescentar valores, enriquecer essa obra gigantesca e fantástica que é a vida.
  Somos racionais? responsáveis? corajosos?
  Sonhando com um Mundo melhor, mais justo, feliz e amoroso enfrentemos a vida com determinação e disciplina. Assim venceremos, nós, nossos filhos e netos, nosso povo e a Humanidade..
 


  43. Epílogo

  Meus filhos, a minha grande esperança é ter-lhes dado uma imagem do que julguei melhor dizer-lhes. Este livro não é um espelho de minha personalidade ou de minhas atitudes passadas. É, entretanto, o que considerei mais honesto, justo e humano aconselhar-lhes. Não quero que repitam os meus erros. É difícil aceitar orientações, todos queremos fazer nossas próprias experiências. O ideal, contudo, seria que os filhos ouvissem com atenção seus pais para terem a partir deles uma base melhor, amadurecida, sem reincidências...
  Minha geração vivenciou muitas experiências, muitas questões que a confundiram. Assim também errei muito. Aprendi muito e as lições que tão duramente assimilei quis transmitir-lhes.
  Vejo nas netinhas Isabela e Juliana a vida recomeçando. O João Pedro apenas balbucia suas primeiras palavras.
  Tatiana tem o desafio de transmitir-lhes o que aprendeu, eu lhe coloco nas mãos o que pude saber. Eliana e Caio Lúcio terão mais tempo para formar suas famílias e refletir sobre o que escrevi.
  O importante é tentar desenvolver suas vidas de forma consciente, honesta, inteligente, produtiva e com muito amor. Não apenas o amor sexual, mas principalmente aquele mais amplo, decorrente da admiração pela obra do Criador.
  Para todos aqueles amigos, alunos e outros que durante minha vida profissional acreditaram em minhas palavras, que trabalharam, estudaram e lutaram a meu lado espero estar contribuindo com mais alguns conselhos, sugestões de quem já viveu um bocado. Quando me lembro que batalhei na política estudantil na década de sessenta e nessa época tive minhas primeiras salas de aula, vivi os anos setenta com todas as suas pressões políticas, na década de oitenta como professor universitário, militante político e profissional de engenharia levando-me finalmente, nesses últimos anos aos maiores cargos da empresa que me acolheu no Paraná, sinto que tive a oportunidade de ter experiências valiosas. Essa vivência gerou este livro como contribuição, espero,  para uma vida melhor.
  Concluindo, a meus filhos, netos, amigos, ex alunos, companheiros de lutas e trabalhos, o meu pedido para que tenham garra, disciplina, lutem por seus ideais e que procurem conciliar tudo com muito amor. Assim com certeza terão sucesso e serão felizes.


                                                          João Carlos Cascaes

Curitiba, 24 de dezembro de 1995.